sexta-feira, 26 de julho de 2013

PRECÁRIOS SOLDADOS


Uma velha canção francesa em voz de mulher [com um toque de Edith Piaf] me lembrou o Precariado. Ouvi-a a partir do momento 1h:19` do documentário O Som e a Fúria (La Bruit et la Fureur) sobre a Primeira Guerra Mundial. Falava sobre um levante em 1917 na Frente Oeste. Os soldados do exército francês (compreensivelmente) cansaram-se de ser mortos. E disseram não.

Cantavam esta música. A melancolia e a sanfoninha musette perpassam a Canção de Craonne. Marcaram-me os versos finais Porque nós somos todos condenados (Car nous sommes tous condamnés)/nós somos os sacrificados (Nous sommes les sacrifiés).

Pesquisadores (entre eles o professor Giovanni Alves) anunciam e denunciam: há um Precariado. Mais que trabalhadores em condições instáveis de emprego, são moças e rapazes a quem foi dito: dediquem-se e terão apartamento, carro, cônjuge e férias em Orlando. Eles se dedicaram. E o sistema não teve a delicadeza de cumprir sua promessa. As adolescências se estendem, as poucas vagas em concursos são disputadas a tapas, os empregos têm a consistência de pudins. Como é esperável de jovens bem formados e sem muita ocupação, sua forma típica de revolta é o acampamento (como no antigo operariado era a greve).

O Nous sommes les sacrifiés da velha canção me lembrou deles. Não são melancólicos – muitos são mesmo felizes. A mistura dos precários de hoje com os soldados esmagados de ontem é que me encheu de certa nostalgia – de que talvez o mundo tome jeito.

Até domingo!


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