sábado, 15 de outubro de 2011

           Sob o Prisma da Enganação
                 (Momento V de SÍNTESE DE UM PENSAMENTO)


Apresentação de Bernivaldo Carneiro


“Bons dias! Hão de reconhecer que sou bem-criado. Podia entrar aqui, chapéu à banda, e ir logo dizendo o que me parecesse; depois ia-me embora, para voltar na outra semana. Mas, não senhor; chego à porta, e o meu primeiro cuidado é dar-lhe os bons dias” — bem, assim iniciou Machado o livro: Bons Dias & Notas Semanais.

Eu, por minha vez, não direi dos outros “Bons dias” de Francisco Lima Freitas ao ir ter comigo em meu trabalho. Senão do seu, “Bons dias” de uma modorrenta e abafada manhã do último mês de março; ocasião em que ele, de inopino encheu-me de regozijo e orgulho. Não escondo que eu me admitia figurar em sua estima, mas daí a imaginar ser um dia intimado a lhe prefaciar um livro ia uma grande distância. Afinal, inobstante remonte há doze anos a minha ousadia de enveredar pela escrita, até um triênio atrás eu sequer vislumbrava a possibilidade de vir a ser acolhido no ninho literário cearense. É que, por índole, acanhado e ainda exercendo uma profissão voltada às ciências exatas, a minha rotina me afastava naturalmente de tal gueto.

Mas o Presidente tem a faculdade de me varrer os escrúpulos da timidez e, independentemente da “diplomática pressão” antes anunciada, estou eu aqui de alvedrio.

O escritor e jornalista Lima Freitas, mais que um intelectual que goza do respeito e reconhecimento do meio cultural alencarino, é antes de tudo um caráter extremamente modesto e uma voz de prontidão contra as injustiças do mundo. Um eloquente defensor dos princípios que defende e um contumaz crítico das imprecações que condena. E o que é melhor: com a firme consciência de que reside no temor a Deus a origem da sabedoria.

Nascido em Capistrano, Ceará, há dezesseis anos representa o seu Torrão Natal na Academia de Letras dos municípios do Estado do Ceará – ALMECE. Silogeu do qual é presidente desde 1996. E como tal, relevando a fadiga dos anos sem revelar o cansaço do dia-a-dia, dedica seu cotidiano integralmente à cultura cearense.

Sob o Prisma da Enganação (Momento V de SÍNTESE DE UM PENSAMENTO) o quinto de sua lavra, na verdade é um livro composto por uma coletânea de preciosas crônicas e primorosos pronunciamentos. Alguns, inéditos; outros já veiculados nos meios editoriais da Arcádia que preside e de algumas das muitas entidades culturais em que tem assento. Por assim dizer, uma obra que tem a fisionomia do autor e, como tal, merecedora de nossos melhores aplausos; posto que fora artesanalmente composta com o inconfundível estilo Lima Freitas: culto e elegante.

Há quem entenda os textos rebuscados e férteis em termos inusuais (especiosos para alguns) como uma premeditada intenção de impressionar, onde o desejo de exibir cultura está acima do intuito de transmitir conhecimento. O que evidentemente não é o caso de Lima Freitas neste livro. Por natureza: afeito aos adornos da fala e aos ornamentos da escrita, o autor em comento é antes de tudo um palmeado Retor Padrão da Academia Cearense de Retórica — ACERE. De modo que, se ele foge da linguagem coloquial (o que a princípio sugere afastar o leitor do escritor) é porque, praticamente todos os textos constantes deste tomo, foram concebidos com a pena das demandas acadêmicas, e, como tal, o público alvo é culto e exigente.

A propósito, com todo o respeito e admiração que tributo ao maior escritor argentino de todos os tempos, que posição eu devo ter ante um Borges “orgulhoso de nunca ter escrito uma palavra difícil que levasse o leitor ao dicionário”; senão questionar: é ou não é um dos propósitos do leitor, o enriquecimento do próprio vocabulário?

De forma que vejo este livro de Lima Freitas como uma obra que os sábios leitores e a provecta e sisuda crítica saberão dar-lhe o merecido valor. Siga, pois, caro Lima Freitas sem se importar com o tempo, o seu dia-a-dia de completa dedicação à cultura e em especial às letras. Pois, esteja certo de que os doces frutos que as gerações futuras colherão, no mínimo, neutralizarão o amargo que hoje se experimenta ao semear cultura em tão inóspito e árido solo.


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