Circulus virtuosus deus
Os estoicos vencem a morte
Com a própria morte.
Elias Canetti
Vivi bem,
Ardentemente.
Feliz, fui muito;
Hoje, sou menos.
Por quê? — Cansaço,
No peito um sopro,
Essa tristeza
De “pai de morto”…
Hoje, bem cedo,
Saí da cama.
Em vez de febre,
Sentia força.
Tomei café
Com pão e nata.
Faltei ao médico
E disse: — Basta!
Repetiria
— Ad aeternum! —
Todos os gestos
Que fiz na vida,
Cada momento,
Com regozijo;
Mesmo este último:
Cruento e fatídico.
Se fui senhor
Da própria vida,
Agora o sou
Da minha morte. *
— Será assim
Que partem os fortes?
* “Muitos têm morte tardia demais e outros morrem demasiadamente cedo. (…) Morre a tempo!” (Nietzsche; Zaratustra).
Um comentário:
Comovente e lindo poema. Não creio que assim o diga apenas pela circunstãncia de não ter mais entre nós este camarada de quem eu tanto gostava e muito admirava. Mas os versos são mesmo uma porrada nesta ilusão que chamam vida, esta que cotidianamente nos apresenta a morte como realidade última. "É assim", caro Bulcão, "que partem os fortes". E você foi forte ao extremo. Com tudo o que a morte queria lhe tomar, nunca o vi lamentando, mas sempre sorrindo e zombando dela, porque você amava a vida. Adeus, grande camarada. Fica em nós o registro da sua larga e fagueira amizade.
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