quarta-feira, 30 de maio de 2012

                                                Grande Encontro
No dia 26/05, a ACE – Associação Cearense de Escritores – realizou na Casa Juvenal Galeno, um Grande Encontro com Academias e Associações Literárias da capital e do interior, grupo Sopoema de Maracanaú e outras instituições, para a comemoração do Dia das Mães. Cantores, declamadores, palestrantes e o lançamento do livro Licença poética, de Gilson Pontes, determinaram o conteúdo intelectual deste Grande Encontro que teve a participação de 130 pessoas.
A todos os participantes, nossos eternos agradecimentos.
Silas Falcão

Hamilton ao lado do filho poeta, Silas Façanha
Academia Maria Esther de Leitura e Letras
                             Bernivaldo Carneiro e Anastácia, a esposa.
Vazconcelos, Silas Falcão e Bernivaldo (detalhe da mão direita)
Cordelista Gervan Siqueira
Gilson Pontes e o livro Licença poética
        Prof. André e a palestra Mãe e literatura.

sexta-feira, 25 de maio de 2012


  CONVITE

O Presidente da Câmara Municipal de Fortaleza, vereador Acrísio Sena, convida para Sessão Solene de entrega da Medalha Boticário Ferreira a Raymundo Netto. Requerimento de autoria do vereador Machadinho Neto, aprovado pelos demais vereadores da Câmara. Na ocasião, será lançado o livro Os Acangapebas, de autoria do homenageado, ganhador do Edital de Literatura da Secretaria da Cultura de Fortaleza (2007) e do Prêmio Osmundo Pontes de Literatura da Academia Cearense de Letras (2011). Contamos com a divulgação e presença dos familiares e amigos.
Data: 30 de maio de 2012 (quarta-feira), às 19h30.
Local: Plenário da Câmara Municipal de Fortaleza (Rua Thompson Bulcão, 830, Luciano Cavalcante – Informações: 3444-8300).
Traje: Esporte fino

                               Sobre a Medalha Boticário Ferreira:
A Medalha Boticário Ferreira, maior comenda da casa, foi instituída em 1981 pela Câmara Municipal de Fortaleza para premiar o mérito cívico do cidadão que, em Fortaleza, se distingue pela notoriedade do seu saber, relevantes serviços à coletividade, dedicado à causa do município e exemplos de dedicação ao serviço público da cidade. O nome da comenda homenageia Antônio Rodrigues Ferreira, o Boticário Ferreira, político que se destacou como bom administrador quando exerceu o cargo de prefeito de Fortaleza (1843-1859).   

quinta-feira, 24 de maio de 2012


                                                      SR.VERSO

Por Silas Falcão, no IV Seminário Revelando a Literatura Cearense com o tema Silêncios e Vozes do Poeta Francisco Carvalho, realizado no teatro Emiliano Queiroz – SESC -, nos dias 21-22/05.

