quinta-feira, 2 de maio de 2013

LIVROS
Pedro Salgueiro para O Povo

Conheci o Centro da cidade com diversas livrarias. Hoje fico assustado por também não encontrar mais nenhum cinema (com exceção dos vários mini-cines pornôs que resistem às facilidades da internet) e, pasmem, nenhuma livraria: apenas três sebos verdadeiramente na ativa (um deles quase fechando as portas, segredou-me recentemente o desiludido proprietário); lembremos: nenhuma grande livraria existe mais no Centro; nenhum cinema também. Restam três grandes livrarias de shoppings (idem para os cinemas) nos bairros ricos; duas nas proximidades da UFC, uma das quais há tempos anda mal das pernas.
Dia desses um dos raros donos de sebos reclamava pra fregueses da concorrência desleal dos vendedores de livros de beira de calçada; ponderei pra ele que quanto mais pessoas envolvidas com livros melhor, mais gente lendo, mais produtos circulando; ele retrucou irredutível que “eles não pagavam impostos”, “não assinavam carteiras de funcionários” etc. etc. Mais uma vez respondi que os sujeitos que vendiam esses tipos de livros, muitas vezes caindo aos pedaços, talvez nunca tivessem tido uma carteira assinada na vida, e que, mais que vilões, eram vítimas de nossa cruel e histórica situação econômica... e blá e blá!
 O fato é que as livrarias estão se acabando, como os cinemas já tiveram um fim. Alguém mais alarmista talvez veja nisso nada mais, nada menos que o fim do livro, pelo menos em sua versão de papel.
Quando ouvi sobre essa possibilidade há algumas décadas, fiquei assustado, depois, com o tempo, fui ficando triste, por constatar que inevitavelmente caminhamos para isso. Achei o mesmo em relação ao LPs, resisti, estoquei agulhas reservas para meu velho toca-discos, mas esqueci de estocar os próprios toca-discos: um dia me vi sem ter onde colocar minhas três centenas de bolachões. A coleção inteira de Pink-Floyd, a estante de Fagner, Ednardo e Belchior, meus queridos Raimundo Soldado, Bartô Galeno e Genival Santos... E para não sofrer mais doei todos, sem exceção, pois não queria ficar “curtindo fossa” de amor sem-jeito.
Já com os livros sei que vou resistir, porque não precisarei de “toca-livros” para lê-los pra mim, no máximo um par de óculos desses de camelô; e além do mais são já tantos os disponíveis no mercado que dificilmente se acabarão antes de mim.
 Conversando com colegas escritores e leitores mais jovens não vejo neles qualquer preocupação quanto a essa questão, tranquilamente adquirem seus leitores eletrônicos de livros virtuais. Constato que o medo de que os livros desapareçam é apenas nosso, os mais velhos, que ainda foram “criados” sentindo o cheiro do papel. Meu filho e minha filha já não possuem esse receio, até riem de minha preocupação e perguntam quando é que, finalmente, eu vou comprar um tablet.
Estou me convencendo de que os livros de papel deixarão inevitavelmente de existir, mas me consolo, pois eu vou deixar de existir bem antes deles. Enquanto isso não acontece, vou continuar chafurdando livrarias e sebos, quando não encontro os que estou procurando peço sem cerimônia pela internet. Também não bancarei o teimoso e até talvez adquira um leitor de livros eletrônicos, como acabei me rendendo aos CDs, que, por sua vez, hoje estão já quase desaparecendo.
Assusto-me quando lembro que resisti ao celular por muitos anos, e hoje ele faz parte de mim como uma perna ou braço. Se o esqueço em casa parece que o dia corre num atropelo, tão dependente fiquei.
Enfim, vou envelhecendo e, por que não?, tentando me acostumar com as mudanças tão rápidas que o mundo moderno nos impõe.
Mesmo com uma ponta de tristeza.
E um tantinho de medo.

Um comentário:

Lucas Doth. disse...

Realmente meu caro Pedro Salgueiro, com a quantidade de celulares, tablets, entre outros produtos tecnológicos que facilitam os downloads e leitura dos livros via internet, o nosso livro impresso se torna desvalorizado, mas não devemos nos enganar. O livro digital não tem o mesmo valor, não passa a mesma sensação ou emoção que o livro impresso comprado nas livrarias ou cebo. O último livro que comprei foi numa cebo e que me custou apenas cinco reais, da escritora Cecília Meireles-Cânticos, com páginas escrita à mão pela própria escritora. Há algo mais valioso? Para mim não! E de valor tão acessivo! O que devemos é continuar valorizando o livro impresso, comprando, enxergando as promoções, completando nossas prateleiras com essas jóias.
Lucas Doth

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