MENTIRA
Nosso mundo cheio de armadilhas
Pelas quais os mortos passam isentos
Nossos olhos arregalados nos escuros
Por onde a alma guarda seus dejetos
Para o amor preciso de condições objetivas
Leito, vento e veladas transgressões
Para dormir só me basta a dor
Ela me leva inteiro ao mundo de dentro
Dezenove não é vinte e o mar repousa
Imenso: a poça azul os sonhos remove
Ora introduz o sal nas ventas ora apoquenta
A ferrugem das destruídas promessas
Nossas chinelas descansam nas entradas
Nossas pegadas registram o momento
Que o banho foi a vida e o peso suplicava
Pela terra inaudita que a homilia devorava
Escrevo certo por linhas e trovas no dia
E os anos têm sido generosos com os erros
Falo o que quero e ouço o que suporto
Driblar a morte é sempre um trabalho digno
Frederico Régis
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