sábado, 28 de junho de 2014

LÚCIO CLETO/ LUCJO GAIVOTA NA 49 FEIRART


O Artista e uma de suas obras


*

Teus dons imateriais
Se concretizam e crias:
Esculturas? - Poesias 
De ferro, latão: metais


Peça de Lúcio: "O Fazedor de Si Mesmo"

*

Quem se martela com a dor
Mas também com a alegria
Que lhe vem a cada dia
De Si Mesmo é o Fazedor


(FEIRART: Feira de Exposição de Artesanato ocorrida nos dias 26-27 de junho, na Praça Luiza Távora, Av. Santos Dumont, 1589, Fortaleza, Ceará. Quadrinhas da postagem: O Poeta de Meia-Tigela) 


sábado, 14 de junho de 2014



Bernivaldo Carneiro

Enquanto o Selecionado Canarinho não me impõe segurança, que tal relembrarmos o Penta? E para não cansar meus leitores (uma legião, que tão diminuta eu os conto numa só mão) farei em dois tempos. Não sem antes dizer que esta Copa está me transformando num cidadão bipolar. Explico: sempre que analiso e comparo nossa Seleção com as concorrentes, minha autoestima oscila ao sabor do vento. Por vezes, de tão alta, sinto-me um argentino; mas logo despenca e sou visitado pela síndrome de vira-lata. Meu conforto nestas horas é relembrar o país e o ano em que vim ao mundo, e ouvir o que Nelson Rodrigues disse a esse respeito: “Os brasileiros nascidos na década de 1950 são tão humildes que se escondem da carrocinha”.
Enfim, de dedos cruzados e a debulhar o rosário para que neste Mundial sejamos abençoados pelos ventos da sorte que nos bafejaram em 2002, vamos ao prometido.


Assim foi o Penta
= primeiro tempo =

Se nas rádios não restava alternativa, o que dizer dos canais de televisão? Sobravam apenas as novelas e os chatos Realities shows. Os telejonais tinham se transformado em programas esportivos que se cercavam de tudo que era possível para, senão incrementar, pelo menos segurar a audiência. Quem desconfiava de que bola de futebol é um objeto esférico (tudo bem, vá lá que seja redonda), logo era admitido como analista esportivo. Estapafúrdios eram os comentários e as considerações, prosaicos e bizarros os palpites, bisonhas e ridículas as sugestões.

Com justiça, os ainda viventes de seleções anteriores, também foram convocados. O Rei, por exemplo, não poderia e faltar e não ficou de fora — apesar de o Felipão considerá-lo “Um bola fora em táticas futebolísticas e prognósticos de Copas do Mundo’’. Chegou a ser cruel com o melhor do mundo de todos os tempos: “A receita para a vitória é ouvir o Pelé e fazer o contrário. As suas análises sobre futebol não valem absolutamente nada” — fechou questão o enjoado Felipe Scolari.

Pensando bem o Rei deu uma de plebeu ao vociferar suas previsões derrotistas. E o que dizer dos comentaristas de plantão? A maioria inapta para o ofício cuspia verborreia e soprava tolices que incomodavam até os mais surdos dos ouvidos.

Referindo-se às concorrentes consideradas babas, nosso metafórico treinador criou a figura dos “Bambalas e Arimateias”. Um analista em formato de rolha de poço (baixinho e gordo, entroncado e sem pescoço), que não era um dos piores, pegou carona e os denominou “Filhotes de cobra d’água com jacaré”. Eu, um peladeiro sem nenhum recurso técnico para a arte, do alto de minhas pernas de pau não os diria babas; sem tradição, talvez. Afinal, exatamente as equipes menosprezada chutaram muitos figurões para escanteio. Mas, o importante é que os comandados do turrão Luís Felipe, abençoados com generosas doses de sorte, mandaram bem. Contamos com uma mãozinha do árbitro logo no primeiro jogo e seguimos embalados pela melodiosa Deixe a vida me levar, do talentoso Zeca Pagodinho. O quarto poder adotou e quis impor como trilha sonora de “Nossa Canarinho”: A festa, na voz da não menos qualificada e sortida de notáveis predicativos femininos — Ivete Sangalo. Mas a dita “Família Scolari” tinha lá suas convicções.

