segunda-feira, 12 de setembro de 2011

                                       


TROCA DE IDEIAS - CCBNB FORTALEZA
O FANTÁSTICO CEARENSE N’O CRAVO ROXO DO DIABO

ESCRITORES CONVIDADOS: 
Pedro Salgueiro (pesquisa e organização)
Raymundo Netto (ilustração)

MEDIAÇÃO: 
Carlos Vazconcelos (revisão e cotejamento)




A Literatura Fantástica, produzida no Ceará entre os séculos XIX e XXI, reunida numa coletânea composta por 172 contos, 60 poemas e 17 trechos de romances. "O Cravo Roxo do Diabo" desafia a coragem dos leitores com narrativas de horror, lendas sertanejas e causos de mistério. A coletânea foi organizada pelo PEDRO SALGUEIRO com a colaboração de SÂNZIO DE AZEVEDO e O POETA DE MEIA-TIGELA.

Auditório do Centro Cultural Banco do Nordeste Fortaleza - 3º andar
(Rua Floriano Peixoto, 941 – Centro – fone: (85) 3464.3108)
15 de setembro de 2011 (quinta-feira)
18h
90 min
Produção: Paula Izabela
Twitter: @paulaizabela
Orkut e Facebook: paulaizabela@ig.com.br
Viver me Despenteia: paulaizabela.blogspot.com

                           
No último dia 29 de agosto, data em que o município de Jaguaretama comemorou o 146º aniversário de emancipação política, o filho da terra – Bernivaldo Carneiro –  atendendo a convite da Prefeitura Municipal e da Câmara de Vereadores, lançou Devaneios, Delírios & Desamores. Este evento se deu em solenidade conjunta de entregue de Títulos de Cidadão. Além do público em geral,  participaram autoridades e políticos: Deputados Federais e Estaduais, Prefeitos e ex-prefeitos, Vereadores e ex-vereadores. A obra e o autor foram apresentados pelo escritor-acadêmico Nicodemos Gomes Napoleão, tendo ainda se pronunciado o Deputado Federal Danilo Forte, o Prefeito de Jaguaretama Afonso Saldanha, o Vereador de Banabuiú Daniel Bandeira e o jornalista Valdízio Barreto, que também fez o papel de cerimonialista e que, a exemplo do prefeito Afonso Saldanha, também foi colega de sala de aula de Bernivaldo Carneiro.
Nicodemos Gomes Napoleão

 

sábado, 10 de setembro de 2011




                                    SISTEMA MÉTRICO

                                         O Brasil adota
                                   como medida de área
                                      campos de futebol

                                              
                 Frederico Régis

quinta-feira, 8 de setembro de 2011



                                           Resenha
De volta ao passado: a encantadora Fortaleza do século XIX
por Aíla Sampaio

Um conto no passado, cadeiras na calçada, romance de Raymundo Netto, é uma viagem no tempo, um encontro com uma Fortaleza poética e provinciana que só a imaginação pode reconstruir.  De mãos dadas com Américo Lopes, o protagonista e narrador, passeamos pelas calçadas do início do século XX e andamos pelas ruas ‘descalças’ de uma cidade menina que parece se fazer mulher aos olhos do leitor.
No livro de Raymundo, o narrador é um senhor de mais de 80 anos que, após receber um pacote de cartas de seu amor de juventude, compreende a razão de ter vivido tanto, e resolve contar a sua história como um modo de eternizar seu romance interrompido pelo destino. Trata-se de uma narrativa cíclica, cujo intróito pode perfeitamente ser colado ao final para atar as pontas do novelo da vida do personagem.
A narrativa memorialista, de que se vale o autor, tomou impulso nos anos de 1970, com o romance-reportagem, uma tendência pós-moderna que se alicerça na transdiscursividade. Segundo Walnice N. Galvão (2004), o memorialismo, há tempos praticado no país, deu um salto de qualidade ao surgir a obra de Pedro Nava: “com uma capacidade invejável de reconstituir os ambientes de sua ancestralidade até várias gerações, e criando com liberdade o que não podia propriamente reconstituir, Pedro Nava acaba por fazer também um pouco de história imaginária, ou do imaginário. Ergue-se ante nossos olhos o passado de Minas”. A narrativa biográfica tem, pois, esse mérito de reconstituir, utilizando a trajetória de um personagem real, a trajetória de uma geração, a história de uma época e de um espaço. Assim ocorreu com Pedro Nava, que juntou imaginação e memória nos relatos de suas experiências; com Marcelo Rubens Paiva, em seu Feliz ano velho, livro que conta o acidente que o deixou paraplégico e os dias que o sucederam, entre outros que, ao modo de Graciliano Ramos, Érico Veríssimo e Raquel de Queiroz, transfiguraram para a literatura episódios de suas histórias. No Ceará, destaca-se Milton Dias com suas crônicas de memórias.
Essa opção por narrar-se, ou seja, transformar-se em personagem, é curiosa e suscita uma reflexão sobre o significado da experiência vivida tanto para quem a expõe, no momento em que a expõe, pois já não é a mesma pessoa que viveu os fatos, como para o leitor. Marta Campos (1992 p.28-9) faz algumas considerações a esse respeito: “Quando um autobiógrafo confere um significado a um tempo passado, ele certamente optou por um dos muitos significados que o acontecimento pode ter tido ou talvez tenha conferido ao fato um significado totalmente novo, que ele só adquiriu muito tempo depois. Este significado, por sua vez, revela muito mais sobre a situação do autobiógrafo no momento da escritura do que sobre o homem à época do acontecimento”.
O livro de Raymundo Neto, embora traga uma narrativa autobiográfica, não confunde o narrador com o autor. O velho Américo, personagem fictício, conta sua trajetória desde a infância, na primeira década do século XX, quando perde os pais e passa a ser criado por uma tia. Paralelamente, conta-se a história da cidade, tendo-se, dessa forma, dois personagens centrais: Américo e a cidade de Fortaleza.
A onisciência do narrador em 1ª pessoa não torna o relato inverossímil, pois desenrolam-se fatos passados, utilizando-se assim de um meio fundamental para tornar o relato crível. Tudo já foi consumado, vivido. O personagem Américo é ficcional, mas a cidade e sua história são reais e fundem, num só espaço e tempo, verdade e ficção, conduzindo o leitor nessa ambivalência que o leva a duvidar se Américo é apenas um ser de papel.
A cidade
A cidade é desenhada em sua arquitetura e pelos fatos debulhados desfilam cenas moldadas nos espaços da época, como as ruas do centro da cidade: Guilherme Rocha, Barão de Aratanha e Formosa, a Praça do Ferreira, a Coluna da Hora, a Farmácia Osvaldo Cruz, o Café Java, o Maison Art-Noveau, o Café Riché, a lanchonete Leão do Sul, o Passeio Público, a Confeitaria Crystal, o Cine-Teatro Majestic, o Cine São Luiz, o Clube Iracema, o Estoril, a Cidade da Criança (antigo Parque da liberdade, onde fica a Ilha do Cupido), o Cemitério São João Batista, a Igreja do Pequeno Grande, a Praça General Tibúrcio, o Palácio da Luz, a cadeia pública, os palacetes, tudo cenário da vida de Américo Lopes, o menino órfão cuja vida se confunde com a da própria cidade em que nasceu e viveu.
A habilidade com que os espaços e os acontecimentos reais são colocados no relato dá a impressão de que tudo é real. Américo fala sobre o Jornal O Pão e a Padaria Espiritual, seus mentores, cita os nomes de guerra dos padeiros e até trechos do estatuto, tudo contextualizado em encontros com amigos, um deles, não despretenciosamente “primo da Sra. Maria do Carmo. Ela, há vinte anos residia na rua do trilho e casara com um alferes da polícia na Igreja do Patrocínio” (p.22) uma referência explícita à personagem de A Normalista, romance de Adolfo Caminha... não apenas uma referência, mas um registro da contemporaneidade de ambos, num jogo intertextual bem construído.