Ele não está na mídia. Permanece distante das festas literárias. Ele prefere a reclusão, a “solidão” de sua biblioteca, redescobrindo novas artes de cantar a vida, de elevar a alma. Poetas assim não formam uma população no universo literário. Francisco Carvalho, fala mansa, timidez assumida, faz questão de se manter afastado das igrejinhas literárias, das noites de autógrafos em clubes sociais e, em silêncio, realiza uma das mais sólidas obras poéticas do nosso país. Atentem para essas declarações do próprio poeta: “não faço questão de aparecer; a timidez faz parte de minha personalidade, sempre assumi uma posição mais reservada. Tenho certo pudor, certa preocupação de não me envolver com grupos; no meio literário há muitas vaidades”. Francisco Carvalho, mantendo-se à margem da confraria do elogio mútuo, não soma lenhas na grande fogueira das vaidades.
Com a publicação de um folheto de cordel sobre a seca no Ceará, Francisco Carvalho se inicia na poesia. Os anos eram 0 décimo quinto da sua existência. Esse cordel ressoava a influência dos cantadores de viola, cantadores ambulantes. Era natural que assim ele começasse.
Em minhas pesquisas/leituras para evoluir esta biografia afetiva do poeta da simplicidade grandiosa, assentei nestas páginas uma entrevista de 9 de abril de 1988, quando lhe é perguntado qual o papel da poesia: “é um instrumento de paz e solidariedade entre as pessoas. Assim como você ouve música para se apaziguar, você lê poesia. É sempre um instrumento de enriquecimento. Quando leio um grande poema sinto uma alegria interior inexplicável. A poesia deve emocionar. E se alguém se emociona lendo um bom texto, então está justificada a poesia”. E Francisco Carvalho emociona com sua produção poética, pela qual manifesta sua preocupação com a realidade social e a possibilidade de sua transformação. Ele poetiza as suas inquietudes metafísicas, a família, a terra, o amor, as mazelas sociais e a sua infância permanente, de quem declara “ser a pátria dos poetas, a matriz das nossas sensações, dos nossos alumbramentos, da nossa magia”.
Poeta de fôlego montanhoso, Francisco Carvalho transforma um acontecimento aparentemente corriqueiro ou um simples objeto em pura poesia, como se observa em MESA DE JACARANDÁ:
Nesta mesa de jacarandá
Já houve muita paz
O vinho já acendeu corações
Taças já entoaram
seus cânticos de cristais”.

Justificando a mesa deste poema, o poeta explica: “Éramos pobres, modestos agricultores. Nossa mesa era de imburana. Madeira comum no Nordeste brasileiro. Jacarandá, madeira nobre, só existe na Amazônia e em outras regiões privilegiadas. A mesa de jacarandá do poema vai por conta da imaginação poética. Afinal de contas, o sonho é a matéria-prima da poesia”.

Em 1939, ano da morte do seu pai, Francisco Carvalho, nascido em Russas em 11 de junho de 1927, após realizar estudos iniciais no Ateneu São Bernardo, de Russas, busca em Fortaleza outras imagens, inéditos burburinhos e espaços mais vivos se contrapondo aos clichês do cotidiano urbano da sua cidade natal, trazendo definitivamente para estas terras de Iracema, um poeta adolescente querendo se expandir, se aperfeiçoar, conquistar a sua singularidade poética através dos seus recursos verbais, pois como afirmou Mallarmé: “Não é com ideia que se faz versos, mas com palavras”.
Certa vez, falando sobre as origens da sua construção poética, Francisco Carvalho declarou: “Sem indignação não se produz boa literatura. Ninguém escreve de bem com a vida, com lugar no céu”. Na multidão poética que compõe a obra de Francisco Carvalho, existem épocas dolorosas, como as registradas em VERSOS AO PAI, quando este agonizou seis meses antecendentes a sua morte:
Volto a ser o menino que segurava o teu braço
pelas ruas de uma cidade vazia.
Só a manada dos ventos dialogava com
as aldravas que restaram de antigos invernos
e ríspidos estios de pássaros e nuvens
que se acasalavam no ar.

À morte, essa grandeza tenebrosa
com sua grinalda de espanto na cabeça,
já se desenhava em teu corpo
com suas teias de escárnio e seu odor de matéria que se decompõe
ao gargalhar das mortalhas dançarinas.

Expulsando-se da gargalhada das mortalhas dançarinas, o poeta pulveriza na sua escritura poética a esperança em uma nova estrutura espiritual para o homem, manifestada na poesia CANTO PARA A DIMENSÃO DO HOMEM:
Um homem é o que se atira à posse das estrelas
por serem do alto e puras.
O que se identifica pela chama
do seu amor às outras criaturas.
Um homem é o que acende a sua brasa
para aquecer o sono do vizinho.
O que põe o seu olho à escuta
da oculta beleza que mora no mundo.

Este é o canto do poeta preocupado com a grandeza humanística das pessoas.
                   