No tocante ao prematuro Adieu, le blues nada deve ser creditado a nós; o que não me impede de tirar uma casquinha: que papelão, hein França! Apenas um ponto ganho em três jogos e nem um gol marcado! Também não nos cabe a honra de ter sido mandada de volta, ainda na primeira fase, a Argentina do irrequieto Marcelo El Loco Bielsa. Fazendo parte da denominada “Chave da Morte” os platinos sin plata tiveram vida curta. O que seria a panaceia para o caos sócio-econômico portenho, transformou-se em efeito colateral. Apesar de bastante senhores de si, los hermanos sofreram um acachapante baque em sua estratosférica autoestima. Bem feito. Coisas da Providência Divina. Quem os mandou, a exemplo dos franceses, fazer pouco caso da seleção brasileira? Os deuses do futebol não gostam de “Chuteira alta”. Não toleram a soberba, não admitem empáfia, não curtem arrogância.

Destino idêntico teve o Uruguai de Recoba. Os patrícios de Luís Figo, idem. Também sem um único Antônio, nenhum Manuel e um monte de Joaquins no escrete, os lusitanos não poderiam mesmo ir longe! A saudade de Trás-os-Montes nem teve tempo de se instalar. E já que o tema são os patrícios... Como se não houvesse tal suplemento alimentar em sua dieta, o anêmico Figo se cansou de levar ferro nos gramados asiáticos. Este gajo, que aos olhos míopes da FIFA (nunca aos meus) era o melhor do mundo, ficou muito mal na fita. E o que dizer do goleiro português? Pobre guarda-redes, depois de interceptar alguns pontapés de canto, não conseguiu segurar o esférico chutado pela Coreia. Inconsolável, desnudou-se da camisola e, aos prantos, deixou o relvado para, junto aos também inconformados parceiros, encarar a grande bicha no aeroporto. Voar de volta à terrinha foi o que lhes restou.




quarta-feira, 11 de junho de 2014



ESPÍRITO ESPORTIVO

“Eu me amo, mas não me admiro”.
= Érico Veríssimo =

Quando o clima de Copa do Mundo insinua-se entre nós abrindo um sorriso de orelha a orelha ou tecendo rugas de preocupações na testa de outros, nada mais oportuno que enfocarmos um tema futebolístico. Perdoem-me os que não gostam, mas esta era a atmosfera que eu respirava em meados de abril de 2010: dias de pré-temporada do último mundial.

Pensando bem, futebol é o único esporte no qual tenho saldo positivo. Não como praticante; senão como torcedor. Além de apaixonado pela Seleção e pelo Tricolor de Aço, sou Porco na Terra da Garoa, Pó de Arroz na Cidade Maravilhosa, arrasto uma asa pela Raposa das Alterosas e ponho óculos para ver com bons olhos o também Tricolor dos aguerridos tchês. O bicho pega mesmo é quando entro em campo para destravar os músculos. Na arte de Pelé sequer faço lembrar Dom Dieguito. Para ser sincero nem calço as chuteiras de um jogador regular. Mas sou teimoso e não dou bolas para os que me veem como um peladeiro aquém dos medíocres. Até fazem uso dos jargões futebolísticos para me classificar: “Perna-de-pau, cabeça-de-bagre, bola murcha, aberração das quatro linhas...” — diz quem já experimentou jogar ao meu lado e perdeu, obviamente.

Falando assim até parece que eu me divirto com tamanha falta de vocação; o que não é verdade. Neste particular o meu sofrimento é tamanho, que só em lembrar a injustiça dos deuses do futebol, ao distribuíram pendores de craque pelo mundo afora, tenho os olhos afogados.

Enfim, uma inaptidão cheia de dissabores. Em parte, culpa da gorduchinha, que impiedosamente rechaça a cumplicidade que sempre procurei. Apesar de cheia de respeito. Sem nunca ter a ousadia de chamá-la de você. Mas a danadinha segue impiedosamente rebelde. Formal e avessa ao meu intento de tratá-la com cavalheirismo. Quando por força das circunstâncias chega até mim, é quicando, com efeito, cheia de nós pelas costas. Toda metida. Se achando e sem dar a menor chance de ser dominada, trabalhada, amaciada.

E se, nem nos verdes anos eu fui um amador de fino trato com o objeto da diversão, o que dizer agora quando já se foram décadas desde o tempo em que eu — caso levasse jeito para o ofício — poderia ter maquiado a idade? Ter me transformado em mais um gato dos gramados? Mas, nem isso!  De modo que hoje só me resta uma coisa: com o pretexto de marcar pontos contra o sedentarismo, seguir alimentando as comichões do verme da bola da forma desajeitada como eu sei fazer. Seguir ignorando as gozações dos adversários sem dar ouvido às vaias dos espectadores e relevando os xingamentos dos próprios companheiros de time. Sem querer, porém por força das circunstâncias, maltratando a pelota, distribuindo e recebendo caneladas e pisões.



