Fracassado Império – moedas da Itália fascista
Paulo Avelino
Tem o valor de uma lira e a
cara do Rei – não por acaso parecendo um prócer do Império Romano. No verso
figuram o escudo da Casa de Savóia, a águia, o fascio romano
(feixe de madeiras) e o machado, além do nome “Itália”. Também a data de 1940 e
o número romano XVIII – este rememorando o tempo em anos que se passou desde a
Marcha dos Camisas Negras sobre Roma em 1922.
A moeda de 50 centesimi possui
quase o mesmo – excetuando que data de 1941 e portanto o número é XIX. Ambas
têm na frente o nome de Giuseppe Romagnoli, o escultor que as cunhou.
Não é minha intenção
analisar de maneira completa essas duas moedas já antigas em minha coleção, mas
revelar as histórias – de sangue, dor e coragem, e até de elegância, que
existem em apenas uma palavra nelas cunhada.
Vittorio Emanuele III Re e
Imp – diz a frente. Vítor Emanuel (1869-1947) era o Rei da Itália
desde 1900. Mas a moeda também possui a abreviação “Imp” – Imperador.
Benito Mussolini agarrou o
poder na tal Marcha e não mais o largou. Seus fascistas não acreditavam na
democracia – mas acreditavam na expansão colonial sobre povos mais fracos. No
ano de 1935 o fascismo atingiu o auge de sua popularidade. Aproveitando isso,
Mussolini ordenou a invasão da Etiópia – um dos poucos países independentes da
África.
Aos etíopes não faltou
coragem – e sim armas e apoio. Ingleses e franceses pouco ou nada fizeram para
conter esta violação ao Direito Internacional. Um apelo do Rei Hailé Selassié à
Liga das Nações apenas expôs a fraqueza desta. Muitos dos soldados da Etiópia
portavam lanças e fuzis velhos de quatro décadas contra as armas modernas do
Estado fascista. A derrota foi inevitável e os italianos ocuparam o país.
No dia 9 de Maio de 1936
Mussolini declarou Vítor Emanuel III como “Imperador da Etiópia”. Seu
representante no local era o Vice-rei da África Oriental Italiana.
O Marechal Pietro Badoglio
foi o primeiro deles. Fora embaixador da Itália no Brasil. Contra as leis
internacionais, usou armas químicas contra os etíopes. O segundo foi o também
Marechal Rodolfo Graziani. Alguns etíopes jogaram granadas contra ele. Atendido
a tempo, salvou-se e ordenou o massacre conhecido na Etiópia como Yekatit 12
– no qual os italianos assassinaram cerca de trinta mil etíopes. Ganhou o
apelido O Açougueiro.
Sucedeu-o Amedeo Umberto
Isabella Luigi Filippo Maria Giuseppe Giovanni di Savoia-Aosta, o príncipe
Amedeo, segundo Duque d´Aosta – o quintessencial aristocrata até na elegância
com que aparece na foto. Coube-lhe ver a destruição do “Império”, invadido
pelos ingleses em 1941. Amedeo era um cavalheiro. Até mesmo seu inimigo Hailé
Selassié quis visitar sua viúva após a guerra, sendo dissuadido pelo novo
governo italiano. O Duque morreu de tuberculose em um campo de prisioneiros.
Em 1943 o rei renunciou
oficialmente ao título de Imperador. Restaram apenas algumas moedas,
testemunhos da história.
Grande abraço, Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário