sexta-feira, 22 de março de 2013


        DEZ MIL NOVECENTOS E CINQUENTA DIAS, SEM MILTON DIAS

POR SILAS FALCÃO

Há trinta anos morria um dos nossos maiores cronistas: Milton Dias. Era 9h de 22 de 03 de 1983, na Casa de Saúde São Raimundo. Óbito: miocardia. Cronista semanal d´O Povo, neste 22/2013, nenhuma lembrança pública. Nem crônica em sua homenagem. Sequer aplausos coletivos.

Mas nem todos agem assim. Milton Dias é nossa eterna relembrança.
Nos dias 06 e 07 de junho de 2011, o SESC- Fortaleza realizou o III Seminário Revelando a Literatura Cearense com o tema Milton Dias - o eterno contador de estórias. Foram duas noites de palestras com o escritor e amigo de Milton Dias, prof. Pedro Paulo Montenegro que falou sobre Crônicas e memórias de Milton Dias. A professora de literatura Suely Oliveira abordou a sua dissertação: Milton Dias - a vida que poderia ter sido e que não foi. Depoimentos de ex-alunas  de francês do cronista e declamações de trechos das crônicas de Milton Dias com o Grupo Converso diversificaram o conteúdo literário do Seminário.

Incorporando aos colégios municipais e estaduais, O SESC-Fortaleza realiza o Projeto Revelando a Literatura Cearense, onde parceiros do SESC falam sobre autores cearenses. Mensalmente eu participo deste projeto com Milton Dias: entre a dor e o riso. 
Em 2010, através do Centro Cultural Banco do Nordeste – CCBN – mediei o Percurso Urbano Passeio com Milton Dias, título de uma crônica homônima de Carlos Roberto Vazconcelos.
Com o apoio do jornal O Povo desenvolvo, através do banco de dados deste jornal, pesquisas  das crônicas que Milton Dias escreveu nos seus 26 anos de cronista semanal. 

      

          
        CONFISSÃO
Quando eu morrer, Mãe,
esquece este filho,
tão triste, tão pobre,
que só pede uma planta no túmulo.
Quando eu morrer, Mãe,
tudo o que eu peço
é uma oração crepuscular.
Quando eu morrer, Mãe,
perdoa a falsa alegria,
o riso gratuito
a alegria postiça
que escondia uma tristeza tão grande
que você, Mãe, nunca suspeitou.
Quando eu morrer, Mãe,
perdoa os erros todos deste filho
que nunca deixou de ser criança.


Rua da Goela - IPU - onde Milton Dias nasceu.

1960

1966

1966
1971
1974
1977
1977
1978
1978
1982
Homenagem póstuma-1983

Milton Dias deixou inédito o romance A senhora da sexta-feira e  Memórias de um professor de francês, sobre sua experiencia como professor da casa de cultura francesa- UFC.

“Quando Milton Dias morreu, na manhã de 22 de março de 1983, deixou vago o seu lugar de melhor papo das rodas palestreiras desta terra de mares tão verdes, sábados líricos e tantas coisas que contar. Seus amigos o choraram em prosa e verso e alguns ainda apontam para o céu, em noites de nuvens escassas e muito uísque, de onde ele, feito estrela, ilumina a saudade de todos. Foi assim que Olga Stela o viu, quando produziu o poema”
 
                                     BALADA PARA O ENCANTADO
Na Ilha do Homem Só
No barco da Capitoa

Nas velas todas do mar
Lá está ele
Encantado

Nas cores do sol poente
Em cada boca da noite
Na brisa do alvorecer
Lá está ele
Encantado

Na várzea do Sete-Estrelo
No disco da lua cheia
No bojo da madrugada
Lá está ele
Encantado

Na Viagem do Arco-Íris
Na ciranda das Cunhãs
Nas ruas de Fortaleza
Lá está ele
Encantado

No compasso da viola
Nas noites de sereneta
Em cada gole de vinho
Lá está ele
Encantado

Nos pagos do Massapê
Na neblina que esvoaça
E abraça a Bica do Ipu
Lá está ele
Encantado

Nas ondas verdes do mar
De sua terra natal,
Nas águas do rio Sena
Lá está ele
Encantado

Nas baladas do sino
No toque da Ave-Maria
Na suavidade da tarde
Lá está ele
Encantado

Embaixo do pé de jambo
Onde a relva é sempre verde
Na morada mais singela
Lá está ele
Encantado

Na saudade que não passa
Em cada instante que passa
Na memória mais constante
Continua ele
Encantado

Continuará encantado
Como a estrela que morre
E seu brilho no firmamento
Permanece
Encantando”


                                                 SOBRE A AMIZADE
Amizade não se impõe, não se força, não se transfere, não se delibera, tem a sua linguagem própria, até nos silêncios, nos gestos mais simples; é mais sólida do que o amor, muitas vezes baseado apenas na afeição física, que os anos podem desgastar – enquanto a amizade se aprimora, se fortifica, melhora com o tempo. É que nem o vinho”
Cartas sem resposta
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário