sexta-feira, 31 de julho de 2015

quarta-feira, 22 de julho de 2015



O PESCADOR E O CAÇADOR

Crônica de Pedro Salgueiro, em O Povo

Sempre gostei de presenciar o diálogo (até a falta dele, ou uma tentativa que seja) entre forças antagônicas, torcedores de times rivais, ateus e crentes, homens e mulheres, idosos e crianças, quaisquer que sejam as diferenças muito me interessam.

Estes dias fui com meu sogro, que é agricultor e caçador desde menino nos sertões do Ceará, para Fortim, à beira do rio Jaguaribe entrando no mar do Pontal do Maceió. Nada mais estranho pra ele e dona Graça (a sogra) que os costumes litorâneos: de tudo se admiram, da comida, do clima, dos costumes, enfim, do povo praiano.

Mas não se acanham, demonstram vontade de aprender (ou pelo menos entender) esse modo de vida de caranguejos, que vivem fuçando a lama dos mangues, pescando além da risca do infinito mar; com desenvoltura tentam comer de tudo, molham as canelas no branco das ondas, escutam a prosa abundante dos pescadores...

E foi num desses encontros improváveis que pude ver o contraste mais de perto, quase palpável: quando os levei para um bate-papo à tardinha na barraca do seu Dadá e dona Joana, que frequentamos faz quase duas décadas. De início o pescador desde criança, com mais de 50 anos de mar, e o agricultor sertanejo, também caçador desde a meninice, quase não engataram conversa, titubearam aqui e ali em frases vacilantes, encabulados; então articulei algumas perguntas sobre as diferenças dos dois, tipo quem era mais corajoso: se o caçador que passava madrugadas enfurnado nas matas ou o pescador que açoitava as ondas noites afora?
Em poucos minutos já proseavam que nem dois companheiros de infância, tiravam diferenças, até contavam vantagens; porém só me assustei quando eles partiram para falar de assombrações do mar e do mato, cada uma mais cabeluda que a outra.

Mas me levantei da mesa mesmo foi quando os dois desataram a contar causos que juravam ser verdadeiros, e – melhor ainda – todos passados com eles próprios: seu Dadá certo dia pescou duas guarajubas com o mesmo lançamento de anzol – e não se assustem: com o mesmo peso –; já seu Manoel, não ficando para trás, derrubou uma juriti e uma nambu com o mesmíssimo tiro de espingarda...

Senti que era hora de encerrar a conta, pagar a despesa e ir para casa, pois aquela conversa estava ficando perigosa e prometia ir longe.

O ADVOGADO E O PESCADOR

Meu amigo Élder Ximenes era bem jovem quando o levei (com sua inseparável Alexandra) pela primeira vez para comer um peixe na barraca do seu Dadá; o recém-formado advogado, curioso como sempre foi, adiantava perguntas noite adentro, enchendo a paciência do velho pescador: queria saber sobre cada peça do barco, cada detalhe da pesca, como se no dia seguinte tivesse que prestar exame de término de curso naquela exótica matéria náutica.
Já quase no final da conversa, todos já em pé para sair, o garçom recolhendo as espinhas do cangulo, seu Dadá ainda teria que responder a última inquisição do nosso inteligente amigo:

— Pois me diga, seu Dadá, estando seu barco perdido numa noite escura como o breu, em alto mar, com o tempo nublado, como o senhor faria para voltar pra casa?

Pensando que o antigo pescador se sairia com cálculos estrelares aprendido dos avós, rotas nebulosas dos astros celestes, o novo advogado se assustou com a resposta.

— É fácil, meu jovem, eu consulto o meu GPS.

E ainda hoje o ex-poeta Élder X., sobrinho do grande Caetano Ximenes Aragão, balança desconsolado a cabeça quando lembra a improvável resposta do experiente navegador.

Mas não deixa de rir um bocado.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

MIRAVILHA. LIRIAI O CAMPO DOS OLHOS



O poeta Alves de Aquino está entre os melhores e maiores de seu tempo. Coração furioso e apaixonado, inteligência abrasiva e forte sensibilidade literária, vem construindo uma obra única. O professor de filosofia na universidade traz para a sua poesia reflexões sobre a existência, e aprofunda os significados. Brincando com as palavras, segue nos labirintos dos enigmas da sociedade, dos lances da carne e do espírito, da tragédia do cotidiano, da injustiça brasileira, ecoando cantadores repentistas, o pessimismo e o bom-humor de Augusto dos Anjos, uma alquimia à la Guimarães Rosa, mas bem jovem, urbana e contemporânea. É impressionante seu soneto composto de logomarcas e logotipos de empresas como Adidas, Coca-cola, Esso, Microsoft ou MacDonald’s, pela combinação de significados e pela alta voltagem dessa nova língua.

