DIDEUS SALES
Soube, através de amigos, que o poeta
Dideus Sales estaria em Fortaleza para lançamento de livro sobre Luis Gonzaga;
o local - mais que aprazível - seria o projeto Bazar das Letras do SESC,
capitaneado pelo meu amigo Carlos Vazconcelos, que competentemente conversa
todo mês com um escritor cearense ou de outros estados sobre literatura; depois
(quando são autografados os livros, sempre com um preço bem convidativo) desse
diálogo agradável o leitor tem oportunidade de “trocar umas idéias” com o autor
convidado, assim como reencontrar amigos, rever colegas escritores.
Do
poeta Dideus tenho notícias desde criança, quando ouvia a Rádio Educadora de
Crateús, onde ele já era um dos apresentadores de destaque. Com o passar dos
anos, através de amigos comuns, fui sabendo das façanhas, livros e versos do
poeta (isso também só fiquei sabendo depois) natural de Independência (a velha
Porronca). Como não o conhecia pessoalmente fui lá prestigiá-lo, esperando
encontrar um senhor de idade avançada, cabelos embranquecidos pela cal do
tempo; e que surpresa: todo fagueiro no palco recitando cordéis, contando
piadas, um sujeito de minha idade, gordinho feito eu e com o nosso
inconfundível sotaque de matuto dos Inhamuns. Depois da apresentação, trocamos
um abraço de velhos “conhecidos” e, ao ouvir minha surpresa com sua
jovialidade, se saiu com esta: - É que eu comecei novo no rádio! Mal tinha
completado 15 anos já estava no “batente”...
Semanas
depois, a gulosa turma dos Poetas de Quinta estava comendo uma galinha pé-duro
na longa mesa de sua casa em Aracati, visita que ele retribuiu (ao Fortim) logo
no dia seguinte. Encontros regados a cerveja e poesia popular da melhor
qualidade.
ONDJAKI
Esta semana esteve em Fortaleza um
dos melhores escritores de língua portuguesa da atualidade: o jovem angolano
Ondjaki, que eu já conhecia de livro (havia lido sua coletânea de contos
Quantas madrugadas tem a noite) e, pasmem!, até já havia publicado, alguns anos
atrás, um conto dele em nossa revista Caos Portátil, trazido por Jorge Pieiro
de uma de suas estranhas viagens por Panaplos e arredores. Curioso, convidei
amigos e fomos assistir ao bate-papo do colega africano com a escritora
paulista (radicada em Fortaleza) Nina Rizzi e a competente professora da UFC,
Fernanda Coutinho. A inexplicável pouca presença de público não foi entrave
para a agradável noite. O talentoso escritor foi falando sobre tudo, de sua
infância na pátria já liberta das garras coloniais, de seu fazer literário e de
sua inspiradora avó (a mesmíssima de AvóDezanove e o segredo do soviético e
outros livros seus).
Ao
lado do auditório do BNB (agora funcionando no Centro de Referência dos
Professores, ali onde já foi o velho Mercado Central), fomos tomando
conhecimento de outros livros do escritor: Aprendisajens com o xão (poesia), A
bicicleta que tinha bigodes e o recente Uma escuridão bonita (infanto-juvenis,
mas não só, maravilhosamente ilustrados por Antônio Jorge Gonçalves). De noite
ficou o convite para que assistíssemos no dia seguinte, no Sobrado José
Lourenço, ao documentário sobre Luanda Oxalá cresçam pitangas.
E
o bate-papo, o documentário e as conversas posteriores deixaram em nós um
gostinho de quero mais, uma curiosidade de maior conhecimento não somente sobre
o autor, mas sobre esse país tão parecido com o nosso, sobre esse povo tão
alegre e sofredor como o nosso; também deixou em mim uma saudade dos anos 1980,
quando eu dava meus primeiros passos literários e tomei conhecimento de Angola
através de um de seus maiores escritores: José Luandino Vieira, de quem me
tornei leitor fiel e admirador incondicional.
MILTON DIAS
A melhor notícia que poderia ter a
literatura cearense este ano (dos 30 anos de ausência do fundamental escritor
de As cunhãs) foi a de que finalmente o romance perdido de Milton Dias vai ser
publicado. Desde os anos 1990 que ouço falar no misterioso A senhora da
sexta-feira, deixado inédito pelo famoso cronista. Várias vezes perguntei ao
amigo Sânzio de Azevedo sobre o livro, se ele tinha notícias, se havia lido...
Ele me respondia que apenas tinha ouvido vagas notícias. De Milton Dias tive o
prazer de ainda ser leitor de suas crônicas no jornal O POVO, bem antes
de sonhar em escrever; depois tive também o prazer de ler seus livros, desde o
póstumo Relembranças aos mais raros, adquiridos em sebos (alguns até com seu
autógrafo).
Finalmente,
e após três décadas, vamos ter a oportunidade (e o prazer) de ler aquele que
foi o “canto do cisne” de Milton Dias, seu livro inédito dado até pelos amigos
mais próximos como perdido: sei apenas que ele conta a curiosa história de uma
bem casada jovem, que se chama Mafalda, da alta-sociedade, e que ela
misteriosamente morre na casa de um suposto amante... de mais não sei, e se
soubesse não contaria. Pois quem quiser saber vá quinta-feira próxima (dia 7 de
novembro), às 19h, ao Ideal Clube, onde o livro será lançado.
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