SÁBADO
Pedro
Salgueiro, para O Povo
18-01-2014
Logo
aos sábados me puseram a cangalha: no velho sabbatum que é de brisa vou eu
cronicar qualquer assunto de sábados, logo aviso.
Pois
só aos sábados, dizem, um homem tem possibilidades de ser feliz, e aos sábados
até os deuses descansam em paz... quanto mais um plebeu mais afeito às
discritudes de uma segunda ou terça.
Ah,
jovens tardes de sábados de tantas (e velhas) alegrias: todas minhas lembranças
boas aconteceram exatamente num sábado, acreditem, que foi o dia criado
exclusivamente para se sonhar... O descanso é só um pretexto, uma desculpa
possível para existir um único sábado...
Aliás,
mil são os álibis possíveis (e necessários) para justificar um só sábado: o
último sendo o penúltimo, depois de tanto suor não é dia, pois, pra se
chorar...
Triste
de um morto que defunta num sábado: que terrível pesadelo de se ir numa sexta à
noitinha, depois de encerrados todos os expedientes do mundo, para ser chorado
num sábado...
Soturno
dia jamais, dia de Saturno, saturn’s day, saturday... de se comemorar as boas
colheitas da vida.
Único
dia sem manhã ou tarde, que ele se basta, apenas sábado... Extrema redundância
de se dizer vou te ver sábado à tardinha, diga apenas vou te ver sábado (e
ponto, pronto!)... que é o dia próprio para se sonhar, para se esperar um
nadinha que seja da vida... Por isso (lembre-se) nunca especifique o sábado,
que é apenas um sonho, um estado de espírito...
O
sábado, que para Nélson Rodrigues era sempre uma ilusão, pra Leminski nem no
céu se atendia um telefone, e que seria a rosa de Clarice e até podia ter gosto
de saudade... E tudo podia acontecer pra Vinícius apenas porque ‘hoje é
sábado’. Mesmo Caio F. de Abreu, nas dores dos últimos dias, não sentia
obrigação de sair num sábado à noite, quem sabe tivesse até o desprendimento de
um suicídio.
Ah,
o que mais sonho na vida é que todos os dias da semana se transformem em
sábados.
Mas
saibam de uma coisa, não vou ficar aqui remoendo essas minhas verdadezinhas de
sábado (que coisa mais tola teorizar um sábado!), vou é restar por aí, ouvir
aquela velha canção de Roberto, reler um parágrafo perdido de qualquer livro de
Dalton Trevisan, tomar uma cervejinha em qualquer boteco de calçada, namorar a
moça mais danada de minha rua... pois no sábado tudo é possível, mesmo o mais
improvável... Porque (como nos lembrou Juarez Leitão) o sábado é apenas a nobre
‘estação de viver’!
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