Filho de Clicério Leite de Carvalho e Maria Helena de Carvalho, Francisco Carvalho é um poeta que assume o papel de ser o interlocutor, o intérprete dos nossos anseios, dos nossos descontentamentos, das nossas fragilidades também simbolizadas na figura dos heróis. Necessitando manifestar a nulidade dos heróis, o poeta escreveu

NÓS, NÓS NÃO TEMOS HERÓIS:
Nós, nós não temos heróis
nem jamais os tivemos.
Afinal, para que servem os heróis e suas estátuas de granito ou mármore negro, seus cavalos de bronze, suas medalhas barrocas e as espadas que não passam de metáforas?
Para que servem os heróis se o ácido da chuva desdenha da glória dos homens e nem os pássaros se importam com eles?
Para que servem os heróis se nem sabem quem somos nem jamais ouviram falar dos nossos mitos e utopias?
Infeliz do país que necessita de heróis

Na página literária d’O Povo de 27 de abril de 1987, encontrei a belíssima e trepidante poesia ROSA DA PEDRA:
Vi uma rosa nascer da pedra
Beleza ardente
Como a de um ser soprado pela boca de um deus
Vi uma rosa nascer da pedra
Pisada pela multidão
Uma rosa irrigada pelo sangue da síntese
Vi uma rosa nascer da pedra
Tamanha vida
Tamanho o impulso de ressurreição.

Na manhã do segundo domingo deste santo mês das mães, empunhando uma longa cerveja nevada, eu escutava atentamente João Cabral de Mello Neto declarar n’O curso do poeta, vídeo do distante ano de 1973: “Não pretendo fazer poesia lisa, macia como um carro deslizando no asfalto regular. Quero fazer uma poesia trepidante, de estrada de carroçal que faz o passageiro tremer aos solavancos. Quero fazer uma poesia que crie catarse”. A poética, com ritmo e planejamento, de Francisco Carvalho nos impõe seguidos solavancos a nossa alma.
                     
No dia 24 de abril de 2012, o poeta Batista de Lima, cronista semanal do DN, publicou a II parte do ensaio A Pastoral Poética de Francisco de Carvalho, onde afirma: “Mesmo que esse filho de Russas pregue que seus poemas são menores e que todos morrerão consigo, não será morte com enterro final. Cada leitor disputará a alça desse esquife em busca de um sepultamento que nunca ocorrerá”. Retorno a outra leitura que fiz no jornal O Povo de 6 de março de 1964, em que uma nota do editorial anuncia: “Não faz muito tempo, o poeta Francisco Carvalho surpreendeu os meios literários cearenses com uma grave decisão de abandonar, em caráter definitivo, as suas atividades literárias. E apresentava uma estranha justificativa, com a qual não concordaram quantos conhecem a sua poesia. Disse que chega a conclusão de que realiza uma obra medíocre”.
                                                        
Mas não foi assim que pensou a crítica literária nacional em 1982, quando o livro Quadrante Solar venceu o I Prêmio Nestlé de Literatura. Nem quando, em 1997, com Girassóis de Barro, Francisco Carvalho obteve o Prêmio da Fundação Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Outro reconhecimento cearense foi o seu ingresso na Academia Cearense de Letras, onde ocupa a cadeira 31.

As angústias velhas e novas, os acontecimentos corriqueiros, as saudades intermitentes do pai, dos sobrados e casarões de sua terra. Outros calendários do passado como a recordação do tempo em que o adolescente Francisco Carvalho trabalhava numa bodega de subúrbio poluído e melancólico desta capital, fato este que motivou a crônica O poeta e a bodega, de 6 de março de 1962, do jornalista Deusdete de Sousa. Houve outras bodegas em que Francisco Carvalho amarga experiência de garçom num restaurante noturno da periferia da cidade, onde o dono era míope e tocava violino fanhoso que maltratava a alma do poeta, que recebia de salário apenas um bilhete azul e alguns conselhos para melhor ser sucedido na vida. Não posso esquecer nesta biografia a atitude humanista do então Magnífico Reitor Antonio Martins Filho resgatando o poeta de uma esquelética empresa comercial e levando-o para assessorá-lo na reitoria da UFC, onde permaneceu por trinta e nove anos. Todos esses fatos e outras memórias voluntárias e involuntárias que não fogem das raízes do poeta Francisco Carvalho, e tantos outros passados pesquisados/lidos por mim em livros e ausentes desta biografia por determinação do tempo para cada palestrante deste Seminário, são responsáveis pela construção de um longo e qualificado projeto literário iniciado em 1942 e dedicado inteiramente a poesia nas suas mais diversas formas de expressão.

