sábado, 27 de abril de 2013


EDITAL DA PETROBRÁS
A escritora cearense Tércia Montenegro é uma das ganhadoras do Edital da Petrobrás.

Nome do Projeto: TURISMO PARA CEGOS
Protocolo: 485
Proponente: Tércia Montenegro Lemos
Gênero: Ficção
Estado do Proponente: CE
Resumo do Projeto: Romance em que a protagonista, Laila, é uma artista plástica que se aprofunda em experiências conflituosas, enquanto lida com uma doença que a faz progressivamente perder a visão. O foco da narração se situa numa personagem secundária, uma moça que trabalha na clínica veterinária onde Laila e Pierre (seu companheiro) adquirem um cão-guia. A moça torna-se confidente de Pierre e consegue, com os episódios por ele descritos e mais outras cenas imaginadas, reconstruir a relação amorosa que ele teve com Laila. O título questiona as possibilidades de aproveitamento dos sentidos humanos dentro da viagem que é a própria vida.

TODOS OS POETAS DE QUINTA PARABENIZAM A TÉRCIA MONTENEGRO

quinta-feira, 25 de abril de 2013


HENRIQUE BELTRÃO é poeta, compositor, radialista, professor da UFC. Publicou os seguintes livros de poemas e canções:Vermelho (2007)Simples (2009). Produz e apresenta os programas TODOS OS SENTIDOS e SEM FRONTEIRAS: PLURAL PELA PAZ.
Simples, de Henrique Beltrão, é um livro onde palavra, amor e amigos parecem sinônimos de longa data. O poeta, como lhe é peculiar, derrama gestos amorosos em tudo que (o) toca: pessoas, palavras, parceiros. Essa irmandade confere ao livro uma sintonia única entre suas partes, que conversam entre si como notas numa música. SARAH DIVA (professora de Literatura da UECE)

Henrique Beltrão solta seu recado no ar amplificando os poderes do cantar. Viajante do infinito pensamento, pois ele sabe muito bem morar no silêncio potente da palavra. FÁTIMA SOUZA (Mestre em Literatura pela UFC)

Devem-se folhear as páginas dos livros de Beltrão como quem descerra janelas, de par em par, e espera não menos que a simplicidade da brisa, a integridade dos raios de sol, a beleza cotidiana do dia. O poeta passa ao largo dos spleens tão em voga nestes tempos ditos pós-modernos. Para ele poesia é celebração, de si, do outro, do mundo de fora e de dentro. Então construí um poema de vidro./Se o puseres ao sol verás a riqueza de suas matizes. CARLOS VAZCONCELOS (Escritor)

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Agradecemos aos amigos Bernivaldo Carneiro e Anastácia a repetida gentileza com que receberam os Poetas de Quinta para mais um final de semana agradabilíssimo em seu sítio. Descontração. Boemia. Literatura. Fofoca da vida. Piadas desgastadas e ingênuas. Tira gosto no sabor. Piscina. Sinuca e doação de livros, principalmente pelo Pedro Salgueiro, foi o cardápio do final de semana.
                                     

Quinta feira, 18 de abril, na Semana do livro em homenagem a Monteiro Lobato, o SESC realizou na Biblioteca Rachel de Queiroz, o Conversa com o escritor. O poeta Frederico Régis foi o convidado. Mediado por Silas Falcão, esse evento tem como publico alvo os frequentadores da Biblioteca.



