DIVULGANDO NOSSA LITERATURA, ALÉM-FRONTEIRAS
Por Bernivaldo Carneiro
Existem épocas na vida que foram
feitas para não serem esquecidas.
Emílio, Rousseau.
Após um tilintar e outro de taças que mergulham na noite até altas horas, retorno ao lar interiorizando os temas do dia. É a arte da escrita dos “Poetas de Quinta” (Poetasdequinta.blogspot.com.br), grupo do qual compartilho o privilégio de discutir, ser e exercer literatura, replicando em meus pensamentos. Para alguns, um dom que trago na alma, e que há 15 anos — em meio à assoberbada vida profissional que levo — ouso exercer. São momentos que me auxiliam lapidar e tecer a criatividade. São debates, ponderações que me ajudam apurar a mente, no exercitar as palavras e pô-las no papel dando graça à imaginação.
E desta forma embevecido na luz dos amigos, recordo com lisonja um inolvidável comentário de Arleni Portelada, uma admirável profissional de múltiplos ofícios: jornalista, escritora, cerimonialista, ex-radialista e apresentadora de televisão, que, com seu olhar carinhoso e reflexivo, escreve sobre as fragilidades humanas e a beleza do mundo. Ao lado de Francinete Azevedo e outros notáveis confrades da Academia de Letras dos Municípios do Estado do Ceará – ALMECE, Arleni Portelada, nossa “Dádiva Piauiense”, reportava-se à singela apreciação que fiz do livro Odisséia em Ulisséia, de Vilma Matos. Uma resenha que, sem elogios gratuitos, senão movido apenas pela excelência da amizade e qualidade da obra, eu concebi com honra e prazer.
Com doces palavras, Arleni Portelada elogiou minha disposição para enaltecer os colegas; sublinhou o meu caminhar ontológico na literatura grega para compor o texto em foco, e chamou a atenção para um ponto muito importante: ser a minha iniciativa, algo incomum em um meio fértil de insuflados egos que pairam sobre nossas cabeças tentando obscurecer os outros, na busca de se revelarem os suprassumos da literatura.
Mas, pensando em meus referenciados pares (estes sim, seguem o dileto caminho das letras fazendo as exceções justificarem as regras), adianto que não para por aí o meu gosto em divulgar seus escritos. Sempre que posso os leio e vejo brotar em mim o fruto de seus plantios e colho as ricas emoções de tê-los por perto em tão especiais momentos. Uma gestão entre escritor e leitor, um estado de embriaguez poética que perdura em minhas viagens. E, deste modo, ciente de que entre as filas do check in, do embarque e do desembarque, na sala de espera ou no deslocamento à aeronave, durante o voo ou aguardando que com os poderes de Deus a esteira rolante me devolva a bagagem despachada, há sempre um olhar de esguelha bisbilhotando o que o vizinho está lendo; eu não dispenso a companhia literária dos amigos. Eles talvez nem careçam de tal publicidade, mas eu faço questão de exercê-la.
Em minha última estada na São Luís de Gonçalves Dias, fiz-me acompanhar de Andarilho dos Trópicos, a quarta obra de Nicodemos Napoleão. Em outras três ocasiões fui ao Distrito Federal folheando Por quem Somos?, de Silas Falcão; O mundo dos Vivos, de Carlos Vazconcelos e Os Acangapebas, de Raymundo Netto. Recentemente estive em Salvador na companhia de Conchita e Outras Memórias, de Eudismar Mendes; em Belo Horizonte levando em mãos Os Espantos, de Tércia Montenegro; tracei um poético trajeto entre a Capital Alencarina e Maceió com o Lápis Branco, de Carlos Nóbrega e na “Terra da Garoa” li Enquanto somos de Frederico Régis. E para não me alongar muito, eu que há dois anos tinha dado um giro por Foz de Iguaçu, Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre nas asas de Fortaleza Voadora e ao lado de Inimigos, semana passada (17 a 23.3.2013) voltei às Minas Gerais conduzindo mais uma obra de Pedro Salgueiro. Eu planejava, até o fim daquela minha permanência em BH, finalizar a leitura de As Boas Mulheres da China (uma sugestão deste particular amigo, o contista de Tamboril), cerquei-me Dos Valores do Inimigo. É que ao ser apresentado ao Fábio Martins — um atencioso jornalista, escritor, radialista, professor de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais e editor de Rádio em Revista, produção semestral da conceituada UFMG sobre a memória do rádio, não resisti. Ao receber do mestre um volume da segunda edição do número oito de sua revista, repassei, junto com exemplares dos meus Devaneios, Delírios & Desamores, Nas Garras de um Irreverente e Satirizando o Cotidiano, o livro do Pedro Salgueiro que eu levara comigo.
Outra grata satisfação foi ouvir Fábio Martins afirmar e reafirmar o desejo de que participássemos de Rádio em Revista. Uma inescusável abertura que desde já remeto (se ele assim o desejar) ao amigo Raymundo Netto.
Explico: ao retornar do bar e restaurante La Greppia — point de boêmios e intelectuais mineiros e visitantes e de meu segundo encontro com Fábio Martins, ao apartamento 1504 do Hotel Best Western Sol (também na rua Bahia e separados apenas pela av. Augusto de Lima), o que me aguardava na internet? A mais recente crônica de Raymundo Netto publicada no jornal O Povo, cujo título é, “O POVO: 85 anos presente no Ceará V”. Um apanhado que retrata com muita qualidade e competência o nascimento da radiofonia no estado do Ceará. Pois, se entendi bem, é exatamente isso o que o professor Fábio Martins espera de nós para sua revista.
2 comentários:
Meu nobre escultor e cultivador, não de uma obra de arte ou de um cultivo qualquer, mas um escultor das letras e cultivador das amizades, por isso ouso charmar-te de amigo, visto que, amigo da gente não é aquele que nos escolhe,mas sim, aquele que nós escolhemos. Meu cordial abraço e muito obrigada pela citação do meu nome e obra, em seu bem escrito texto. O mundo precisa de pessoas assim, que gostam e sabem valorizar a criação artistica dos outros. Com admiração, Vilma Matos.
É isso aí, Carneiro. Levando a literatura cearense aos quatro cantos. Se não formos nossos próprios embaixadores, quem o será? Abraço.
Postar um comentário