quinta-feira, 7 de novembro de 2013

TRÊS NOTÍCIAS LITERÁRIAS


 
 Crônica de Pedro Salgueiro para O Povo


DIDEUS SALES
Soube, através de amigos, que o poeta Dideus Sales estaria em Fortaleza para lançamento de livro sobre Luis Gonzaga; o local - mais que aprazível - seria o projeto Bazar das Letras do SESC, capitaneado pelo meu amigo Carlos Vazconcelos, que competentemente conversa todo mês com um escritor cearense ou de outros estados sobre literatura; depois (quando são autografados os livros, sempre com um preço bem convidativo) desse diálogo agradável o leitor tem oportunidade de “trocar umas idéias” com o autor convidado, assim como reencontrar amigos, rever colegas escritores.
Do poeta Dideus tenho notícias desde criança, quando ouvia a Rádio Educadora de Crateús, onde ele já era um dos apresentadores de destaque. Com o passar dos anos, através de amigos comuns, fui sabendo das façanhas, livros e versos do poeta (isso também só fiquei sabendo depois) natural de Independência (a velha Porronca). Como não o conhecia pessoalmente fui lá prestigiá-lo, esperando encontrar um senhor de idade avançada, cabelos embranquecidos pela cal do tempo; e que surpresa: todo fagueiro no palco recitando cordéis, contando piadas, um sujeito de minha idade, gordinho feito eu e com o nosso inconfundível sotaque de matuto dos Inhamuns. Depois da apresentação, trocamos um abraço de velhos “conhecidos” e, ao ouvir minha surpresa com sua jovialidade, se saiu com esta: - É que eu comecei novo no rádio! Mal tinha completado 15 anos já estava no “batente”...
Semanas depois, a gulosa turma dos Poetas de Quinta estava comendo uma galinha pé-duro na longa mesa de sua casa em Aracati, visita que ele retribuiu (ao Fortim) logo no dia seguinte. Encontros regados a cerveja e poesia popular da melhor qualidade.
ONDJAKI
Esta semana esteve em Fortaleza um dos melhores escritores de língua portuguesa da atualidade: o jovem angolano Ondjaki, que eu já conhecia de livro (havia lido sua coletânea de contos Quantas madrugadas tem a noite) e, pasmem!, até já havia publicado, alguns anos atrás, um conto dele em nossa revista Caos Portátil, trazido por Jorge Pieiro de uma de suas estranhas viagens por Panaplos e arredores. Curioso, convidei amigos e fomos assistir ao bate-papo do colega africano com a escritora paulista (radicada em Fortaleza) Nina Rizzi e a competente professora da UFC, Fernanda Coutinho. A inexplicável pouca presença de público não foi entrave para a agradável noite. O talentoso escritor foi falando sobre tudo, de sua infância na pátria já liberta das garras coloniais, de seu fazer literário e de sua inspiradora avó (a mesmíssima de AvóDezanove e o segredo do soviético e outros livros seus).
Ao lado do auditório do BNB (agora funcionando no Centro de Referência dos Professores, ali onde já foi o velho Mercado Central), fomos tomando conhecimento de outros livros do escritor: Aprendisajens com o xão (poesia), A bicicleta que tinha bigodes e o recente Uma escuridão bonita (infanto-juvenis, mas não só, maravilhosamente ilustrados por Antônio Jorge Gonçalves). De noite ficou o convite para que assistíssemos no dia seguinte, no Sobrado José Lourenço, ao documentário sobre Luanda Oxalá cresçam pitangas.
E o bate-papo, o documentário e as conversas posteriores deixaram em nós um gostinho de quero mais, uma curiosidade de maior conhecimento não somente sobre o autor, mas sobre esse país tão parecido com o nosso, sobre esse povo tão alegre e sofredor como o nosso; também deixou em mim uma saudade dos anos 1980, quando eu dava meus primeiros passos literários e tomei conhecimento de Angola através de um de seus maiores escritores: José Luandino Vieira, de quem me tornei leitor fiel e admirador incondicional.
               MILTON DIAS
 
A melhor notícia que poderia ter a literatura cearense este ano (dos 30 anos de ausência do fundamental escritor de As cunhãs) foi a de que finalmente o romance perdido de Milton Dias vai ser publicado. Desde os anos 1990 que ouço falar no misterioso A senhora da sexta-feira, deixado inédito pelo famoso cronista. Várias vezes perguntei ao amigo Sânzio de Azevedo sobre o livro, se ele tinha notícias, se havia lido... Ele me respondia que apenas tinha ouvido vagas notícias. De Milton Dias tive o prazer de ainda ser leitor de suas crônicas no jornal O POVO, bem antes de sonhar em escrever; depois tive também o prazer de ler seus livros, desde o póstumo Relembranças aos mais raros, adquiridos em sebos (alguns até com seu autógrafo).
Finalmente, e após três décadas, vamos ter a oportunidade (e o prazer) de ler aquele que foi o “canto do cisne” de Milton Dias, seu livro inédito dado até pelos amigos mais próximos como perdido: sei apenas que ele conta a curiosa história de uma bem casada jovem, que se chama Mafalda, da alta-sociedade, e que ela misteriosamente morre na casa de um suposto amante... de mais não sei, e se soubesse não contaria. Pois quem quiser saber vá quinta-feira próxima (dia 7 de novembro), às 19h, ao Ideal Clube, onde o livro será lançado.
 

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