quinta-feira, 24 de janeiro de 2013


“Férias”, de Pedro Salgueiro para O Povo

                                                 
(Pedro Salgueiro em férias... outra vez!)
Janeiro, mês de pegar a criançada e sair por aí descobrindo as férias.
Principalmente encontrar um jeito de conciliar o lazer de adultos e crianças. Forçar uma maneira de despregá-los dos games, dos penduricalhos eletrônicos que os acompanham durante o ano inteiro. Reduzir a quase zero o tempo de TV. Uns dias de praia, outros de cinemas e livrarias, depois tentar seguir rumo ao interior para rever primos, tios e avós: manter e solidificar raízes.
Desacelerar o ritmo frenético a que a gurizada foi submetida durante o período letivo passado: aulas, tarefas escolares, esportes, horários regrados para estudo e sono... fazê-los sentir o mundo usando todos os sentidos: olhar passarinhos no campo infelizmente seco, sentir o cheiro do chão após o sereno indeciso em se tornar chuva, descobrir desenhos nas estrelas lá no fundo do quintal, por trás do limoeiro que filtra a luz vinda da cozinha, ou simplesmente conversar muito, dar risadas descompromissadas deste nosso mundinho sem jeito e sua ridícula seriedade.
Desacelerar também o próprio juízo, despregá-lo do trabalho maçante da repartição, das rotinas burrificantes que nos acompanham pelos meses afora; tentar, enfim, se soltar das amarras passadas, penadas, pesadas. Começar um novo regime, ao mesmo tempo em que aumenta sem dó a cervejinha libertadora e o preguiçoso sono reparador, usando as mesmas velhas formulas fatalmente fadadas ao fracasso.
Olhar o tempo, simplesmente, sem pressa; deixar as crianças soltas no terreiro, dando uns gritos de vez em quando para alertá-los sobre as motos e carros. Dar uns gritos de quando em vez para simplesmente acordar a gente mesmo...
Reler Infância, do fundamental Graciliano; saborear Meus Verdes Anos, do delicioso Zé Lins; descobrir (e me espantar) com A Cidade e a Infância, de José Luandino Vieira. Rabiscar uns projetos de contos que faz tempo martelam a cabeça, alinhavar historinhas começadas há anos.
Sonhar em vão que o ano vai demorar a engrenar... que estes míseros dias vão gotejar (devagarinho) com pena de nós.
Ou apenas juntar forças para costurar esta preguiçosa croniquinha de férias

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