Distribuo para vossos ouvidos a leitura de um fato na vida do poeta Olavo Bilac. O dono de um pequeno comércio, amigo do poeta, abordou-o na rua: - Bilac, estou precisando vender o meu sítio, que você tão bem conhece. Poderá redigir o anúncio para o jornal? Olavo Bilac escreveu: "Vende-se uma encantadora propriedade, onde os pássaros cantam ao amanhecer no extenso arvoredo, cortada por cristalinas e mareantes águas de um ribeiro. A casa, banhada pelo sol nascente, oferece a sombra tranquila das tardes, na varanda." Meses depois se reencontraram. O poeta perguntou se o amigo havia vendido o sítio. “- Nem pense mais nisso. Quando li o anúncio foi que percebi a maravilha que tinha”.

Eis a função do poeta: revelar a beleza escondida nas coisas, nos lugares e nas pessoas!

Para Francisco Carvalho a poesia é a sua pele.

“Encerro” esta biografia afetiva intitulada Sr. Verso, com o depoimento de outro titã da nossa literatura, o  saudoso José Alcides Pinto: “A poesia de Francisco Carvalho é patrimônio da humanidade. No entanto, esta humanidade vive em débito com o poeta Francisco Carvalho”.
                                                     
                 Quando o Amor é de Graça XV: Palavras Mortas

Raymundo Netto para O POVO

                                                             Piaf

Um dia aconteceu de a manhã anoitecer.
Na mente muda de pensamentos, apenas estrelas calçavam ideias.
Estas não me diziam nada, nem hálito ou hiato de luz, nada!
Pus-me na condição de pensador: à coxa, o cotovelo; o punho, como um Atlas, sustentava, acima do queixo, o grande cogumelo de Hiroshima e tudo mais que me restava.
Ouvia, como ao longe, a marcha de “Je ne regrette rien”, estivesse ela tão perto, tão perto, de pôr unhaduras no coração.
Perdeu-me o tempo nos lábios das palavras a lançar perfumes de se ouvir em pupilas.
“Non... je ne regrette rien/ Ni le bien qu'on ma fait/ Ni le mal - tout ça m'est bien égal!”

***
Ante manhã tão original, escandalizavam-se as vontades desapropriadas de si.
(AR) Risquei uma lua no céu e ela estava lá: fria como uma pedra de gelo; branca como uma nódoa de esquecimento. “Je me fous du passé!”

***
Enquanto pintava em verso o intervalo de Deus, meu espírito esmolava uma ou outra palavrinha esmorecida tão logo a desmanchar-se perdida num infinito vialático do amanhã ser.
Olhei novamente para cima, pelas frinchas do nubiloso céu, nem sequer bandalhos. 
A pele adormentava o desejo enquanto a mente construía mosaicos ligeiros, recortes que são como hastes de sobrevivência para mim.
Centenas de relógios em mostradores brancos despertavam como sonhos que não podem ser descritos.
Entre muros, à calçada, a palavra rouca mal se ouvia.
Sentia, novamente das letras daninhas, o desejo de um fim que nem começara.
De repente, o velho rangido por detrás da parede a acompanhar a velha história que se esgotou aparecia novamente a dizer-me os passos, a pegar-me a mão cega, a espremer-lhe o dom.
Espalhava-se a febre que não ardia, o bafejo do falto de tempo num miasma de solidão.
Escrever era ulcerar-se em latejo, na terra sem piso, um amor descabido e roto bandeirante ao célebre mastro imanifesto.
Vali-me da ternura linda de dois rostos pequenos sempre a apaziguar meu coração e a torcer-me na vida. Gravei uma a uma das palavras inumadas, enquanto me enchia de vazios.
Abriram-se os umbrais azuis do horizonte. As palavras, em esquifes enfileiradas, vinham em andores de flandres, sustentados por anjos. Os demônios regicidas, logo atrás, compunham a bandinha a marcar o rasto desta vida.
       Tomada pela sede e pela fome, minha alma os engolia, quase liberta de mágoas, tristezas e arrependimentos, abraçando do funeral a voz roufenha de um cânone sonoro:
“Balayé les amours/Avec leurs trémolos/Balayés pour toujours/Je repars à zéro”.*

