quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011



                               No Velho Oeste (e sem armas)

Pedro Salgueiro especial para O POVO


Estamos ainda na segunda quinzena de janeiro e já temos o triste (louco, medonho, surreal) número de 114 mortos na cidade este ano (por enquanto, pois não vi os últimos noticiários). E não estamos em guerra civil (dizem), vivemos tempos de “paz”. Mas comparem nossa estatística de número de mortos com a de qualquer conflito armado mundo afora anunciado fartamente pelos meios de comunicação e verão que tal afirmativa é absurdamente falsa. Estamos em guerra, sim!!!! Guerra braba, descontrolada, cruel e injusta, pois quem tem mais grana para se proteger consegue ir escapando.

Vivo num bairro de classe média, remediada, de senhoras católicas, de artistas, funcionários públicos, estudantes: uma Gentilândia praticamente sitiada! Entregue à marginalidade da pobreza, da droga (que irmandade cruel essa entre o estudante universitário que divide um baseado com o louquinho da Marechal), do conluio entre a incompetência e o descaso de nossos três podres poderes.

Nosso minúsculo reino está condensado na democrática Praça da Gentilândia, onde o craque que outrora despontava no campinho entre mangueiras hoje é outro, cruel e sem possibilidade de gol. Ali, bem do ladinho, senhores e senhoras de preto pregam o fim de tudo, de todas nossas esperanças, e já quase anunciam o final do mundo. Em surdina preparam o golpe fatal: os velhos líderes (que um dia foram sonhadores jovens no Araguaia) organizam seus messiânicos seguidores para um ritual de suicídio coletivo que se realizará em breve na estação Benfica de nosso demoradíssimo metrô.

Enquanto isso, nossos meninos descem da Brasília, do Jardim América, dos mil buracos da Marechal e socializam na marra nossas parcas “riquezas”.

Enquanto isso, motoqueiros assassinos campeiam e matam nossos Eunucos e Eulinos.

Enquanto isso, nossos estudantes gazeiam aulas, fazem sinais de fumaça e perguntam (ou retornam?) ao pó.

E para nos proteger apenas o nosso Chapolim Colorado (de arco, cachaça e flecha), o índio Pelezinho.

E algumas piedosas senhorinhas, que preparam já as novenas de maio, quando Nossa Senhora (entre cânticos) peregrinará, de casa em casa, quase todo o bairro.

No lugar da hóstia o bolo de macaxeira, e do vinho, o copinho de Aluá.


Nenhum comentário:

Postar um comentário