quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

                        Coisas Engraçadas de Não se Rir I

Raymundo Netto para o Jornal O Povo




No desenho, de Baptistão, da esquerda para a direita, Sérgio Buarque de Holanda, José Olympio, Jorge Amado, José Lins do Rego, Graciliano Ramos e Carlos Drummond de Andrade.

  
Por si somente, o encontro de e entre escritores já se refestelaria em páginas e páginas de livro de crônicas — e este, uma espécie de "caixa-preta", não se teria para quem oferecer diante de tantos ex-amigos. Ô povo engraçado... Não que tal graça seja emoldurada por piadas ou “tiradas” criativas — fatalmente irônicas e com endereço certeiro — ou coisas assim, mas na sua forma de ser, de pensar (ou não), de agir (ou não), nas manias, confusões mentais, neuroses, paranóias e elocubrações outras que, devidamente observadas e registradas em apontamentos — ou desapontamentos, no caso —, comporiam um compêndio de invejar a alienistas.
Há, sem dúvida, uma velada competição. Alguns são lidos, outros não; alguns já ganharam qualquer dinheiro com literatura, outros nunca; alguns são publicados em livros e/ou em jornais, poucos até com coluna fixa, ou são convidados pelos canais de TV para falar dois minutos sobre qualquer coisa — até sobre o que eles não sabem — enquanto outros apelam, quando muito, para blogues, mas com a certeza cabal de que a cifra de seus leitores — confirmada por “contadores” desembestados — é maior do que a audiência do Jornal Nacional — que, convenhamos, um dia (distante da era Boni/Bonner/Boninho/ Bond, o James) prestou.
Para alguns dos colegas, entretanto, vale a máxima: “Não basta ser bem sucedido; os outros também precisam fracassar”.
Então, quando aquele autor com pouco mais de visibilidade começa a ser convidado para escrever orelhas e prefácios de “neófitos”, sua vida — acompanhada de perto pela gentil curiosidade dos colegas — encosta-se às coxias de um inferno. Enquanto, não resta dúvida, cabe-lhe a honraria da distinção, por outro, os riscos lhe são ameaçadores. Sem ter coragem de "baixar a lenha" na obra do “amigo”, escreve pelas beiradas, se detendo mais na pessoa do autor, citando alguma vaga característica aqui e acolá de um texto ou de outro (o discurso, subgênero em que se insere, a pessoa do narrador...) — também se aproveitando dos títulos maiores, ou de algum prêmio ou título anterior, que é para ocupar logo a orelha — e se, mesmo após tanta acrobacia, não conseguir preencher meia folha de papel sem ofender o convidante, alega ter escrito pouco “para não enfadar” ou porque “não é elegante”, e conclui: “deixemos que a obra fale por si própria...” Também utiliza, o destemido apresentador, do recurso de atribuir o sucesso da obra ao tempo, tempo este que, geralmente, ele não ocupou para escrever aquilo.
Mais perigoso ainda é quando o autor se dá ao trabalho e faz questão de encontrar com seu "prefaciador" a contar em detalhes, sem isentar-se do menor deles, de todo o mirabolante processo criativo — a maioria sempre fala de "um sonho" —  de cada uma das peças de seu livro, certo de que tudo aquilo será engenhosamente utilizado.
Por isso, alguns apresentadores/resenhistas tascam logo: “trata-se de uma obra pós-moderna”. Como ninguém sabe exatamente o que significa ser “pós” ou “neo”, acaba por se convencer da originalidade de tal obra. Ou então, o fiel leitor, após conferir, ao final da orelha, a firma de autor reconhecido no gênero — às vezes, nacionalmente —, se impressiona, até por desconhecer que é de acontecer no meio — não raro —, daquele “medalhão” aceitar tal tarefa, desde que o autor convidante escreva a própria orelha (meio Van Gogh isso), e ele, generosamente — pasmem! — a assina, sabendo-se lá se, ao menos, a leu, pois que a tal livro, certamente, esse sim, não teve tempo meeeesmo...

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