raymundo.netto@uol.com.br

sexta-feira, 18 de maio de 2012




                              Dia 21 de maio (segunda-feira)
Abertura - Sr. Luiz Gastão Bittencourt da Silva, Presidente do Sistema Fecomércio
Biografia Afetiva: O Sr. Verso - Silas Falcão (Escritor, pesquisador da obra literária de Milton Dias, Diretor de Eventos da Associação Cearense dos Escritores (ACE), Membro da Academia de Letras de Crateús (ALC) e do Abraço Literário, do SESC. 
A Pastoral Poética de Francisco Carvalho - Batista de Lima (Escritor, membro da Academia Cearense de Letras (ACL), Professor da UECE e da UNIFOR, Mestre em Literatura pela UFC).

Momento Poético - Grupo Converso

Dia 22 de maio (terça-feira)
Abertura – Ana Néo (cerimonialista)
Os Diálogos Poéticos de Francisco Carvalho – Carlos Vazconcelos (Escritor, graduado em Letras pela UECE, Mestrando em Literatura pela UFC, Membro da Ceia Literária, do Abraço Literário e da Associação Cearense dos Escritores (ACE)
Esquete: A Ciência não gosta de rir – Airton Soares e Eudismar Mendes
Momento Poético - Ricardo Guilherme

Coquetel

sábado, 12 de maio de 2012

                 
                                                 
                                                   Terreiro


Carlos Nóbrega


     Sob o cajueiro
     uma velha

     tricotando rosas
     de algodão e sombras
     esquecida de morrer
     completamente.


quinta-feira, 10 de maio de 2012

            Coisas Engraçadas de Não se Rir XVIII: Fiquissões


 Raymundo Netto  para O POVO

O escritor é um bom fingidor, finge tão completamente que mente e só mente... Quem passa pela experiência da graça de conviver com qualquer um desses indivíduos, os tais escritores, há de compreender exatamente tudo que de já relatarei nesta crônica. Lembrando, por autopreservação, que o ser “escritor” perpassa um caminho que vai do ser alfabetizado ao ser encantado.
Tinha até decidido: não mais escrever sobre os “colegas”, entretanto, traindo a mim mesmo, para não perder o hábito e como expiação de meus originais pecados, teimo em fazê-lo. Mas que, por favor, ninguém me perdoe por isso.
O escritor, senhores e senhoras, é um herói, uma vítima, no sentido antropológico, logicamente por assim dizer, de suas próprias ficções.
Assim, principalmente entre os poetas encontramos os performáticos: os que gritam, cheiram e xingam mais do que escrevem. Aliás, alguns ditos escritores chamam mais atenção não pela produção, quando se tem uma, mas pela sujeira de seus trajos, pelo mau hálito — curiosamente esses gostam de cochichar aos nossos ouvidos —, pelas axilas peludas — em mulheres, claro — ou coisas desse tipo, ou simplesmente pela habilidade insuperável de abrir barracos em mesa de bar, de ser inconveniente ou de pedir dinheiro emprestado a fundo perdido.
Outros desfiam, em torturosas horas, detalhe a detalhe de seu inédito romance. Anos há e esse romance interminável é o seu assunto preferido de mesa de bar, a ponto de, não suportando mais, os amigos o aconselharem a publicação de um áudio-book.
Temos os experimentalistas, falo dos bons, os que conhecem aquilo que arrevesam, mas que acham incompreensível a incompreensão de seu leitor a nada entender. Ora e era preciso?
Citamos agora aqueles tipos que anunciam viagem a convite de palestra para os mais distantes países do mundo, porém, surpreendentemente, os encontramos em supermercados em compras na madrugada ou em imperdíveis eventos noturnos, de boina, sobretudo e com o pescoço em cachecol. Ainda pior é aquele cujos vizinhos, também sabedores de tal convite de viagem, o estranham por trás de barricadas em seu próprio apartamento, enquanto pregado à porta o bilhete confirma: “Estou na Itália!”
Alguns se dizem completamente obcecados pela literatura, leem os clássicos e escrevem o dia inteiro, visitam os blogues, assinam periódicos, elaboram resenhas e ninguém sabe que existem, enquanto há aqueles que escrevem pouco e ruim, leem só os vendáveis e publicam em quase todas das nossas poucas editoras a título do bicho-papão da literatura infantil.
Temos aqueles que adoram editais e por eles estão sempre publicando, enquanto há outros que detestam editais e por mais que participem não ganham um.
Talvez os mais curiosos escritores sejam aqueles cuja obra se resuma a única, sem passado nem futuro, aquela encomendada a alto custo para ectoplásmica pena. Ou mesmo aquele que, no intuito de injustificada e vaidosa autoproclamação e sem a possibilidade de vomitar sequer quadrinhas infantis, escreva pesquisa inútil sobre calçadas, brasões, bandeiras ou presídios e, a partir desse momento, passe a sonhar com o pescoço envergado por medalhão de Academia.

raymundo.netto@uol.com.br

quarta-feira, 9 de maio de 2012

NOVO LIVRO DO MANUEL SOARES BULCÃO NETO


E-BOOK DE MANUEL BULCÃO (Ed.Emooby;
ISBN/Ref: 9789897141379; Formato Epub)


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SINOPSE
O princípio copernicano revelou-se eficaz como antídoto de ideologias peçonhentas. Até o momento em que, incrustada nas ciências, a criptoreligião cientificista (versão moderna do que Nietzsche definiu como a hybris da razão: “incontrolado impulso cognoscitivo” que “barbariza do mesmo modo que o ódio pelo saber”) veio a agir como solvente do seu princípio ativo. E não foi a inocuidade o resultado dessa ação — de tanto servir de álibi de jogatinas políticas (no tempo em que a Verdade científica justificava qualquer aposta e em que os homens – matérias-primas de milenarismos laicos – então considerados nada além do que bichos…), depois de certo tempo o que mais surtia era efeito colateral. E também, cada vez com maior frequência, efeitos nocebos: contrários aos dos placebos. Antes panaceia; agora veneno. Ou, no mínimo, remédio com data de validade vencida. Que seja enterrado — porém, como disse Gramsci em relação ao determinismo da ortodoxia marxista, sepultado com todas as pompas que merece. Quanto aos fatos em que se baseia, carecem de nova interpretação.

Manuel Soares Bulcão Neto nasceu em 1963 (Fortaleza-Ceará-Brasil). Ensaísta, autor de As esquisitices do óbvio (Fortaleza: APEX, 2005, 294p), Sombras do iluminismo (Rio de Janeiro: 7Letras, 2006, 187p) e A eloquência do ódio (São Paulo: Livropronto, 2009, 274p). É bacharel em Direito pela Universidade Federal do Ceará-UFC e analista judiciário do Tribunal Regional do Trabalho da 7a. Região. Foi cronista do jornal Diário do Nordeste.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Esta foi minha 3ª participação no Projeto Revelando a Literatura Cearense, implantado nos colégios municipal e estadual conveniados com o SESC. Este encontro foi realizado no Colégio Ateneu, do Conjunto Ceará. O tema literário, como lemos na 1ª lâmina, é Milton Dias: Entre a dor e o riso.
Lucia Marques, coordenadora de literatura do SESC e a professora de literatura do Colégio Ateneu.

Sábado, 5/maio/2012, os Poetas de Quinta se reuniram no bucólico sítio do Bernivaldo Carneiro. Boa conversa, cerveja gelada, sinuca, viola, literatura e amizade.

