A VINGANÇA
Bernivaldo Carneiro
Ernesto Nó Cego, sujeito de dedo exercitado no gatilho e braço calibrado no escutador de rádio da esposa de procedimento mal-falado (somente pela Maria da Penha ele acumulava uma dúzia de entradas no xilindró); repetia as palavras chaves: “tenham calma, respirem fundo, fiquem tranquilos... O técnico da manutenção está chegando...”
Um dos terceirizados da limpeza, que acabava de subir a escada correndo, com a maior língua de fora, elogiou a iniciativa de Nó Cego e pediu que ele seguisse levando conforto aos policiais, enquanto ligava para a manutenção.
— Policiais?!
— Sim! São os homens da PF que estão dando um bacorejo nos documentos da Operação Torneira Vazio.
Cerca de 40 minutos depois (ele não só tinha suspendido prontamente sua boa ação, como também retardado o quanto pôde o aviso à empresa de manutenção), o elevador finalmente se abriu para o quarto andar. Ao pé da traiçoeira máquina, Ernesto Nó Cego sapecou à queima roupa este misto de pergunta e afirmação: “é ruim né, ser preso?!” Atordoado e com a pesada roupa encharcada, o primeiro brutamonte a pisar terra firme correu o indicador direito pela testa fazendo dele uma cascata de suor e só depois respondeu: “e sem motivo, hein?!”
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