quarta-feira, 26 de janeiro de 2011


                                              
                                                  Eu. Ele.
Ele aproximou-se do carro e ofereceu-se para lavar o vidro. Sem olhar, eu fiz que não com o dedo. Ele insistiu, a fala penosa, com fome. Eu disse que não tinha moeda. Ele disse: “Doutra vez o senhor me dá”, e molhou o vidro, com raiva. Fiquei sem ação diante da ousadia. Ele sorriu, com fome, e continuou. Balancei a cabeça, sem ter o que fazer ou dizer. Ele concluiu seu trabalho e ficou parado, fitando-me, com raiva. Encarei-o. Levantou o polegar e sorriu de novo, com fome. Atirei-lhe duas moedas, ele agradeceu e se afastou como se nunca me tivesse visto.
O sinal abriu. Eu fui para casa. Ele ficou lá. Com raiva e com fome. Com raiva e com fome.
Do livro Mundo dos vivos, de Carlos Roberto Vazconcelos.

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