quarta-feira, 22 de janeiro de 2014




SÁBADO

Pedro Salgueiro, para O Povo
18-01-2014 

Logo aos sábados me puseram a cangalha: no velho sabbatum que é de brisa vou eu cronicar qualquer assunto de sábados, logo aviso.

Pois só aos sábados, dizem, um homem tem possibilidades de ser feliz, e aos sábados até os deuses descansam em paz... quanto mais um plebeu mais afeito às discritudes de uma segunda ou terça.

Ah, jovens tardes de sábados de tantas (e velhas) alegrias: todas minhas lembranças boas aconteceram exatamente num sábado, acreditem, que foi o dia criado exclusivamente para se sonhar... O descanso é só um pretexto, uma desculpa possível para existir um único sábado...

Aliás, mil são os álibis possíveis (e necessários) para justificar um só sábado: o último sendo o penúltimo, depois de tanto suor não é dia, pois, pra se chorar...

Triste de um morto que defunta num sábado: que terrível pesadelo de se ir numa sexta à noitinha, depois de encerrados todos os expedientes do mundo, para ser chorado num sábado...

Soturno dia jamais, dia de Saturno, saturn’s day, saturday... de se comemorar as boas colheitas da vida.

Único dia sem manhã ou tarde, que ele se basta, apenas sábado... Extrema redundância de se dizer vou te ver sábado à tardinha, diga apenas vou te ver sábado (e ponto, pronto!)... que é o dia próprio para se sonhar, para se esperar um nadinha que seja da vida... Por isso (lembre-se) nunca especifique o sábado, que é apenas um sonho, um estado de espírito...

O sábado, que para Nélson Rodrigues era sempre uma ilusão, pra Leminski nem no céu se atendia um telefone, e que seria a rosa de Clarice e até podia ter gosto de saudade... E tudo podia acontecer pra Vinícius apenas porque ‘hoje é sábado’. Mesmo Caio F. de Abreu, nas dores dos últimos dias, não sentia obrigação de sair num sábado à noite, quem sabe tivesse até o desprendimento de um suicídio.

Ah, o que mais sonho na vida é que todos os dias da semana se transformem em sábados.
Mas saibam de uma coisa, não vou ficar aqui remoendo essas minhas verdadezinhas de sábado (que coisa mais tola teorizar um sábado!), vou é restar por aí, ouvir aquela velha canção de Roberto, reler um parágrafo perdido de qualquer livro de Dalton Trevisan, tomar uma cervejinha em qualquer boteco de calçada, namorar a moça mais danada de minha rua... pois no sábado tudo é possível, mesmo o mais improvável... Porque (como nos lembrou Juarez Leitão) o sábado é apenas a nobre ‘estação de viver’!



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