segunda-feira, 15 de julho de 2013

A PERGUNTA TEM SIDO RECORRENTE: O QUE VOCÊ ACHOU DA FLIP? EM RESPOSTA, ESCREVI O SEGUINTE TEXTO



Há uma Flip para cada um, ou seja, cada um sabe o que busca num evento como a Flip.

Na Flip há carnaval (literalmente), com marchinhas e bonecos; na Flip há cachorros muitos, alguns pareciam o Mike Tyson, de tão fortes – este ano percebi que todos sonhavam com um mundo cheio de preás, como a gracilianiana Baleia (estrela da festa – acho que foi por isso que o escritor americano Tobias Wolff leu para nós A Dama do Cachorrinho, de Tchécov).

Na Flip sobram mister - sir - miss - mademoiselle, mas por lá também encontrei algumas sinhas vitórias e fabianos, pelos cantos, meio refugiados, tentando segurar um pouco de concreto daquela doce ilusão.

Na Flip há muita gente bonita, muitos livros e muita bebida; há também na Flip artistas anônimos que tiravam um som arretado e me faziam parar na rua para me reposicionar no mundo. 

Na Flip há um mar cativante e muitas serras buscando o céu; há na Flip um corre-corre por livros, palestras literárias, comidas, bebidas, mas principalmente por banheiros: meu Deus, como o simples ato de urinar tornou-se precioso na Flip (“Meu reino por um banheiro!” – escutei alguém gritar).


Há na Flip muitas pedras redondas e lisas que não me deixavam tirar os olhos de cada palmo de chão que pisava – logo eu, um flaneur inveterado, que adora andar de cara pra cima procurando platibandas, balaustradas e campanários (lá se foram dois pares de sapatos e uma dupla de joelhos). 

Meus amigos, na Flip tem de cada tudo um pouco. Havia a Flip da galera e do Galera, das pessoas e do Pessoa, das lobinhas e do Lobão e do Wolff (quem teve a idéia de juntar no mesmo evento o Lobão e o Gil?)

Encontramos na Flip imortais caminhando pelas ruas, andando sobre as pedras como quem anda sobre as águas. Vi ternos menininhos cantando (para ganhar uns trocados) e lindas mulheres sorrindo (para maltratar corações).

Flip... Flip... Todos falavam dessa mulher: uns difamavam seu nome, outros desejavam seu corpo. Tive a oportunidade de conhecê-la de perto. Amei-a como se deve amar, laureando as qualidades, subjugando os defeitos. A Flip é uma mulher fatal, e quem não a conhece deveria conhecer. Não é prático nem ético julgar o desconhecido.

Agora falando sério (só para lembrar Chico Buarque): Há mesmo uma Flip para cada um. Tive que escolher a minha. Enquanto técnico de cultura do Sesc e amante das letras, escolhi a Flip dos livros, das mesas literárias de substanciosos conteúdos, a Flip de Graciliano, mas também de Pessoa, a Flip de Hatoum, de Rui Castro, de Lourival Holanda, a Flip do intercâmbio cultural, dos bons contatos, da amizade permeada de livros, dos artistas de esquina, dos escritores anônimos nomeando coisas para transformarem em livros. 

Entre tantas flips, escolhi a minha, que só foi tão minha assim porque vivida com outros, por outros, nos outros. E posso dizer, sem hesitar: Sim, valeu a pena!

Carlos Vazconcelos


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