ESTÁ LANÇANDA A PALAVRA
Por Carlos Vazconcelos
Frederico Régis detém a engenharia dos espíritos inquietos. Sua poética é feita de minutas porque jamais será o poeta oficial; sua matéria é o caos. Seu improviso é certeiro. Sua poesia é uma brincadeira tão séria quanto soltar arraias no quintal da infância. Brincar de buscar o infinito sem perder o fio da meada. Essa poesia dormita com um punhal numa mão e um lírio na lapela. São muitos os seus refrãos. Ele labora (não disse elabora) seus versos sem fôrmas, sem moldes, múltiplos, polifônicos porque o tempo e o espaço são mesmo muito imprecisos. Não será nunca um burocrata da palavra. Quando se faz reticente é para ser mais claro, ou clarividente, pois acredita que o silêncio é sinfonia ou ambiente propício para todas as melodias. Felizmente sua lógica é caótica. Sua imprecisão é preciosa para nos conduzir pelos meandros da cidade indecifrável. Não espere mapa. É um viajante, um “passageiro de cúmulos”, um tripulante à deriva feito todo poeta que preza a dor e o delírio.
Minutas do Caos é poesia desde o título. Frede é rico, contabiliza recursos poéticos. Frederico rege uma orquestra. Frederico Régis tem largo tirocínio no campo das letras, cultivando sempre a despretensão de ser poeta, ou de poeta ser sem pretender, pré-ocupado com as dores do mundo, as insignificâncias da alma, os melindres do cotidiano. Trago a insuportável poesia/que não ampara. Extravasa, reverbera, reivindica, protesta e sabe calar quando quer dizer. Compreende que o poeta não pode ir além da poesia. Não interroga o mundo porque desconfia que não obterá resposta. Prefere o caos. Escreve minutaspoéticas para não cruzar os braços diante da esfinge. Está lançada a palavra, a queixa, a confissão, o medo, o prazer, a indignação. O poeta presta contas consigo mesmo e finaliza dizendo: Meu corpo ficará sentado/sozinho no coliseu/o primeiro que chegar/pode tomá-lo como seu. Eis o destino dos livros. Felizes os que os encontram.
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