Durante esta Copa pretendo escrever algumas tolices futebolísticas sobre este e outros mundiais. Aqui vai a primeira delas para divulgarmos em nosso Blog.

Abraços

Bernivaldo Carneiro


segunda-feira, 2 de junho de 2014



O EXILADO CAIO

Pedro Salgueiro, O Povo.

Caio Porfírio Carneiro deixou o Ceará em 1955. De lá pra cá, já se foram quase 60 anos de um amargo exílio, que ele foi adoçando através de visitas constantes: não há ano em que o nosso talentoso escritor, mesmo carregando hoje o peso de seus 86 anos, não venha rever a terrinha tão amada. Saiu daqui depois de perder a saúde (contraiu tuberculose, num tempo em que a doença era quase uma sentença de morte), o emprego (possuía alto cargo na Panair do Brasil), os amigos (o estigma da doença era similar ao da Aids hoje; sua casa foi marcada com um “x” de cal) e até a noiva, de quem nunca mais teve notícias. Em São Paulo, trabalhou na imobiliária de um irmão, tornou-se jornalista e, em 1963, foi ser secretário da União Brasileira de Escritores (UBE), de onde só saiu recentemente aposentado.

O irmão Manoel (o mais velho, que lhe deu emprego e incentivo) tentava de toda maneira “empurrar” o jovem para uma “profissão séria”, porém logo percebeu que seriam inúteis suas tentativas: Caio certo dia lhe falou que tinha pronto um livro de contos. O primogênito leu Trapiá (1961) no original e adorou, tanto que se ofereceu para financiar a publicação; mas Caio preferiu inscrevê-lo em concursos, juntar o dinheiro e só então editá-lo. Sua estreia foi um sucesso (lançado já com sete contos premiados), sendo hoje um clássico de nossa literatura, com várias edições, inclusive uma pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

Em seguida vieram os romances O Sal da Terra (1965) e Uma Luz no Sertão (1973), os livros de contos Os Meninos e o Agreste (1969), O Casarão (1975), Chuva - Os dez cavaleiros (1977), 10 Contos Escolhidos (1983) e Viagem sem Volta (1985). Depois uma sequência de livros infanto-juvenis: Quando o Sertão Virou Mar... (1986), Profissão: Esperança (1986), Da terra para o mar, do mar para a terra (1987) Cajueiro sem Sombra (1997) e Uma Nova Esperança (2002); as novelas: A Oportunidade (1986), Três Caminhos (1988) e Dias sem Sol (1988); também um livro de poemas: Rastro Impreciso (1988). E há mais de 20 anos vem intercalando livros de histórias curtas e de memórias: Os Dedos e os Dados (1989), Primeira Peregrinação (1994), A Partida e a Chegada (1995), Mesa de Bar (1997), Contagem Progressiva (1998), Perfis de Memoráveis (2002), Maiores e Menores (2003), Gramíneas (2006), Respingos de uma Viagem (2008) e O Copo Azul (2009). Mas promete agora para 2014 um novo livro de contos, seu gênero preferido.

Esse cearense “arretado” – que já ganhou os mais importantes prêmios literários do País (como o Afonso Arinos e o Jabuti), que teve diversos contos traduzidos para outras línguas, além de várias adaptações para TV e cinema – é antes de tudo um apaixonado pela sua terra natal: quase tudo o que sonha, pensa e fala é sobre sua infância “alencarina”, suas brincadeiras com os nove irmãos entre a rua 24 de Maio e a praça São Sebastião, intercaladas com as viagens a Guaiúba, ao sítio arrendado no Soure (hoje Caucaia, onde residiam os avós maternos) e temporadas nas fazendas Pau Caído e Caraúbas (entre Massapé e Santana do Acaraú), dos ancestrais paternos.

A esse clássico vivo da literatura cearense prestamos nossa homenagem, não só pela obra magnífica que nos deixa (e que sobreviverá com certeza ao tempo), mas também pelo ser humano maravilhoso que é: simples, sempre disposto a receber os escritores mais novos e desconhecidos; simpático, jamais o vi – nesses 20 anos de convivência – de cara feia, acabrunhado. Sempre brincalhão, galhofando alto com sua inconfundível voz rouca.

Obrigado, mestre, por sua arte e vida, que tanto engrandecem o nosso Ceará.