Silas Falcão, Carlos Vazconcelos, Bernivaldo Carneiro (o anfitrião).
Sentados: Cayman Moreyra (viola) e Lucarocas.
Meu amigo Diacordo me comunica que um destes Poetas não se lembra de nenhum desses momentos fotografados.
Celular do Bernivaldo. Precisamos fazer uma vaquinha.
Estranha advertência rsrs
Esse luar o Vazconcelos fisgou da paisagem.
É o olho da noite a nos flertar e convidar para reencontros.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

                                         LIÇÃO DE LIBERDADE



por Carlos Vazconcelos

Um amigo me contou que seu pai, ao vir passar uns dias com ele na capital, comentou mais ou menos assim: “Meu filho, eu não gosto daqui porque a vista da gente termina cedo, bate num muro, ou numa casa, parece que quer voltar pra dentro dos olhos. No interior não, tudo é a perder de vista!” O interior de que ele fala é propriamente o campo, nicho primitivo do homem, onde terra e céu parecem dar as mãos, onde as retinas não encontram obstáculos para a sua liberdade.
E foi pensando em liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que a explique, e ninguém que não entenda, como disse Cecília Meireles, que compreendi perfeitamente a queixa do pai do meu amigo. A liberdade começa pela vista, ou melhor, pelo alcance da vista. É por isso que amamos o mar. Mar é sinônimo de liberdade, é antítese de limite. Uma vez à beira-mar, já nos sentimos viajantes. O segredo é levantar os olhos. Antigos marinheiros, mui amantes da liberdade, inconformados com o infinito, achando pouco o imensurável, atiraram-se por oceanos nunca dantes navegados e foram além da Taprobana ou do Bojador. Para eles, liberdade e felicidade eram mais do que uma rima. Estava criada a expressão além-mar.

Comparo cidade sem mar com casa sem quintal. Limita os movimentos, suscita a claustrofobia. Toda cidade deveria possuir pelo menos muitas praças e, se possível, um bosque. Tudo isso traduzido chama-se liberdade, muito embora liberdade não seja apenas isso.

Nas décadas de 1960 e 1970, filmes de faroeste faziam grande sucesso. Homens montados em cavalos viviam as mais bravas aventuras, soltos pelas pradarias, montanhas e vales, sempre a divisar um rio valente ou uma planície sem fim.

Por que razão tais películas exerciam tão mágico efeito sobre os espectadores? Acredito que um dos motivos era exatamente a tal liberdade. Já observaram como a paisagem do Velho Oeste é ampla? Quem não gostaria de estar na pele do herói, solitário ou não, a varar o mundo sem preocupação com horário, tempo bom ou ruim? Mesmo sabendo que nem tudo é bonança na vida do caubói, o público se identifica com a sua liberdade. O caubói é o sujeito mais livre do mundo e só tem na vida três compromissos: manter-se vivo, municiar sua arma e alimentar seu cavalo. O resto vem de sobeja: algumas belas mulheres, o frescor do riacho de águas límpidas, um novo sol a cada dia e, principalmente, a paisagem infinita a perder de vista.

Já escafandristas e astronautas não me remetem à liberdade. São monitorados, controlados, assistidos e dependem de indumentária complicada. Para respirar necessitam de aparelhos de oxigênio e de alguém que os controle. Na maioria das vezes sua paisagem é monótona e seus movimentos restritos. Não, definitivamente, isso não é liberdade. Só a paisagem a perder de vista faz a alma se encontrar.

O homem constrói sacadas, torres e mirantes, inventou binóculos e lunetas, porque entende que a liberdade entra pelos olhos. Decerto descobrirá também que ela só frutifica quando semeada no solo da alma. Quando todo homem aprender essa lição de liberdade, poderá subir aos píncaros dos Andes (como diria Castro Alves) e repetir com Chaplin estas palavras do discurso final de O Grande Ditador:

Levanta os olhos, Hannah! A alma do homem recebeu asas e finalmente começou a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Levanta os olhos, Hannah! Levanta os olhos!