terça-feira, 21 de agosto de 2012



                                        RACIOCÍNIO LÓGICO


Crônica de Bernivaldo: 21.8.2012


Vez ou outra meu trabalho me leva a lugares remotos. A última viagem que fiz a plagas inóspitas me impôs uma semana e meia sem celular e sem internet.
De volta ao lar, como sempre, minha mulher me recebeu amorosamente festiva e, lendo em meu semblante as carências literárias acumuladas no período, afrouxou o abraço me repassando os recados.
A ânsia de me abastecer com as travessuras e galhofas dos Poetas de Quinta, com seus assuntos sérios e permutas de livros, atirou-me ao celular. Iniciei tentando os três mais assíduos do grupo. Mas quem disse que logrei êxito?
Não sou adepto do recado em caixa postal e depois de intercalar seguidas chamadas para o Silas Falcão, para o Pedro Salgueiro e para o Carlos Vazconcelos dei um tempo e conclui: cada um a seu modo, ocupam-se das rotinas mais amiúdes e centradas.
O Silas Falcão, contemplado no mês de junho de 2012 com o 2º lugar no concurso Estadual de Contos SESC/Crato e autor do livro de crônicas Por quem somos? deve estar aprofundando a pesquisa que faz com o apoio do jornal O Povo, sobre o grande cronista cearense Milton Dias. A rigor até achei bom ele não ter atendido. É o único que conheço no Estado do Ceará com celular habilitado numa operadora cujo apetite devora, em segundos, minha recarga de um mês. E não sou o único inconformado com sua relutância em não mudar de concessionária. Estou até pensando em propor ao Pedrão, o homem da “Macondo Cabeça Chata”, um conto a quatro mãos. O título seria: Nadie llama a la Silas.  Obviamente, uma obra inspirada (não plagiada), em El coronel no tiene quien le escriba, também do autor de Cien años de soledad. Afinal, o Salgueiro e eu somos ardorosos admiradores de Gabriel García Márquez.
E por falar no escritor de O peso do morto, O espantalho, Brincar com armas, Dos valores do inimigo e Fortaleza voadora, pensei: ele deve estar arrematando mais uma orelha. Quando o assunto é opinar sobre livros (seja via prefácio, quarta capa e, em especial, orelha) não conheço outro igualmente requisitado. Não é em vão que ele se autodenomina “Escritor contonete”. Já o Vaz — segui com meus pensamentos... Bem, o pai literário do aplaudido Mundo dos Vivos, o recordista de prêmios do Ideal Clube deve estar recebendo mais uma comenda literária. Quem sabe outro da relevância de um Osmundo Pontes, da Academia Cearense de Letras ou estudando o próximo escritor a ser entrevistado por ele no Bazar das Letras — SESC.
Mas foi no dia seguinte àquele meu retorno de dez dias à margem dos acontecimentos em geral que pude conferir o quanto estava aferida a minha intuição. Mais uma vez atendendo à acomodação do formador de opinião Pedro Salgueiro, o encontro aconteceu no Bar do Assis, no cultural bairro Benfica. Mais precisamente às biqueiras da bem frequentada residência do conceituado contista de Tamboril.
Enfim: eu acertara em cheio as ocupações do Silas e do Vaz; errara a do Pedrão. Por aquele tempo a orelha mais próxima, além das dele, era a do mais folclórico caprino cearense. Nosso vencedor de mais de uma dezena de prêmios literários como o de Contos da Biblioteca Nacional e o da União Latina/ Concurso Guimarães Rosa posava para um ensaio fotográfico. Sob flashes e holofotes de paparazzis de sua confiança, preparava-se para — no Museu do Ceará — imortalizar-se ao lado do lendário, boêmio e pinguço Bode Ioiô.

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