A CARTOMANTE

Bernivaldo Carneiro

Sempre que Azarzim lia o panfleto: Irmã Dragnólia traz a pessoa amada em três dias, era tentado a “tirar onda” com a tal mulher. Um dia vestiu-se de coragem entornando uma garrafa de “Passaporte pro Além” — a mais forte pinga da praça. Dois passos para frente, um para trás e, por fim ajudado pelo segurança da Cartomante, venceu a escada de 18 degraus de um único lanço que desembocava direto na porta da sala da bola de cristal das adivinhações, dos búzios das mandingas, dos tarôs e dos feitiços. E foi com a boca cheia de língua que Azarzim, disse: “Sei que sua especialidade trafega caminho oposto às minhas pretensões, mas se é que é possível me diga em quantos dias a senhora devolve minha ex-amada ao seu ex-marido?”.
Bastou um gesto cheio de caráter da cartomante ao segurança. Azazim acordou dois dias depois na UTI da traumatologia do Frotão, envolvido por gazes, gesso e com as pernas para o alto, tracionadas por ferros e correntes.

sexta-feira, 19 de abril de 2013


O FUTURO DO MERCADO EDITORIAL: UM PEDAÇO DE TRIPA

(HOMERO GOMES)
 


Livros se vendem muito no Brasil. Os números abaixo não dizem outra coisa. No final da década passada, a Editora Sextante vendia, em média, 60.000 exemplares por título e, em sua trajetória, já vendeu mais de 30 milhões (2 milhões e 500 mil livros por ano, em média). Em 2009, por exemplo, esse número foi parar em mais de 7 milhões. Ela e sua coligada intrínseca venderam juntas mais de 10 milhões de exemplares de Crepúsculo e A Cabana. Em 2012, Ágape, do Pe. Marcelo Rossi, repetiu o prodígio. O que se sabe é que as duas venderam, na primeira década deste século, mais do que qualquer outra editora do país.

Visto objetivamente, os dados acima impedem qualquer acusador de plantão de afirmar que o brasileiro não compra livros. Se lê o que compra é outra questão. Subjetivamente, regionalmente e considerando os gêneros literários, o buraco é bem mais embaixo. Principalmente porque devemos considerar essas informações como exceções à regra, pois fazem referência a apenas uma editora entre tantas. E a menor entre as grandes. Não dá para generalizar, mas também não dá pra fechar os olhos diante desses fatos.

Essas informações nos levam a entender o que buscam as editoras comerciais, que trabalham com títulos trade e a entender como está o mercado editorial. Tomás Pereira, sócio da Sextante, afirma que “um livro se torna um best-seller fundamentalmente por sua força própria, que gera o boca-a-boca. Mas ajuda ter um preço acessível, uma boa distribuição”. Ou seja, o livro quando é bom, vende-se sozinho, gerando evangelismo literário automaticamente. Algo miraculoso, obviamente, próprio dos contos de fada, mas, nesse ponto, é interessante perceber dois focos para fazer qualquer título minimamente vendável: além da mensagem chegar ao leitor-alvo pelo boca-a-boca, por exemplo, o livro também precisa estar à disposição dele.

Isso pode nos explicar o porquê de raramente encontrarmos autores brasileiros nas listas dos mais vendidos. Em 2012, apenas Jô Soares chegou perto de causar algum ruído no mercado editorial brasileiro, que representa, em vendas, mais de 4 milhões e meio de reais. Alguns críticos apontam essa quase ausência como consequência da pouca quantidade de anúncios e de espaços reservados em livrarias para títulos nacionais. Novos nomes de escritores brasileiros estão surgindo, mas eles não aparecem em nenhuma revista semanal. Isso é um fenômeno à parte do mercado editorial, ou seja, não depende dele, pois é uma questão cultural.

Ícones culturais existem desde o fim da crise de 29. Tornam-se guias das massas que se dessujeitam por vontade própria, para sentir que fazem parte de algo maior, de uma comunidade. Isso explicaria a busca empreendida por literatura estrangeira, basicamente dos Estados Unidos. Questão de dominação econômica mesmo. Para obter o galardão de ícone cultural, portanto, o artista precisa ter nascido no centro do mundo – na nação que domina economicamente as outras. A cultura de massa, por isso mesmo, sustenta-se no mecanismo de dominação econômica imperialista, que se reflete na dominação cultural, artística, literária etc. de países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, como o nosso. Foi assim no Brasil colônia, que beijava a mão do soberano cultural português, foi assim no século XIX, no Brasil que bebia da França, e foi assim no Brasil do século XX em relação aos EUA.

