quarta-feira, 11 de junho de 2014



ESPÍRITO ESPORTIVO

“Eu me amo, mas não me admiro”.
= Érico Veríssimo =

Quando o clima de Copa do Mundo insinua-se entre nós abrindo um sorriso de orelha a orelha ou tecendo rugas de preocupações na testa de outros, nada mais oportuno que enfocarmos um tema futebolístico. Perdoem-me os que não gostam, mas esta era a atmosfera que eu respirava em meados de abril de 2010: dias de pré-temporada do último mundial.

Pensando bem, futebol é o único esporte no qual tenho saldo positivo. Não como praticante; senão como torcedor. Além de apaixonado pela Seleção e pelo Tricolor de Aço, sou Porco na Terra da Garoa, Pó de Arroz na Cidade Maravilhosa, arrasto uma asa pela Raposa das Alterosas e ponho óculos para ver com bons olhos o também Tricolor dos aguerridos tchês. O bicho pega mesmo é quando entro em campo para destravar os músculos. Na arte de Pelé sequer faço lembrar Dom Dieguito. Para ser sincero nem calço as chuteiras de um jogador regular. Mas sou teimoso e não dou bolas para os que me veem como um peladeiro aquém dos medíocres. Até fazem uso dos jargões futebolísticos para me classificar: “Perna-de-pau, cabeça-de-bagre, bola murcha, aberração das quatro linhas...” — diz quem já experimentou jogar ao meu lado e perdeu, obviamente.

Falando assim até parece que eu me divirto com tamanha falta de vocação; o que não é verdade. Neste particular o meu sofrimento é tamanho, que só em lembrar a injustiça dos deuses do futebol, ao distribuíram pendores de craque pelo mundo afora, tenho os olhos afogados.

Enfim, uma inaptidão cheia de dissabores. Em parte, culpa da gorduchinha, que impiedosamente rechaça a cumplicidade que sempre procurei. Apesar de cheia de respeito. Sem nunca ter a ousadia de chamá-la de você. Mas a danadinha segue impiedosamente rebelde. Formal e avessa ao meu intento de tratá-la com cavalheirismo. Quando por força das circunstâncias chega até mim, é quicando, com efeito, cheia de nós pelas costas. Toda metida. Se achando e sem dar a menor chance de ser dominada, trabalhada, amaciada.

E se, nem nos verdes anos eu fui um amador de fino trato com o objeto da diversão, o que dizer agora quando já se foram décadas desde o tempo em que eu — caso levasse jeito para o ofício — poderia ter maquiado a idade? Ter me transformado em mais um gato dos gramados? Mas, nem isso!  De modo que hoje só me resta uma coisa: com o pretexto de marcar pontos contra o sedentarismo, seguir alimentando as comichões do verme da bola da forma desajeitada como eu sei fazer. Seguir ignorando as gozações dos adversários sem dar ouvido às vaias dos espectadores e relevando os xingamentos dos próprios companheiros de time. Sem querer, porém por força das circunstâncias, maltratando a pelota, distribuindo e recebendo caneladas e pisões.



Durante esta Copa pretendo escrever algumas tolices futebolísticas sobre este e outros mundiais. Aqui vai a primeira delas para divulgarmos em nosso Blog.

Abraços

Bernivaldo Carneiro


Um comentário:

Raymundo Netto disse...

Valeu, Bernie, eu que nada sei de suas intrigas e desavenças com a pelota, posso dizer que, pelo pouco que conheço, você não tem nada de perna de pau, ao contrário, é atleta dos melhores, campeão em sua categoria, reconhecido pelos amigos e, o que é melhor, até pelos adversários. rsrsr Abração

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