Américo – o menino e o homem.
O menino Américo Lopes, órfão de pai e mãe, é criado pela tia e madrinha, D. Severina, “viúva de natureza extremamente afável, conhecida pelo apelido de Sílvia” (p.12). Ela e o menino viviam da pensão deixada pelo marido dela (que morreu na época da grande seca) e dos serviços de costura que ela fazia para a vizinhança.
Ainda bastante jovem, começa a trabalhar como vendedor na sapataria do Sr. Campos, pai de Daniel, seu colega de colégio e amigo, um rapaz folgazão e desonesto, que rouba o pai e vive de armações.  Em uma de suas provocações ao pai, convida o amigo para um baile na casa de amigos da família e leva-o vestido em um paletó (subtraído do guarda-roupa do pai) reformado, expondo-o ao ridículo. Américo começa a perceber a personalidade do companheiro, mas não se abstém de sua amizade, pois necessita do emprego e sonha com uma promoção a gerente da loja.
Na festa, conhece Olívia, uma bela moça que admira ao piano. Rouba um poema de Antero de Quental para impressioná-la e vivem um idílio até a revelação fatal: ela é casada com um rico barão, casamento por conveniência, para saldar dívidas da família, e não pode viver seu amor com o jovem rapaz. Juntos, passeiam pela cidade e descobrem a poesia da vida. Após viver uma noite de amor e na iminência de uma despedida, desesperado para não perdê-la, querendo convidá-la para fugir com ele, Américo pensa em roubar o cofre do patrão, e, num ato inconsequente e imaturo, vai à sapataria, onde encontra Daniel se apossando do dinheiro.  Após a discussão, Américo permanece no local e é preso como ladrão. O pai de Daniel sabe a verdade, mas não quer expor publicamente o filho e só retira a queixa quando a dívida do roubo é paga, mais tarde se sabe, pelo marido de Olívia que, durante a prisão do amado, já voltou à sua casa no Rio de Janeiro.
A família de Daniel vai embora de Fortaleza, e Américo, aos poucos, retoma a vida, sofrendo a perda da tia, mas sempre criando forças para recomeçar. Consegue emprego nos Correios, casa-se com Guilhermina (Guiné) exatamente na época em que termina a segunda Grande Guerra Mundial. Com ela tem dois filhos: Victor e Cristina, levando uma vida pacata e confortavelmente feliz até a morte de sua companheira.
Vivendo já a velhice, recebe, um dia, a visita de Laura, filha de Olívia, que lhe entrega um pacote com cartas e um bilhete onde revela que Laura, sua única filha, não era filha do barão; é, na verdade, filha de Américo, fruto da única noite de amor que tiveram. Fica sabendo que Olívia morreu cedo e o barão voltou a se casar com outra mulher. Ele entende a dimensão do amor que viveu com Olívia e se propõe escrever sua história, cujo relato constitui o romance Cadeiras na calçada:
No quarto, passei a cismar sobre a minha vida, toda ela, nos momentos e caminhos que me fizeram ser o que hoje eu sou
Recapitulando os desastrados anos da minha vida, conclui o porquê de ainda estar vivo. Precisava saber, não poderia partir desse mundo sem saber, e agora finalmente eu estava pronto.
Abri o lenço à minha frente e reconheci a letra feita às pressas com o furor de quem está arquitetando um grande plano de paixão: Não esqueças de me lembrar que não foi apenas um sonho! “Voltarei a ti...Sempre!”  “Voltarei a ti...Sempre!”  ... por um momento senti-me naquele quarto acolhido nas asas e no sorriso de Olívia. Peguei o lenço e busquei seu cheiro: não havia nenhum, não havia nada! Pobre Américo, pensei, que sorte o destino lhe pregara. Chorei copiosamente um pranto esquecido. (p.144)
Um conto no passado é bem mais que um romance memorialista; é uma história de amor; é um registro histórico poético, um resgate dos espaços da cidade, da sua literatura, da sua música, dos seus símbolos, como o Bode Yoyô, a figura de Chico de Matilde, o Dragão do Mar, e tantas nuanças perdidas no tempo que precisam ser reativadas no imaginário das novas gerações.
Embora seja um romance contemporâneo, cujo tempo narrativo é o passado, a linguagem não peca quanto à adequação com o período retratado e a idade do narrador. Raymundo Netto consegue seduzir o leitor a segurar a mão do velho Américo e percorrer a cidade menina de um século atrás, envolvendo-o nas histórias de amor que se eternizaram em sua memória anciã... é como se alguém colocasse as cadeiras nas calçadas do tempo e se pusesse a contar sua vida apaixonadamente. Além dos cenários bem descritos, a obra recorre ao registro iconográfico e faz com que a saudade do tempo não vivido se revele no coração do leitor contemporâneo.