Entretanto, será assim neste século? Estamos passando por uma revolução tecno-cultural, explicitada por gadgets como o iPad e os smartphones. Porém, iniciada muito antes com a internet. Nem imaginávamos, até os fins dos anos 90, a existência dela. Hoje desligamos a televisão para assistir a vídeos pelo Youtube, para ler artigos marcados como favoritos por nossos conhecidos, enquanto ouvimos música baixada diretamente dela. Estamos fazendo a cultura de massa morrer.



Entretanto, isso vai além da tendência do mercado de nichos. Não se trata aqui de especialização de mercado, mas de um mercado onde as empresas poderão vender de tudo, pois haverá sempre um indivíduo disposto a comprar. Estamos resgatando o indivíduo perdido no passado.

Dentro de um mercado baseado na cultura de massa encontra-se a fórmula do 80/20: “20% dos produtos respondem por 80% das vendas (e geralmente por 100% dos lucros)”, conforme Chris Anderson. Mas tendo uma livraria virtual de e-books em mente, em que não há necessidade de distribuição nem de estoque, pode-se colocar milhares de livros à disposição do leitor, deixando que ele mesmo faça suas escolhas – como ocorre com o Youtube. Portanto, não há como essa antiga regra continuar em vigor, pois além de a mentalidade das pessoas estar mudando, de o leitor ir se acostumando aos poucos com textos digitais (como você que está lendo um texto que nunca foi impresso) e, também, com a possibilidade de as editoras possuírem catálogos cada vez mais diversificados, a regra só pode ir se transformando em outra. E Chris Anderson a batizou de regra dos 98%.

O leitor, portanto, pode olhar para tudo e escolher de tudo o que está a sua disposição, não precisando seguir o que mídias massificantes determinam como o ícone cultural de uma geração. Essa é a lógica do excesso. Nela, não é preciso escolher um produto para ser o “carro chefe” dos demais; ou, por escassez de espaço, empilhar dezenas de livros, para se obter lucro. Basta que editoras e livrarias digitais possuam títulos diversos, pois o espaço é infinito. Hoje, o leitor tem a chance de se tornar indivíduo e não parte de uma massa informe e sem vontade.

Tiramos duas conclusões disso:
Primeira, sinta-se à vontade para ler o que quiser, pois é isso o que você faz quando baixa seus Mp3, ou quando navega em algum portal de informação. Não se acanhe, ler é um prazer e deve continuar a ser assim. Você não é mais obrigado a seguir a massa; faça o seu caminho. O caminho que você está percorrendo, agora, na web, só você está fazendo.

Segunda, os escritores brasileiros não precisam se preocupar com listas de mais vendidos, o seu território está garantido, pois sempre haverá alguém disposto a ler o que eles escrevem. Não serão vendidos milhões de exemplares. Não haverá picos de vendas, e isso também não alegrará os corações dos empresários, mas a satisfação deles virá das pequenas vendas dos milhares de produtos que serão obrigados a disponibilizar. O gráfico disso é chamado cauda longa, pois nunca chega a zero. Ou seja, os escritores brasileiros continuarão vendendo pedaços de tripas, mas venderão sempre.

