sexta-feira, 29 de novembro de 2013



Próximo sábado, dia 30-11, às 15hs, na Casa de Juvenal Galeno, na reunião da ACE – Associação Cearense de Escritores - será realizado o lançamento do livro Paradoxo no cárcere, do escritor Cornellius Okudili Ezeokeke. Segundo livro deste autor que é formado em filosofia e teologia, Paradoxo no cárcere narra as verdades das vidas humanas no cárcere. O livro será apresentado pelo diretor de eventos Silas Falcão.

Contamos com sua presença.




quinta-feira, 14 de novembro de 2013



A Poesia de Márcia Lio Magalhães

                                         
Fim de tarde, silêncio de um sol brando eu me volto para minha interioridade. Entrego-me à reflexão para falar de poesia — gênero que não domino. Sou um viajante do semiárido brasileiro que nas horas vagas ousa transitar pela prosa enquanto invejo os poetas. Pois não sou dos mares, dos céus, dos sonhos; senão um atuante das secas. Um homem da caatinga e dos cactos (xique-xique, mandacaru, facheiro...), dos juazeiros e assemelhados a serviço da prospecção de água para dessedentar os sofridos irmãos nordestinos. Mas depois de ler A Pele Que Habito, de Márcia Lio Magalhães, não me contive. E assim largado dos meus sóis e de meus personagens hilários do cotidiano a que assisto e crio, lanço-me neste abismo azul de substância infinita, a banhar de luz o espírito dos vates. Arrisco-me nesta resenha penetrando as profundezas das melodias das manhãs de setembro, das primaveras e seus jardins, dos invernos frios de solidão, dos outonos das árvores cobertas de folhas que esmaecem e caem no encantado chão de Márcia Lio.

        A Pele Que Habito é uma obra eivada de sentimento, extensão e fluidez; intrínseca do corpo que fala desnudando por completo a alma da autora. Tecida por palavras mágicas e sonoras que transbordam amor a revelar seus mistérios. Colhi nos versos de Márcia um enfoque social e humano, onde há compaixão: o conhecimento da dor alheia. Vi no amor dos amantes esta força infinita que rege o mundo em sua mais ampla dimensão. Assim como detectei a coragem das emoções vivenciadas nas esperanças da conduta humana. E mais: o antagonismo entre o prazer e a dor no trânsito da saudade; a angústia colocando o homem diante de si mesmo enquanto ser cósmico que o é a compreender sua existência; o amor acompanhado de excitação e desejo. É que no domínio de seus versos a autora confere, decodifica, interpreta e analisa o afeto em todos os sentidos. Faz, com extrema sensibilidade, sua arte fluir entre o criador e a criatura, numa atividade lúdica a nos revelar o romantismo de um olhar atento, expressivo, fascinante do particular modo de se expressar. Lembro Fernando Pessoa: “A espantosa realidade das coisas é a sua descoberta de todos os dias”.

Através do mundo poético a autora se veste de poesia fazendo dela sua própria pele. Um poder que só a poesia o tem. Márcia nos convida a mergulhar em suas fronteiras de brancas brumas, a velejar em arco-íris melodioso, a voltar o olhar para várias regiões contempladas pelo coração. Tudo elaborado como prova da luz e da razão que nela brotam.
Parabenizo Márcia Lio por A Pele Que Habito erguendo um brinde e convidando o leitor a beber deste cálice transbordante de encantadores versos.

Bernivaldo Carneiro
Geólogo-sanitarista e Escritor.







