APENAS UM ABSTRACIONISMO
Quisera eu escrever sobre tudo que me cerca e me atingem os sentidos. Entanto, de qualquer modo urge fazer o que deve ser feito e isto que estou tentando começar agora, mas levado por um grande impulso que me deixa inerte diante de uma tela em branco, que de repente me vem imagens de coisas em movimento.
Digo que a tela pintada é uma poesia congelada. Às vezes me detenho em pintar e passar para as telas o que não posso escrever, mas mostrar o mundo sensível, esse de mil facetas e a realidade às vezes muda. Num domingo já quase noite resolvi não escrever poesias, mas ir além de um trabalho díptico, em que poeticamente através das nuances das cores surgiu dois abstratos que afirmo categoricamente ser uma bela poesia, que só um bom observador e sensível às artes é capaz de descrever algo o que está vendo na mistura das cores. Ora um cubismo, um expressionismo ou até mesmo não dizer nada. As cores têm uma semelhança aos trabalhos do grande artista plástico maranhense que foi reconhecido pelo o universo intelectual cearense. Ora, em seus quadros em pinceladas e cores forte. Esse era Floriano Teixeira.
Então diante das telas brancas aos poucos poeticamente vou dando as minhas pinceladas, que inexplicavelmente as imagens de súbito me passam ligeiramente um texto, uma sensação ao mesmo tempo magnífica e inquietante feito o primeiro coito às pressas num pé de muro numa pequena rua. Digo que pintar, quando se estar gostando é como ter em seus braços o corpo da primeira fêmea, quer dizer, um abismo de luz, medo e descoberta.
Antes que a poesia viesse à tona, veio a pintura vestida de poesia. Quando dei por terminado as telas em branco, havia nos meus olhos um quê de felicidade; onde a transparência das cores na medida em que eu as olhava davam formas sem formas, disformes que aos poucos fui tecendo e vi a luz que emanava nas entrelinhas, o vento soprando o inominável. Nesse trabalho as cores que se complementa, se contrastam em nuances. Com toda minha liberdade de expressar algo não para agradar a ninguém, mas a mim mesmo. É como viajar no tempo. Aqui viajo nas cores, na luz, na reminiscência daquele momento onde me transponho à outra realidade. Vejo as cores que saltam que flui e muda de cor no céu multicolorido, onde o céu e o rio se refletem e o vento vai e volta trazendo a brisa e assim me vejo no meio desse campo florido de trigais. Mas que bom esse domingo, felizmente, pôde dar um pouco de prazer ao ego e sem perder o fio da meada, como bem o mereço. Penso ser um caro chato por achar que as coisas não são, como se pode pensar de uma forma maniqueísta, assim ou assado. Vejo nuances, semitons, claros, pretos e brancos e o escuro entre as coisas, que ademais não conseguimos perceber. Nada é totalmente exato e precisamos quebrar a simetria, o arrumadinho. Abstratamente essas duas telas são pedaços de páginas folheada, congelados do tempo de uma memória fotográfica que inevitavelmente me deixam morrendo de saudade de mim mesmo. Vejo velas vagando em alto mar, umas que vão outras que vêm. Ora parecem peixes que saltam, ora flores. Tudo recomeça num ciclo, o vento, a onda, o mar, as flores, os trigais, as formas, a luz e por fim nada, nada, apenas um abstracionismo.
2 comentários:
Parabéns, Gilson.
Depois daquele fim de semana na casa do Bernivaldo Carneiro, tornamo-nos testemunha do seu talento como pintor.
Também gostei do texto postado junto ao “abstrato”.
Curioso: Olhei rapidamente e vi coincidente e ligeira semelhança com a capa do Breviário, do Carlos Nóbrega, postado ali ao lado.
CONFIRAM. Exceto nas cores.
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