quarta-feira, 17 de abril de 2013


85 ANOS PRESENTE NO CEARÁ VII
Crônica de Raymundo Netto para O POVO
 

A Rachelzinha, quando conheceu Demócrito Rocha
“Minha graciosa Majestade: Quero primeiro dar-lhe os parabéns calorosos pelo triunfo que sua bela inteligência de mulher culta alcançou sobre a dolorosa mediocridade de nossas melindrosas. Nada mais justo que o ato das classes estudiosas do Ceará, elegendo-a. Mas, agora que vais ter sobre a fronte o diadema real, pergunto-me se são de fato os parabéns que lhe devo dar. Não os acha mal cabidos, dada a atual desvalorização do sangue azul? E já pensou quantos inconvenientes acarretam atualmente o cetro e a coroa?(...) É por isso que avento a ideia de lhe mudarem o título: e em vez de ser chamada ‘Sua Majestade Suzana I, Rainha dos Estudantes Cearenses’, proclamem-na ‘Chefe do Soviet Estudantal do Ceará’”
                                                Rita de Queluz (O Ceará, 1927)
A “Rita”, ou melhor, Rachel de Queiroz, tinha apenas 16 anos. Enviara, de Quixadá, ao diretor literário de O Ceará, Demócrito Rocha, em seus 39 anos, uma “carta aberta”, datilografada em uma Corona, versando sobre a eleição da primeira Rainha dos Estudantes Cearenses, a também escritora Suzana de Alencar Guimarães — título este que seria concedido a Rachel, três anos mais tarde. Demócrito não somente a publicou, mas pediu mais, e ela mandou. A “Rita de Queluz”, como assinava, passou a ser frequente na folha. Na época, chegaram a crer tratar-se de um homem ou, quem sabe, uma das raras escritoras de Fortaleza, mas Jáder de Carvalho assegurava: “era a filha mais velha de Daniel e Clotilde!”
Um dia, Daniel levou a filha para conhecer a redação do dito jornal, localizada quase ao lado da Igreja do Patrocínio. Ela nos conta: enquanto seu pai conversava com o Ibiapina, se dirigiu devagarzinho pelos assoalhos do sobrado em direção a um “homem de cabelo revolto, olhos salientes, inteligentíssimo, boca de riso fácil”... era o “Barão de Almofala”, ou Demócrito — o mesmo que dizia que a autoridade maior do estado tinha a alma menor que seu pé; que criara o famoso bordão “Besteira, Jorge”, gozando o filho do rancoroso presidente, e que escrevia as “Notas do Dia”, as mesmas lidas pela família de Daniel todas as tardes: “Era só um jornal e, como todos queriam ler ao mesmo tempo, o problema se resolvia com a leitura feita em voz alta pelo mais velho” —, pensava, naquele momento em que ele se levantou da cadeira e, estendendo-lhe a mão, perguntou: “Então, você existe mesmo?”
Depois disso, não teve dúvida, seriam amigos. Ela já sabia que ele “era o padrinho, o irmão mais velho, o companheiro diário e o crítico condescendente de quase todos os aprendizes de literatura e de jornalismo em Fortaleza”. Daí passou a integrar a redação, sendo responsável pela página literária, a “Jazz Band”, feliz da vida, a tecer, inclusive, o folhetim A História de um Nome, até que O Nordeste, jornal da Arquidiocese de Fortaleza, crendo ser um escândalo a presença de uma mulher, principalmente tão moça, naquele “ambiente”, pôs-se a publicar artigos que fizeram Matos Ibiapina, em acordo com Daniel, tirá-la de lá, publicando ainda um perdão à família.
Demócrito não se conformou com aquilo e logo que criou o seu próprio jornal, meses depois, a convidou para escrever: “era com ele, agora!” E, de fato, foi O POVO, em 1928, a defender Rachel de Queiroz das novas críticas de O Nordeste à moral da professorinha recém-saída do colégio Imaculada da Conceição: “[...] Não estando no tempo inquisitorial, vivemos num regime de liberdade de crenças em que, portanto, o intelectual pode e deve ter o direito de externar as suas opiniões.”, gritava o editorial assinado por ele e outros intelectuais da época.
Demócrito reunia em torno de si os “modernos”, mas também se cercava dos “passadistas”. Rachel o ajudava nesse ponto, garantindo a sua presença, a princípio “arrastada”, aos serões do Salão Juvenal Galeno, um dos mais legítimos centros culturais cearenses.
Quando Demócrito criou a Maracajá, lá estava Rachel com seu “Se Eu fosse Escrever o meu Manifesto Artístico”, a defender que o artista tem de ser espontâneo e sincero e, para isso, tem que cantar o que sente a “sua raça”: “Eis porque eu canto o sertão e sol [...]”
Rachel lembra o dia em que conheceu o outro Demócrito, o “dentista”. Ele tratava-lhe um dente e, não se sabe como, deixou escapar o motor, tirando-o rapidamente de sua boca, mas ela, no susto, acabou mordendo-lhe ferozmente o polegar, que sangrou. Ficou envergonhada da reação, mas conta: “[ele] levou depressa à boca o seu dedo ferido, chupou o sangue e disse, piscando o olho, com aquele seu sorriso, como se contasse um segredo: Hummm... Tem gosto de cerveja...” Conta também que ele, mesmo com tanto tempo no Ceará, não se libertara do sotaque baiano de Caravelas, motivo de chacota de amigos quando ele dizia “oitcho” (oito), “lutcha” (luta), a ponto de, um dia, durante um efervescente comício, Demócrito terminaria assim o seu discurso: “A Bahia subiu no ‘conceitcho’ nacional!”. Ela, na plateia, batendo palmas: “Muitcho bem! Muitcho bem!”. Todos em volta riram, enquanto o orador descia em sua direção a puxar-lhe as orelhas.
Mais tarde, a moça escreveria O Quinze, um romance social — parecia natural sê-lo — recebido, por um lado, com críticas pesadas e desconfiança; por outro, com espanto e admiração. Muitas as conjecturas e a negação ao talento jovem e feminino. Entretanto, Rachel novamente encontrou abrigo nas páginas de O POVO, a divulgar fartamente as boas críticas e homenagens que a autora recebia no Ceará e, principalmente, de outros estados “inacessíveis” do país: “Desde o início, O POVO mostrou que viera para ficar. Foi a glória, o jornal criado na raça, na coragem e no talento [...] E a flama por ele lançada, passados já setenta anos [1997], continua impávida, luminosa, invicta. O POVO, já hoje venerando, é estrela maior na imprensa do Nordeste [...]”, afirmou, há 16 anos, Rachel de Queiroz, a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras e a receber o Prêmio Camões, dona de uma carreira e bibliografia invejável. Foi, assim, até morrer, colaboradora e defensora do jornal que foi a sua escola e, ao mesmo tempo, o seu jardim.

