sexta-feira, 24 de agosto de 2012


                                MANUEL SOARES BULCÃO.            
                              1963-2012
                         Escritor, filósofo, ensaísta.



                       AS ESQUISITECES DO ÓBVIO

                                           A morte.





*ESTE BLOG PERMANECERÁ UMA SEMANA SEM POSTAGENS.

Silas Falcão.

MANUEL SOARES BULCÃO NETO (1963-2012)


Circulus virtuosus deus


Os estoicos vencem a morte
Com a própria morte.

Elias Canetti

Vivi bem,
Ardentemente.
Feliz, fui muito;
Hoje, sou menos.

Por quê? — Cansaço,
No peito um sopro,
Essa tristeza
De “pai de morto”…

Hoje, bem cedo,
Saí da cama.
Em vez de febre,
Sentia força.

Tomei café
Com pão e nata.
Faltei ao médico
E disse: — Basta!

Repetiria
Ad aeternum!
Todos os gestos
Que fiz na vida,

Cada momento,
Com regozijo;
Mesmo este último:
Cruento e fatídico.

Se fui senhor
Da própria vida,
Agora o sou
Da minha morte. *

— Será assim
Que partem os fortes?

* “Muitos têm morte tardia demais e outros morrem demasiadamente cedo. (…) Morre a tempo!” (Nietzsche; Zaratustra).

quinta-feira, 23 de agosto de 2012



                                                NA MANSÃO

– Pai, o senhor compra uma coleção de crianças para eu brincar?

 Silas Falcão


 
 
 

BAZAR DAS LETRAS, DO SESC/CE,
RECEBE O ESCRITOR RAYMUNDO NETTO.
28 de AGOSTO (terça-feira)
19h
TEATRO SESC EMILIANO QUEIROZ
Av. Duque de Caxias, 1701 – Centro (em frente ao DNOCS)
Preço especial no dia do Projeto/lançamento:
R$ 15,00
 RAYMUNDO NETTO é escritor, designer, quadrinhista e produtor cultural. Autor do romance Um conto no passado: cadeiras na calçada, ganhador do I Edital de Incentivo às Artes da SECULT/CE (2005), e dos infantojuvenis A Bola da Vez (2008), A casa de todos e de ninguém (2009) e Os tributos e a cidade (2011), todos pelas Edições Demócrito Rocha.
É cronista convidado do Caderno Vida & Arte do jornal O POVO desde 2007. Foi coeditor das revistas CAOS Portátil e da Para Mamíferos. Foi Coordenador de Políticas do Livro e de Acervos da SECULT, responsável pela coordenação editorial, membro do Conselho Curador da IX Bienal Internacional do Livro do Ceará, redator e elaborador do Prêmio Literário para Autor Cearense/2010 e um dos coordenadores da I Feira do Livro do Ceará em Cabo Verde/2011.
Autor de Os Acangapebas, coletânea de contos ganhadora do Prêmio Osmundo Pontes, da Academia Cearense de Letras (2011), e do Edital de Literatura da SecultFOR (2007). Atualmente é editor adjunto das Edições Demócrito Rocha. Mantém o blogue AlmanaCULTURA.
“(...)O conto de Raymundo Netto é compacto, sugestivo. Conto urbano, que flagra uma série de situações típicas do mundo atual. E que, seguramente, coloca o autor entre os bons contistas nordestinos contemporâneos.”
Rinaldo de Fernandes, escritor e crítico (PB)
“Ao ler contos curtos, espero que as palavras tremulem. Procuro sonoridades. Encontro-as, em todo o conjunto. Espero desfechos, com ou sem fecho, e aqui estão eles, incisivos ou cirúrgicos. Alguns evocam sorrisos. Onde parece haver lacunas, entendamos: personagens são lacunares, como alguns de nossos balbucios do dia a dia deixam entender. Ou não? Assim se dá nos primeiros ‘Luzeiros’ do livro, o conto inicial. A voz rouca dos corais pode arrematar a fala humana.(...)”
Marcelo Novaes, escritor (RJ)
“(...) Se a coleção de contos se assemelha a um romance fragmentado, tamanha a unidade de estilo e conteúdo das histórias ali contadas, também é necessário acrescentar à equação literária de Os Acangapebas a poesia.”
Dellano Rios, jornalista para Diário do Nordeste (CE)
 

terça-feira, 21 de agosto de 2012



                                                      O TREM
No quarto de hotel do subúrbio, Nilzo abre a mala. Dentro roupas velhas, esperanças novas e agonia num bilhete da mãe: “Sentirei saudades, mas não volte”.

