BATISTA DE LIMA
Caderno 3 Diário do Nordeste
23.07.2013
Desde quando ingressei no ensino universitário que, entre as disciplinas que tenho ministrado, está presente a Literatura Cearense. Essa experiência tem me proporcionado algumas conclusões que devem interessar a quem faz Literatura no Ceará. É importante saber o nível de leitura dos nossos universitários, o gênero literário de suas preferências e os autores mais lidos. Essas revelações podem melindrar alguns autores que não são lidos e ao mesmo tempo impressionar positivamente aqueles que se acham esquecidos por não saberem que são apreciados. Há muitas curiosidades sobre o assunto.
O aluno de Literatura Cearense, geralmente, inicia a disciplina conhecendo algumas informações sobre José de Alencar e Rachel de Queiroz. Quando muito, leram algum livro desses dois autores, obrigados pelo professor do ensino médio. Raro é aquele que tenha lido algo a mais. Suas leituras são, vez por outra, a página esportiva ou policial de algum jornal. Revistas, só esporadicamente, de preferência as que trazem fofocas com artistas. Quando o vestibular exige a leitura de um livro, ou de livros, alguns os leem, mas a maioria procura ler a sinopse apresentada pelos cursinhos. Fato é que nossos alunos saem do ensino médio sem o hábito de ler.
Aqueles raros que possuem alguma leitura têm uma preferência
maior pelo conto. Eles não gostam de ler livros de poemas e consideram os
romances muito maçantes. O gosto pelo conto é decorrente do lado mais digerível
desse gênero literário. É uma narrativa curta e independente, numa coletânea, o
que possibilita um intervalo após cada texto. Com o transcorrer da disciplina,
eles adquirem um certo gosto pelas histórias curtas de Moreira Campos, Pedro
Salgueiro, Nilto Maciel, Tércia Montenegro e Thereza Leite.
Quando partimos para a leitura de poemas, mesmo com muitas
dificuldades, há os que preferem Alcides Pinto, Francisco Carvalho e Luciano
Maia. Dos mais antigos, há um certo gosto pelos sonetos da Padre Antônio Tomás,
por Juvenal Galeno e Artur Eduardo Benevides. Vez por outra aparecem leituras
de Cândido Rolim, do Poeta de Meia Tigela e de Mário Gomes. Essas leituras são
feitas espontaneamente pois nunca indiquei determinado livro. Apenas solicitava
que eles procurassem nas bibliotecas e livrarias um autor cearense para
leitura.
Certa feita, uma equipe teve a ideia de fazer uma enquete
entre cem intelectuais cearenses para saber qual o poema de nossa literatura
que cada um mais apreciava. Como resultado final, o poema "Terra
Bárbara", de Jáder de Carvalho, ficou em primeiro lugar. O segundo ficou
com "Ode à Língua Portuguesa", de José Albano. "Ode
Visionária", de Francisco Carvalho, ficou com o terceiro lugar. O quarto
coube ao Padre Antônio Tomás, com seu soneto "Verso e reverso". O
quinto lugar ficou com "Rio Jaguaribe", de Demócrito Rocha.
Esse exercício é quase uma brincadeira mas levou a equipe a
conhecer os intelectuais e principalmente ler os textos apontados pelos
entrevistados. Afinal, Literatura Cearense não é apenas estudo de sala de aula.
É também trabalho de campo. É preciso participar de alguns lançamentos de
livros, palestras, debates e assistir a alguns documentários sobre os
principais autores. A TV Assembleia possui um acervo de vídeos já considerável
sobre autores cearenses que são de grande valia. Até um levantamento das ruas
literárias de Fortaleza foi feito nesse período e nos surpreendeu.
Foi constatado que Fortaleza já possui mais de quatro mil
ruas, quase todas com nomes de pessoas conhecidas ou não. Entre todas, há
sessenta e seis com nome de escritores cearenses. São sessenta homens e seis
mulheres. Na época da pesquisa em que Rachel de Queiroz, Natércia Campos e
Moreira Campos já haviam falecido, não havia rua com seus nomes, enquanto há logradouros
com nomes que ninguém sabe a origem. O autor cearense mais contemplado com
nomes públicos é José de Alencar, em todo o Ceará.
Outra promoção feita com esses alunos de Letras era a
realização de uma visita ao Palácio da Luz, na Praça dos Leões. É que ali
funciona a Academia Cearense de Letras e serve também para reuniões de quase
duas dezenas de outras academias. Ali os estudantes de Letras em qualquer época
podem conhecer a galeria de retratos dos acadêmicos e tomar conhecimento da
história daquele vetusto prédio em que o Governo Estadual estabeleceu sua sede
por mais de cento e cinquenta anos. A história cearense passa por aquele
palácio.
Agora
que me aposentei como professor da universidade Estadual do Ceará, essa
disciplina passará para outro professor. Além disso, na Universidade de
Fortaleza, ministro outras disciplinas. Assim sendo, vou continuar lendo essa
rica literatura e pesquisando sobre seus principais autores e livros. Além
disso acompanhei o desempenho profissional daqueles que compartilham saberes
comigo. Já vejo alguns escritores que foram meus alunos, como Carlos
Vasconcelos, Saulo Lemos, Edmar Freitas, Angélica Sampaio, Nádia Gurgel e
outros. Assim, posso afirmar que depois de tantos anos envolvido com nossa
literatura, constatei que é inesgotável a Literatura Cearense
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