segunda-feira, 15 de abril de 2013


Em dado encontro dos Poetas de Quinta o tema que rolava era minicontos. Ciente da fama de escriba prolixo, eu brinquei com minha inaptidão para textos curtos. E fui além. Nem um pouco adepto do, “oito ou oitenta”, como que tirando onda com o companheiro Silas Falcão (cada dia mais empenhado em produzir contos com no máximo uma palavra), saí-me com esta “pérola”: no último fim de semana escrevi dois minicontos. Um de 11 páginas; outro de dez. No que o Carlos Vazconcelos comentou: “você acaba de escrever um miniconto”.

Admitindo serem honestas as palavras do amigo, enquadrei meu bestunto com este puxão de orelhas: se o palmeado contista Vaz assim entende, quem somos nós para duvidar? E assim, mais metido que patricinha saindo de motel, dias depois — contando com o aval do escritor Pedro Salgueiro (o presente da Macondo Cabeça Chata à literatura brasileira), eu publiquei neste Blog: Mas resultado que é bom!... Um texto curto que, com muita boa vontade pode até ser denominado miniconto.

Mas antes que eu lhes apresente outra produção minha neste difícil gênero da escrita, vejam o aviso e o apelo a seguir:

·   Para desespero do amigo Silas Falcão (muito embora nossos estilos sejam diametralmente opostos — ele trágico; eu cômico — o homem se pela de medo da concorrência — rsrsrsrs) pretendo divulgar amiúde, nesta rede social dos Poetas de Quinta, os minicontos que ora fervilham em minha cachola.  
·   Rogo, porém, que não me levem a sério nesta nova empreitada, porque nem eu mesmo me levo. Minha verdadeira literatura é mais robusta e consistente. Pelo menos é o que me dizem os amigos leitores. Só gente boa. Paideguamente generosa.