PARA SABER MAIS
CAMPOS, Marta. O desejo e a morte nas memórias de Pedro Nava. Fortaleza: Edições UFC, 1992.
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 1995.
GALVÃO, Walnice Nogueira. “A voga do biografismo nativo” http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142005000300026&script=sci_arttext . Acesso em 14/10/2008
NETTO, Raymundo. Um conto no passado: cadeiras na calçada. 2ª.ed. Fortaleza: Imprece, 2009.



segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Fotos da festa realizada nos dias 2, 3 e 4 de setembro na Fazenda Lagoa Redonda, município de Morada Nova/ CE, em que celebramos o 83º aniversário natalício do Sr. José Carneiro da Silva, pai do Bernivaldo Carneiro. As festividades, que entre familiares e amigos (inclusive quatro poetas de quinta: Bernivaldo Carneiro, Haroldo Felinto, Pedro Salgueiro, Silas Falcão e da acadêmica Oneida Pinheiro) contaram com a presença de aproximadamente 200 convidados, foram compostas por uma missa celebrada à tardinha/ noite do sábado, seguida por uma cantoria até a madrugada de domingo, dos repentistas Louro Branco e José Cardoso.
Silas Falcão, Pedro Salgueiro e Sousa
Sr. Zé Carneiro, Bruno (filho do Bernivaldo), Sousa e Daniel.
Espantando os roncos do Pedro Salgueiro
Rosa, mulher do Sr. Zé Carneiro, desossando o boi
Açude dos Carneiros
Sem camisa, Daniel, vereador em Banabuiu
Na rede, Anastácia e sobrinha
Sábado de manhã
Vestindo preto, a alegre Oneida e convidados
Os repentistas Louro Branco (E) e José Cardoso
Noite de sábado
Sábado de manhã. Virada de noite dos boêmios

sexta-feira, 2 de setembro de 2011



                   COLÔNIA

Frederico Régis

Vou cantar uma pedra
mas ficarei sentado
diante da revoada

Vou adentrar o lago
abraçado às colunas perdidas
da velha Grécia
mas não gritarei socorro

Vou silenciar a perda do teu amor
já anunciado
e te entregar de bandeja
aos colonizadores

Mas deixo encravadas
pegadas que me ligam a ti por sobre
as águas do mar

quinta-feira, 1 de setembro de 2011


                                              
                                         O Sono e o Sonho

Pedro Salgueiro para O POVO
Sempre dormi muito tarde. Conto nos dedos as vezes (geralmente estando doente ou depois de uma farra durante o dia) em que dormi antes da meia noite. Minha mãe afirma que quando eu era menino passava a madrugada inteira andando pelos terreiros com o velho rádio de casa, ouvindo notícias dos lugares mais distantes. Geralmente ela tinha que desligar o aparelho, que chiava junto comigo na redinha encardida estirada na sala da frente, já quase de manhã.
Sinto-me desconfortável quando estou num lugar em que as pessoas dormem cedo, devido a isso raramente aceito dormir na casa dos amigos em minhas muitas viagens. Mas, mesmo evitando ser hóspede em território alheio, não foram poucas as situação deverasmente desconfortáveis em que me meti, como a de ter que passar uma noite inteira acordado tendo que ouvir todos os ruídos noturnos da casa desconhecida.
Não, prefiro o quarto soturno de uma pousada, em que eu possa sair e entrar até de manhã, em que eu possa assistir à programação da TV até quase de manhã. Não apenas para evitar ser incomodado, mas principalmente para não incomodar os outros... que é uma das coisas que, do fundo do coração, mais detesto.
E como acordo cedo, pois sempre trabalhei pela manhã (que pra mim é o pior período do dia, então nada mais justo do que ocupá-lo com a pior ação do dia), sempre dormi muito pouco. Ando por aí bocejando, olhos lacrimejantes demonstrando um restinho de noite.
Talvez daí venha a fama de preguiçoso, que carrego desde menino. Dos pais, dos amiguinhos, dos parceiros de futebol, dos colegas de trabalho... e hoje principalmente dos colegas escritores, que afirmam sem dó nem piedade que “durmo” em cima de um texto por anos a fio. Que levo séculos para publicar um livro, que demoro anos para fechar um conto... que divago semanas para fechar esta mínima crônica, que para não fugir à regra estou entregando em cima da hora.

P.S.: A  meu favor (e mal comparando) apenas a companhia de um de meus escritores preferidos, o poeta Mario Quintana, que escreveu o livro Da preguiça como método de trabalho e que, por sempre entregar sua croniquinha de última hora (portanto na “hora H”), quando muitas vezes o motoqueiro da Zero hora já estava buzinando em sua porta, resolveu dar à sua coluna o insólito nome de “Caderno H”.