O EXILADO CAIO
Pedro Salgueiro, O Povo.
Caio Porfírio Carneiro deixou o Ceará em 1955. De lá pra cá, já se foram
quase 60 anos de um amargo exílio, que ele foi adoçando através de visitas
constantes: não há ano em que o nosso talentoso escritor, mesmo carregando hoje
o peso de seus 86 anos, não venha rever a terrinha tão amada. Saiu daqui depois
de perder a saúde (contraiu tuberculose, num tempo em que a doença era quase
uma sentença de morte), o emprego (possuía alto cargo na Panair do Brasil), os
amigos (o estigma da doença era similar ao da Aids hoje; sua casa foi marcada
com um “x” de cal) e até a noiva, de quem nunca mais teve notícias. Em São
Paulo, trabalhou na imobiliária de um irmão, tornou-se jornalista e, em 1963,
foi ser secretário da União Brasileira de Escritores (UBE), de onde só saiu
recentemente aposentado.
O irmão Manoel (o mais velho, que lhe deu emprego e incentivo) tentava
de toda maneira “empurrar” o jovem para uma “profissão séria”, porém logo
percebeu que seriam inúteis suas tentativas: Caio certo dia lhe falou que tinha
pronto um livro de contos. O primogênito leu Trapiá (1961) no original e adorou,
tanto que se ofereceu para financiar a publicação; mas Caio preferiu
inscrevê-lo em concursos, juntar o dinheiro e só então editá-lo. Sua estreia
foi um sucesso (lançado já com sete contos premiados), sendo hoje um clássico
de nossa literatura, com várias edições, inclusive uma pela Universidade
Federal do Ceará (UFC).
Em seguida vieram os romances O Sal da Terra (1965) e Uma Luz no Sertão
(1973), os livros de contos Os Meninos e o Agreste (1969), O Casarão (1975),
Chuva - Os dez cavaleiros (1977), 10 Contos Escolhidos (1983) e Viagem sem
Volta (1985). Depois uma sequência de livros infanto-juvenis: Quando o Sertão
Virou Mar... (1986), Profissão: Esperança (1986), Da terra para o mar, do mar
para a terra (1987) Cajueiro sem Sombra (1997) e Uma Nova Esperança (2002); as
novelas: A Oportunidade (1986), Três Caminhos (1988) e Dias sem Sol (1988);
também um livro de poemas: Rastro Impreciso (1988). E há mais de 20 anos vem
intercalando livros de histórias curtas e de memórias: Os Dedos e os Dados
(1989), Primeira Peregrinação (1994), A Partida e a Chegada (1995), Mesa de Bar
(1997), Contagem Progressiva (1998), Perfis de Memoráveis (2002), Maiores e
Menores (2003), Gramíneas (2006), Respingos de uma Viagem (2008) e O Copo Azul
(2009). Mas promete agora para 2014 um novo livro de contos, seu gênero
preferido.
Esse cearense “arretado” – que já ganhou os mais importantes prêmios
literários do País (como o Afonso Arinos e o Jabuti), que teve diversos contos
traduzidos para outras línguas, além de várias adaptações para TV e cinema – é
antes de tudo um apaixonado pela sua terra natal: quase tudo o que sonha, pensa
e fala é sobre sua infância “alencarina”, suas brincadeiras com os nove irmãos
entre a rua 24 de Maio e a praça São Sebastião, intercaladas com as viagens a
Guaiúba, ao sítio arrendado no Soure (hoje Caucaia, onde residiam os avós
maternos) e temporadas nas fazendas Pau Caído e Caraúbas (entre Massapé e
Santana do Acaraú), dos ancestrais paternos.
A esse clássico vivo da literatura cearense prestamos nossa homenagem,
não só pela obra magnífica que nos deixa (e que sobreviverá com certeza ao
tempo), mas também pelo ser humano maravilhoso que é: simples, sempre disposto
a receber os escritores mais novos e desconhecidos; simpático, jamais o vi –
nesses 20 anos de convivência – de cara feia, acabrunhado. Sempre brincalhão,
galhofando alto com sua inconfundível voz rouca.
Obrigado, mestre, por sua arte e vida, que tanto engrandecem o nosso
Ceará.
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