Deste modo tudo explicado e ciente de que posso contar com a compreensão de todos, vamos ao prometido miniconto:


A PROFECIA

Quando a parteira cortou-me o cordão umbilical minha mãe me abraçou dizendo: “batizar-te-ei Francisco. sei que não quererás ser padre e sim pai, mas terás um papa com o teu nome”.


Por: Francisco Bernivaldo Carneiro

sexta-feira, 12 de abril de 2013

LITERATURA E LEITURAS


Por Silas Falcão


Mensalmente o SESC incorpora projetos literários em colégios municipais e estaduais de Fortaleza. Conversa com o escritor e Revelando a literatura cearense são dois destes projetos. O Conversa com o escritor, do qual sou um dos mediadores, é um bate papo em sala de aula com um (a) escritor (a). Sempre é escolhido o autor (a) cearense como oportunidade de divulgar a nossa literatura através do autor e sua obra. O Revelando a literatura Cearense é realizado pelos parceiros do SESC que apresentam por uma hora, parte da obra e vida do escritor de sua preferência. No Revelando eu apresento - revelo - Milton Dias: entre a dor e o riso. Dia 10 de abril o SESC iniciou no Colégio Estadual Paróquia da Paz, o Abraço Literário nas escolas. É outro projeto diversificado em leituras compartilhas e comentadas pelo coordenador do Abraço e alunos do colégio. O Abraço deste dia obteve, nos dois locais de apresentação, uma participação atenciosa e ativa de 90 alunos do 2º grau. O Abraço permanece três meses nos colégios. Após este período os alunos se responsabilizam pela continuação do projeto. Essas fotos registram os momentos do Abraço, que teve a participação dos professores do Colégio.      


                                     
                                                      Prof. Ednardo Gadelha
                                                               Silas Falcão
                                                            Carlos Vazconcelos
                                                            Professora Carla

terça-feira, 9 de abril de 2013

 SENHORA DA SEXTA-FEIRA
Romance inédito de Milton Dias

Fonte: Blog trocando em miúdos – Paulo Elpídio de Menezes Neto

Sabia-se da existência de um romance que Milton Dias não chegara a publicar. Por timidez de quem se aventurou com sucesso pelo gênero difícil da crônica, mas que não venceu os receios de um romancista dominado pela modéstia.
Ouvira referências de vários amigos sobre o romance. Tive os originais em mãos, revelado com discrição pelo seu autor.
Conversando com Pedro Paulo Montenegro, pesquisador e crítico literário respeitado, descobrimos que os originais encontrava-se em poder de um sobrinho de Milton Dias, filho de seu irmão Wílson Dias — o engenheiro Rui Dias.
Recuperados os originais estamos em trabalho, a quatro mãos, cuidando da editoração do romance a ser lançado em Fortaleza, no início de 2014.
Um presente aos incontáveis amigos e leitores do cronista, agora no texto de romancista que também o foi com talento e elegância.

UM APARTE
POR SILAS FALCÃO
Os originais de A senhora da sexta feira foram lidos pelo poeta Francisco Carvalho. Aconselhou edição. Pedro Nava, após receber os mesmos originais, enviou carta a Milton, determinando ao amigo autor urgentissíma publicação do romance. A professora de literatura Suely Oliveira, na sua dissertação Milton Dias – a vida que poderia ter sido e que não foi, nos revela a cópia desta carta.
Numa manhã de sábado de 2010, na entrada do Mercadinho São Luis, da Pontes Vieira, encontrei o mestre Pedro Paulo Montenegro. Mesmo morando a um quarteirão da casa dele, nunca forcei mais aproximação com este ensaísta que há décadas reside no Pio XII. Mas na manhã daquele sábado perguntei-lhe sobre o romance. Indiferente a minha espinhenta intervenção, ele respondeu: Tá com o sobrinho dele. E foi às compras sobre seus passos lentos e idosos.
Excelente a noticia do lançamento deste romance.
Mesmo após trinta anos da morte de Milton Dias.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

DIVULGANDO NOSSA LITERATURA, ALÉM-FRONTEIRAS

Por Bernivaldo Carneiro

Existem épocas na vida que foram
 feitas para não serem esquecidas.
       Emílio, Rousseau.