Silas Falcão



                                        RACIOCÍNIO LÓGICO


Crônica de Bernivaldo: 21.8.2012


Vez ou outra meu trabalho me leva a lugares remotos. A última viagem que fiz a plagas inóspitas me impôs uma semana e meia sem celular e sem internet.
De volta ao lar, como sempre, minha mulher me recebeu amorosamente festiva e, lendo em meu semblante as carências literárias acumuladas no período, afrouxou o abraço me repassando os recados.
A ânsia de me abastecer com as travessuras e galhofas dos Poetas de Quinta, com seus assuntos sérios e permutas de livros, atirou-me ao celular. Iniciei tentando os três mais assíduos do grupo. Mas quem disse que logrei êxito?
Não sou adepto do recado em caixa postal e depois de intercalar seguidas chamadas para o Silas Falcão, para o Pedro Salgueiro e para o Carlos Vazconcelos dei um tempo e conclui: cada um a seu modo, ocupam-se das rotinas mais amiúdes e centradas.
O Silas Falcão, contemplado no mês de junho de 2012 com o 2º lugar no concurso Estadual de Contos SESC/Crato e autor do livro de crônicas Por quem somos? deve estar aprofundando a pesquisa que faz com o apoio do jornal O Povo, sobre o grande cronista cearense Milton Dias. A rigor até achei bom ele não ter atendido. É o único que conheço no Estado do Ceará com celular habilitado numa operadora cujo apetite devora, em segundos, minha recarga de um mês. E não sou o único inconformado com sua relutância em não mudar de concessionária. Estou até pensando em propor ao Pedrão, o homem da “Macondo Cabeça Chata”, um conto a quatro mãos. O título seria: Nadie llama a la Silas.  Obviamente, uma obra inspirada (não plagiada), em El coronel no tiene quien le escriba, também do autor de Cien años de soledad. Afinal, o Salgueiro e eu somos ardorosos admiradores de Gabriel García Márquez.
E por falar no escritor de O peso do morto, O espantalho, Brincar com armas, Dos valores do inimigo e Fortaleza voadora, pensei: ele deve estar arrematando mais uma orelha. Quando o assunto é opinar sobre livros (seja via prefácio, quarta capa e, em especial, orelha) não conheço outro igualmente requisitado. Não é em vão que ele se autodenomina “Escritor contonete”. Já o Vaz — segui com meus pensamentos... Bem, o pai literário do aplaudido Mundo dos Vivos, o recordista de prêmios do Ideal Clube deve estar recebendo mais uma comenda literária. Quem sabe outro da relevância de um Osmundo Pontes, da Academia Cearense de Letras ou estudando o próximo escritor a ser entrevistado por ele no Bazar das Letras — SESC.
Mas foi no dia seguinte àquele meu retorno de dez dias à margem dos acontecimentos em geral que pude conferir o quanto estava aferida a minha intuição. Mais uma vez atendendo à acomodação do formador de opinião Pedro Salgueiro, o encontro aconteceu no Bar do Assis, no cultural bairro Benfica. Mais precisamente às biqueiras da bem frequentada residência do conceituado contista de Tamboril.
Enfim: eu acertara em cheio as ocupações do Silas e do Vaz; errara a do Pedrão. Por aquele tempo a orelha mais próxima, além das dele, era a do mais folclórico caprino cearense. Nosso vencedor de mais de uma dezena de prêmios literários como o de Contos da Biblioteca Nacional e o da União Latina/ Concurso Guimarães Rosa posava para um ensaio fotográfico. Sob flashes e holofotes de paparazzis de sua confiança, preparava-se para — no Museu do Ceará — imortalizar-se ao lado do lendário, boêmio e pinguço Bode Ioiô.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012



 CONFUSÃO NA PEQUENA ÁREA

         Carlos Nóbrega


Joga no time do Santos F. Clube
um goleiro apelidado de Aranha

Observo, de fato,
uma semelhança entre os dois seres,
cada qual à frente de sua respectiva teia

Certamente que vê-lo assim
é uma ilusão dos sentidos
induzida pelo seu apelido

Mas a ilusão se desmascara toda
quando uma bola se enrasca nos fios

E Aranha, em vez de comemorar a captura da presa,
amarga imensamente
o gol do meu Corinthians.


sexta-feira, 10 de agosto de 2012



                                               
O livro Conexões nordestinas tem o prefácio do poeta Frederico Régis.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

                                                
                                                  
                                                  MENTIRA

Nosso mundo cheio de armadilhas
Pelas quais os mortos passam isentos
Nossos olhos arregalados nos escuros
Por onde a alma guarda seus dejetos

Para o amor preciso de condições objetivas
Leito, vento e veladas transgressões
Para dormir só me basta a dor
Ela me leva inteiro ao mundo de dentro

Dezenove não é vinte e o mar repousa
Imenso: a poça azul os sonhos remove
Ora introduz o sal nas ventas ora apoquenta
A ferrugem das destruídas promessas

Nossas chinelas descansam nas entradas
Nossas pegadas registram o momento
Que o banho foi a vida e o peso suplicava
Pela terra inaudita que a homilia devorava

Escrevo certo por linhas e trovas no dia
E os anos têm sido generosos com os erros
Falo o que quero e ouço o que suporto
Driblar a morte é sempre um trabalho digno



                          Frederico Régis

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

                               
                                               

                                                  A FILHA
Abely detesta o seu nome de batismo. É inimiga dele. Numa fria manhã de raiva abrasiva, ela pede explicação aos pais. A mãe: “O seu nome é o da sua filha que você matou em outra vida”.
Silas Falcão

(Oswaldo Goeldi)


Homem vendendo peixe
Veio o peixeiro
com o seu arco sobre os ombros
de onde pendiam cavalas
boquiabertas,
estarrecidas,
os olhos arregalados,
olhando com força para mim,
olhando com força para nada.



Carlos Nóbrega