quinta-feira, 7 de novembro de 2013

TRÊS NOTÍCIAS LITERÁRIAS


 
 Crônica de Pedro Salgueiro para O Povo


DIDEUS SALES
Soube, através de amigos, que o poeta Dideus Sales estaria em Fortaleza para lançamento de livro sobre Luis Gonzaga; o local - mais que aprazível - seria o projeto Bazar das Letras do SESC, capitaneado pelo meu amigo Carlos Vazconcelos, que competentemente conversa todo mês com um escritor cearense ou de outros estados sobre literatura; depois (quando são autografados os livros, sempre com um preço bem convidativo) desse diálogo agradável o leitor tem oportunidade de “trocar umas idéias” com o autor convidado, assim como reencontrar amigos, rever colegas escritores.
Do poeta Dideus tenho notícias desde criança, quando ouvia a Rádio Educadora de Crateús, onde ele já era um dos apresentadores de destaque. Com o passar dos anos, através de amigos comuns, fui sabendo das façanhas, livros e versos do poeta (isso também só fiquei sabendo depois) natural de Independência (a velha Porronca). Como não o conhecia pessoalmente fui lá prestigiá-lo, esperando encontrar um senhor de idade avançada, cabelos embranquecidos pela cal do tempo; e que surpresa: todo fagueiro no palco recitando cordéis, contando piadas, um sujeito de minha idade, gordinho feito eu e com o nosso inconfundível sotaque de matuto dos Inhamuns. Depois da apresentação, trocamos um abraço de velhos “conhecidos” e, ao ouvir minha surpresa com sua jovialidade, se saiu com esta: - É que eu comecei novo no rádio! Mal tinha completado 15 anos já estava no “batente”...
Semanas depois, a gulosa turma dos Poetas de Quinta estava comendo uma galinha pé-duro na longa mesa de sua casa em Aracati, visita que ele retribuiu (ao Fortim) logo no dia seguinte. Encontros regados a cerveja e poesia popular da melhor qualidade.
ONDJAKI
Esta semana esteve em Fortaleza um dos melhores escritores de língua portuguesa da atualidade: o jovem angolano Ondjaki, que eu já conhecia de livro (havia lido sua coletânea de contos Quantas madrugadas tem a noite) e, pasmem!, até já havia publicado, alguns anos atrás, um conto dele em nossa revista Caos Portátil, trazido por Jorge Pieiro de uma de suas estranhas viagens por Panaplos e arredores. Curioso, convidei amigos e fomos assistir ao bate-papo do colega africano com a escritora paulista (radicada em Fortaleza) Nina Rizzi e a competente professora da UFC, Fernanda Coutinho. A inexplicável pouca presença de público não foi entrave para a agradável noite. O talentoso escritor foi falando sobre tudo, de sua infância na pátria já liberta das garras coloniais, de seu fazer literário e de sua inspiradora avó (a mesmíssima de AvóDezanove e o segredo do soviético e outros livros seus).
Ao lado do auditório do BNB (agora funcionando no Centro de Referência dos Professores, ali onde já foi o velho Mercado Central), fomos tomando conhecimento de outros livros do escritor: Aprendisajens com o xão (poesia), A bicicleta que tinha bigodes e o recente Uma escuridão bonita (infanto-juvenis, mas não só, maravilhosamente ilustrados por Antônio Jorge Gonçalves). De noite ficou o convite para que assistíssemos no dia seguinte, no Sobrado José Lourenço, ao documentário sobre Luanda Oxalá cresçam pitangas.
E o bate-papo, o documentário e as conversas posteriores deixaram em nós um gostinho de quero mais, uma curiosidade de maior conhecimento não somente sobre o autor, mas sobre esse país tão parecido com o nosso, sobre esse povo tão alegre e sofredor como o nosso; também deixou em mim uma saudade dos anos 1980, quando eu dava meus primeiros passos literários e tomei conhecimento de Angola através de um de seus maiores escritores: José Luandino Vieira, de quem me tornei leitor fiel e admirador incondicional.
               MILTON DIAS
 
A melhor notícia que poderia ter a literatura cearense este ano (dos 30 anos de ausência do fundamental escritor de As cunhãs) foi a de que finalmente o romance perdido de Milton Dias vai ser publicado. Desde os anos 1990 que ouço falar no misterioso A senhora da sexta-feira, deixado inédito pelo famoso cronista. Várias vezes perguntei ao amigo Sânzio de Azevedo sobre o livro, se ele tinha notícias, se havia lido... Ele me respondia que apenas tinha ouvido vagas notícias. De Milton Dias tive o prazer de ainda ser leitor de suas crônicas no jornal O POVO, bem antes de sonhar em escrever; depois tive também o prazer de ler seus livros, desde o póstumo Relembranças aos mais raros, adquiridos em sebos (alguns até com seu autógrafo).
Finalmente, e após três décadas, vamos ter a oportunidade (e o prazer) de ler aquele que foi o “canto do cisne” de Milton Dias, seu livro inédito dado até pelos amigos mais próximos como perdido: sei apenas que ele conta a curiosa história de uma bem casada jovem, que se chama Mafalda, da alta-sociedade, e que ela misteriosamente morre na casa de um suposto amante... de mais não sei, e se soubesse não contaria. Pois quem quiser saber vá quinta-feira próxima (dia 7 de novembro), às 19h, ao Ideal Clube, onde o livro será lançado.
 

sábado, 2 de novembro de 2013

MARÍLIA ARNAUD, PEDRO SALGUEIRO E RINALDO DE FERNANDES COMENTAM O LIVRO "OS DIAS ROUBADOS", DE CARLOS VAZCONCELOS.




"O complexo narrador-autor desta obra instigante vai — trazendo sempre junto o leitor — construindo (ou seria desconstruindo?) suas prisões exteriores e, principalmente, interiores. Texto de fôlego do contista de Mundo dos Vivos, que, pouco a pouco, pedra a pedra, vai fincando seu nome neste solo tão árido da Literatura Cearense."
PEDRO SALGUEIRO

"O romance de Carlos Vazconcelos é agudo na temática e bem elaborado na forma, com uma técnica inventiva. No final é que é revelado, por meio de um “posfácio” produzido por um dos organizadores do volume, que a narrativa que lemos (fragmentada, e o recurso soa perfeito, por conta do arranjo que foi possível ser montado pelos organizadores do material recolhido) se trata na verdade da autobiografia do protagonista, que, na prisão, e fazendo de tudo para preservar seus papéis, seus manuscritos, tornara-se escritor. Tornara-se escritor para denunciar a injustiça que o fez padecer durante quinze anos – e que, liberto, não o recompôs como indivíduo, fraturou de vez sua identidade."
RINALDO DE FERNANDES

"Carlos Vazconcelos, grata pelo arrebatamento que você me proporcionou com o seu OS DIAS ROUBADOS, que li duas vezes (a primeira em algumas horas; a segunda, pausadamente, em pequenos bocados). O narrador e protagonista sem nome é um homem que, tendo passado quinze anos atrás das grades por um crime que não cometeu, desaprendeu seu lugar no mundo. Assombrado pelo passado, destila sua angústia existencial em escritos que o transformarão em celebridade. Realidade e fantasia, sonhos e lembranças misturam-se vertiginosamente no relato desse homem que, privado da voz, faz da palavra sua vingança. Um texto vigoroso e sofisticado, que revela um escritor dotado de sensibilidade e consciência literária. Um escritor em sua plenitude. Aceite meu encantamento."
MARILIA ARNAUD