Após um tilintar e outro de taças que mergulham na noite até altas horas, retorno ao lar interiorizando os temas do dia. É a arte da escrita dos “Poetas de Quinta” (Poetasdequinta.blogspot.com.br), grupo do qual compartilho o privilégio de discutir, ser e exercer literatura, replicando em meus pensamentos. Para alguns, um dom que trago na alma, e que há 15 anos — em meio à assoberbada vida profissional que levo — ouso exercer. São momentos que me auxiliam lapidar e tecer a criatividade. São debates, ponderações que me ajudam apurar a mente, no exercitar as palavras e pô-las no papel dando graça à imaginação.

E desta forma embevecido na luz dos amigos, recordo com lisonja um inolvidável comentário de Arleni Portelada, uma admirável profissional de múltiplos ofícios: jornalista, escritora, cerimonialista, ex-radialista e apresentadora de televisão, que, com seu olhar carinhoso e reflexivo, escreve sobre as fragilidades humanas e a beleza do mundo. Ao lado de Francinete Azevedo e outros notáveis confrades da Academia de Letras dos Municípios do Estado do Ceará – ALMECE, Arleni Portelada, nossa “Dádiva Piauiense”, reportava-se à singela apreciação que fiz do livro Odisséia em Ulisséia, de Vilma Matos. Uma resenha que, sem elogios gratuitos, senão movido apenas pela excelência da amizade e qualidade da obra, eu concebi com honra e prazer.

Com doces palavras, Arleni Portelada elogiou minha disposição para enaltecer os colegas; sublinhou o meu caminhar ontológico na literatura grega para compor o texto em foco, e chamou a atenção para um ponto muito importante: ser a minha iniciativa, algo incomum em um meio fértil de insuflados egos que pairam sobre nossas cabeças tentando obscurecer os outros, na busca de se revelarem os suprassumos da literatura.

Mas, pensando em meus referenciados pares (estes sim, seguem o dileto caminho das letras fazendo as exceções justificarem as regras), adianto que não para por aí o meu gosto em divulgar seus escritos. Sempre que posso os leio e vejo brotar em mim o fruto de seus plantios e colho as ricas emoções de tê-los por perto em tão especiais momentos. Uma gestão entre escritor e leitor, um estado de embriaguez poética que perdura em minhas viagens. E, deste modo, ciente de que entre as filas do check in, do embarque e do desembarque, na sala de espera ou no deslocamento à aeronave, durante o voo ou aguardando que com os poderes de Deus a esteira rolante me devolva a bagagem despachada, há sempre um olhar de esguelha bisbilhotando o que o vizinho está lendo; eu não dispenso a companhia literária dos amigos. Eles talvez nem careçam de tal publicidade, mas eu faço questão de exercê-la.

