terça-feira, 22 de abril de 2014



Fracassado Império – moedas da Itália fascista

Paulo Avelino


Tem o valor de uma lira e a cara do Rei – não por acaso parecendo um prócer do Império Romano. No verso figuram o escudo da Casa de Savóia, a águia, o fascio romano (feixe de madeiras) e o machado, além do nome “Itália”. Também a data de 1940 e o número romano XVIII – este rememorando o tempo em anos que se passou desde a Marcha dos Camisas Negras sobre Roma em 1922.

A moeda de 50 centesimi possui quase o mesmo – excetuando que data de 1941 e portanto o número é XIX. Ambas têm na frente o nome de Giuseppe Romagnoli, o escultor que as cunhou.

Não é minha intenção analisar de maneira completa essas duas moedas já antigas em minha coleção, mas revelar as histórias – de sangue, dor e coragem, e até de elegância, que existem em apenas uma palavra nelas cunhada.

Vittorio Emanuele III Re e Imp – diz a frente. Vítor Emanuel (1869-1947) era o Rei da Itália desde 1900. Mas a moeda também possui a abreviação “Imp” – Imperador.

Benito Mussolini agarrou o poder na tal Marcha e não mais o largou. Seus fascistas não acreditavam na democracia – mas acreditavam na expansão colonial sobre povos mais fracos. No ano de 1935 o fascismo atingiu o auge de sua popularidade. Aproveitando isso, Mussolini ordenou a invasão da Etiópia – um dos poucos países independentes da África.

Aos etíopes não faltou coragem – e sim armas e apoio. Ingleses e franceses pouco ou nada fizeram para conter esta violação ao Direito Internacional. Um apelo do Rei Hailé Selassié à Liga das Nações apenas expôs a fraqueza desta. Muitos dos soldados da Etiópia portavam lanças e fuzis velhos de quatro décadas contra as armas modernas do Estado fascista. A derrota foi inevitável e os italianos ocuparam o país.

No dia 9 de Maio de 1936 Mussolini declarou Vítor Emanuel III como “Imperador da Etiópia”.  Seu representante no local era o Vice-rei da África Oriental Italiana.

O Marechal Pietro Badoglio foi o primeiro deles. Fora embaixador da Itália no Brasil. Contra as leis internacionais, usou armas químicas contra os etíopes. O segundo foi o também Marechal Rodolfo Graziani. Alguns etíopes jogaram granadas contra ele. Atendido a tempo, salvou-se e ordenou o massacre conhecido na Etiópia como Yekatit 12 – no qual os italianos assassinaram cerca de trinta mil etíopes. Ganhou o apelido O Açougueiro.

Sucedeu-o Amedeo Umberto Isabella Luigi Filippo Maria Giuseppe Giovanni di Savoia-Aosta, o príncipe Amedeo, segundo Duque d´Aosta – o quintessencial aristocrata até na elegância com que aparece na foto. Coube-lhe ver a destruição do “Império”, invadido pelos ingleses em 1941. Amedeo era um cavalheiro. Até mesmo seu inimigo Hailé Selassié quis visitar sua viúva após a guerra, sendo dissuadido pelo novo governo italiano. O Duque morreu de tuberculose em um campo de prisioneiros.

Em 1943 o rei renunciou oficialmente ao título de Imperador. Restaram apenas algumas moedas, testemunhos da história.



Grande abraço, Paulo 


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