(Dedicada ao filho da Vivi e Miguel, que humildemente nascerá na sublime noite)
Há quem ache triste o Natal. Há quem critique o consumismo desenfreado a que foi transformada a tão nobre data. Há quem deteste os incontáveis símbolos importados. Há até quem espere pacientemente para se suicidar neste memorável dia (outros esperam até a passagem de ano).
Um dia conversando com um amigo que reside em São Paulo — e trabalha como segurança no metrô — ele me surpreende com a afirmação de que “neste período temos que estar atentos por aqui, pois muitos se matam!”. Concluindo, já conformado, que os Natais dele foram irremediavelmente estragados por tais sinistros acontecimentos.
Já eu não: sou um desvairado amante do Natal. Finda novembro e já curto alegremente as luzinhas de jardins, praças e residências (curiosamente nunca tive uma árvore enfeitada).
Entro em regressivo estado de espera.
Culpa de minha terrível infância feliz, de Dona Tizinha, que distribuía bolas e bonecas para as crianças pobres do meu Bairro das Pedrinhas, culpa do pai e da mãe que sempre compravam os brinquedinhos mais simples que fosse e deixavam embaixo das redes de todos os irmãos, assim meio de ladinho pra não serem respingados de urina.
Sou daqueles natalinos mais “bregas”, que põe coroa com fitinha vermelha na porta de entrada, que dependura desajeitadas luzinhas piscantes nas grades das janelas, que compra ainda hoje os discos de Roberto Carlos, enfim: que manda sonoros e-mails cafonas de Feliz Natal para os amigos.
Chega dezembro e deixo de lado o que esteja fazendo e passo a simplesmente esperar o bendito dia. Gosto e curto tanto que só paro de comemorar no Domingo de Páscoa, depois de ter ido impreterivelmente a Tamboril assistir à procissão do Senhor Morto.
Pedro Salgueiro
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