Em minha última estada na São Luís de Gonçalves Dias, fiz-me acompanhar de Andarilho dos Trópicos, a quarta obra de Nicodemos Napoleão. Em outras três ocasiões fui ao Distrito Federal folheando Por quem Somos?, de Silas Falcão; O mundo dos Vivos, de Carlos Vazconcelos e Os Acangapebas, de Raymundo Netto. Recentemente estive em Salvador na companhia de Conchita e Outras Memórias, de Eudismar Mendes; em Belo Horizonte levando em mãos Os Espantos, de Tércia Montenegro; tracei um poético trajeto entre a Capital Alencarina e Maceió com o Lápis Branco, de Carlos Nóbrega e na “Terra da Garoa” li Enquanto somos de Frederico Régis. E para não me alongar muito, eu que há dois anos tinha dado um giro por Foz de Iguaçu, Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre nas asas de Fortaleza Voadora e ao lado de Inimigos, semana passada (17 a 23.3.2013) voltei às Minas Gerais conduzindo mais uma obra de Pedro Salgueiro. Eu planejava, até o fim daquela minha permanência em BH, finalizar a leitura de As Boas Mulheres da China (uma sugestão deste particular amigo, o contista de Tamboril), cerquei-me Dos Valores do Inimigo. É que ao ser apresentado ao Fábio Martins — um atencioso jornalista, escritor, radialista, professor de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais e editor de Rádio em Revista, produção semestral da conceituada UFMG sobre a memória do rádio, não resisti. Ao receber do mestre um volume da segunda edição do número oito de sua revista, repassei, junto com exemplares dos meus Devaneios, Delírios & Desamores, Nas Garras de um Irreverente e Satirizando o Cotidiano, o livro do Pedro Salgueiro que eu levara comigo.

Outra grata satisfação foi ouvir Fábio Martins afirmar e reafirmar o desejo de que participássemos de Rádio em Revista. Uma inescusável abertura que desde já remeto (se ele assim o desejar) ao amigo Raymundo Netto.

Explico: ao retornar do bar e restaurante La Greppia — point de boêmios e intelectuais mineiros e visitantes e de meu segundo encontro com Fábio Martins, ao apartamento 1504 do Hotel Best Western Sol (também na rua Bahia e separados apenas pela av. Augusto de Lima), o que me aguardava na internet? A mais recente crônica de Raymundo Netto publicada no jornal O Povo, cujo título é, “O POVO: 85 anos presente no Ceará V”. Um apanhado que retrata com muita qualidade e competência o nascimento da radiofonia no estado do Ceará. Pois, se entendi bem, é exatamente isso o que o professor Fábio Martins espera de nós para sua revista.
                                                                                                                          

sábado, 6 de abril de 2013


                           
                         DEFINIÇÃO DE ABRAÇO PELO MATUTO

Postagem: Silas Falcão

O matuto
falava tão calmamente,
que parecia medir,
analisar e meditar
                                sobre cada palavra que dizia…

Das invenção dos hómi,
a que mais tem sintido
é o abraço.”


O abraço
num tem jeito
dum só apruveitá!

Tudo quanto é gente,
no abraço,
participa duma beradinha…

Quandu
ocê ta danado de sordade,
o abraço de arguém ti alivia…

Quandu
ocê ta danado de reiva,
vem um, te abraça
e ocê fica até sem graça
de continuá cum reiva…

Si
ocê ta filiz e abraça arguém,
esse arguém pega
um poquim de sua alegria…


Si
arguém ta duente,
quandu ocê abraça ele,
ele começa a miorá,
i ocê miora junto tamém…

Muita gente
                                 importante e letrado
já tentô dá um jeito de sabê
pruquê qui o abraço
tem tanta tequilonogia,
                                mas ninguém inda discubriu…

Si
ocê ta filiz e abraça arguém,
esse arguém pega
um poquim de sua alegria…

Si
arguém ta duente,
quandu ocê abraça ele,
ele começa a miorá,
i ocê miora junto tamém…

Muita gente
importante e letrado
já tentô dá um jeito de sabê
pruquê qui o abraço
tem tanta tequilonogia,
mas ninguém inda discubriu…

Mas, iêu sei…
Foi o isprito santo de Deus
qui mi contô…
Iêu vô conta proceis
uqui foi qui ele mi falô:
O abraço é bão
prucausa do Coração…
Quandu
ocê abraça arguém,
fais massage no coração!…
I o coração do ôtro
é massagiado tamém!
Mas num é só isso, não…
Aqui ta a chave
do maior segredo de tudo:
É qui,
quandu abraçamo arguém,
nóis  fiquemo tudo
é com dois coração no peito!…


(autor desconhecido)