Seus poemas são certeiros, contundentes, perfeitos, com as rimas mais inesperadas (pincher com clinch, gancho com desmancho, chove com 29, ou disparates com amostra-grátis), cheios de surpresas, elegância e delicadeza de sentimentos e expressão, mesmo nos mais impetuosos versos. Alves de Aquino carrega o eu e a voz de uma poesia combativa, que está se inovando na mesma velocidade das máquinas contemporâneas.


Ana Miranda
(em texto da orelha do livro)

CEARÁ É O PRIMEIRO ESTADO A RECEBER A CARAVANA DAS ARTES DA FUNARTE

Em parceria com a Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult), a Fundação Nacional das Artes (Funarte) realiza na próxima terça-feira, dia 21, em Fortaleza, o primeiro encontro da Caravana das Artes no País. A ação envolve uma série de debates que o Ministério da Cultura (MinC) e a Funarte farão nas 27 unidades da Federação, com o objetivo de coletar contribuições da sociedade civil para a construção da Política Nacional das Artes (PNA). Na Capital, serão realizados ao longo dia encontros específicos para levantar e debater propostas de políticas públicas para as artes visuais, dança, circo, literatura, música e teatro.

A abertura do evento será às 10h, no Teatro Dragão do Mar. A solenidade de abertura contará com a presença do presidente da Funarte, Francisco Bosco, do diretor do Centro de Artes Cênicas da Funarte, Leonardo Lessa, de representantes das secretarias estadual e municipal de Cultura e de outras autoridades locais. O artista plástico Yuri Firmeza foi convidado para fazer uma palestra sobre os desafios da política para as artes contemporâneas.

Francisco Bosco explicará como está sendo desenvolvido o processo participativo da elaboração da PNA, que parte dos estudos e discussões realizados nos últimos 10 anos pelos Colegiados Setoriais, formados por técnicos do Ministério da Cultura (MinC) e representantes da sociedade civil. A PNA deverá se constituir em um conjunto de políticas atualizadas, fundamentadas e duradouras para as artes no País.

No período da tarde, das 14 às 18h, serão realizadas seis reuniões separadas com artistas e produtores culturais, para debater propostas para as seis linguagens artísticas. As discussões serão conduzidas por um grupo de articuladores escolhidos pelo MinC pela competência e atuação profissional na articulação e no debate político no campo de suas respectivas linguagens. São eles:  Cacá Machado (música), Jacqueline Medeiros (artes visuais), Júnior Perim (Circo), Marcelo Bones (Teatro), Rui Moreira (Dança) e Sérgio Cohn (Literatura).

"Cada articulador do PNA será responsável por coordenar os encontros, as rodas de conversa que vão discutir, a partir dos planos setoriais de cada área, as propostas e necessidades das artes contemporâneas", informou a articuladora Jacqueline Medeiros, que atua e conhece o cenário cultural cearense.

Nas próximas edições da Caravana das Artes, além dois seis articuladores escolhidos pelo MinC, também estarão presentes seis consultores, que estão sendo selecionados por meio de edital da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Em função do grande número de inscritos, a seleção dos consultores ainda está em processo. 

Além das caravanas, a participação da sociedade civil se dará ainda nas contribuições via internet na plataforma www.culturadigital.br/pna, nos encontros setoriais e nos seminários temáticos que farão parte da construção da Política Nacional das Artes. 

Seminário "Participação Social 
na Gestão Cultural" com
Vinicius Wu

Além da Caravana das Artes da Funarte, também no dia 21 acontecerá o "Seminário Participação Social na Gestão Cultural", da SAI/MinC, das 18h às 21h, com a presença de Vinicius Wu, Secretário de Articulação Institucional do Ministério da Cultura. Será apresentado a proposta e o calendário do processo Eleitoral do CNPC, para renovação dos Colegiados Setoriais e representantes da Sociedade Civil das áreas técnico-artísticas e do Patrimônio Cultural no Conselho Nacional de Política Cultural – CNPC, para o período de 2015 a 2017, por meio dos Fóruns Nacionais Setoriais, que serão realizados de maneira descentralizada e presencial. O Seminário ocorre no Teatro Carlos Câmara, logo após o fim das atividades da Caravana da Funarte.


SERVIÇO:

CARAVANA DAS ARTES NO CEARÁ

Abertura:10h 
Local: Teatro do Centro Dragão do Mar

Reuniões para debater propostas para as linguagens artísticas - 14h às 18h 

Artes Visuais
Local: Cento Cultural Banco do Nordeste (Rua Conde D'eu, 560, Centro)

Circo
Local: Casa Juvenal Galeno (na Rua Gen. Sampaio, 1128)

Dança
Local: Vila das Artes (Rua 24 de Maio, 1221, Centro)

Local: Espaço Estação, na Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel (Rua 24 de Maio, 60, Centro)


Música
Local:  Museu da Indústria (Rua Dr. João Moreira, 143 – Centro)

Teatro
Local: Teatro Carlos Câmara (Rua Senador Pompeu, 454 - Centro)
Seminário Participação Social na Gestão Cultural
Das 18 às 21 horas
Local: Teatro Carlos Câmara (Rua Senador Pompeu, 454 - Centro)
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