Um
evento como o I Encontro SESC de
Literatura e Artes dos Sertões é um espaço privilegiado para
compreendermos, de forma radical e urgente, que o imenso e generoso acervo das
artes e das literaturas do dito povo brasileiro não pertencem ao passado porque
atravessaram com vivacidade surpreendente os séculos, as raças e as suas
fusões, as nacionalidades e as transnacionalidades. Nos sertões, temos o homem
e a mulher, os sujeitos todos feitos de alguma brasilidade a reinventar-se, universal
e partícula, em sua projeção transbarroca, divididos entre a intuição e a
razão, entre Deus e o diabo, o espírito e a carne, o inverno e a seca, a
alegria e a angústia, o amor e o ódio, o ontem e o hoje. Este homem, visto como
ser diverso e genérico, recebe dos vivos e dos mortos o “pão do espírito” e
renasce todos os dias. As culturas dos sertões fertilizam-se, encontram-se, incessantemente,
com outras tradições e dissoluções culturais em movimento no espaço e no tempo;
e constroem-se no presente, como contemporaneidade, projetando-se para o
futuro. Afinal, não nos esqueçamos, que “contemporâneo” é o que foi construído
ontem, visto que, no “aqui e agora”, estamos ainda pondo no forno as novas
“contemporaneidades” que, amanhã, irão também compor os acervos das “padarias
espirituais”, passados e coletivos. Ao pensar sertões tão múltiplos, estamos
pensando Brasis, estamos heranças, estamos pensando intercâmbios
contemporâneos, estamos pensando tradições e vanguardas.
ROSEMBERG
CARIRY
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