quarta-feira, 9 de março de 2011

                                Metáfora da mente vazia

Por Bernivaldo Carneiro

A convocação para eu opinar sobre o conteúdo e a forma de um texto, cuja pena da produção já é, de sobra, a garantia de uma mensagem interessante e de uma matéria bem posta; por si só é motivo mais que suficiente para pôr regozijo em minha calva. Mas o artigo O Vazio foi muito além. Trouxe-me o insofismável atestado do que eu vinha vislumbrando nestes últimos meses e ansiava comprovação.
Algo de tal ordem alvissareiro que de pronto me animou enquanto escriba (limitado é verdade) a uma breve insinuação por um campo que não é meu. De direito pertence aos psicólogos de ofício. Minhas formações acadêmicas, em particular a de geólogo que é o meu ofício do dia a dia, só me credencia penetrar algumas camadas dentro no subconsciente da Crosta Terrestre, donde, no máximo, eu consigo extrair uma análise pétrea. Em que pesem inocentes: importantes aptidões hidrogeológicas e frívolas acomodações do substrato; em que pesem silenciosos: sub-reptícios movimentos de placas do contexto tectônico, dos quais decorrem os tão catastróficos e em voga, abalos sísmicas...
De forma que estas mal-traçadas linhas encerram, metaforicamente, uma leiga opinião sobre a complexa mente humana.
Pois bem, professor, decerto os seus familiares e demais amigos que o acompanham de perto e leram seus escritos dos últimos doze meses, fecham comigo nesta compreensão: o texto O Vazio é um inequívoco sinal de que o emocional do autor — na medida do possível — está cedendo lugar a uma alma mais arejada. Pois, se você ainda não extrojeta a plenos pulmões esse novo rumo, essa nova conduta; pelo menos não mais revela ainda ter a mente e o coração completamente ocupados pelos sentimentos das duras e irreparáveis perdas. Antes de assimilar integralmente a partida de sua amantíssima cônjuge, uma rasteira do destino leva-lhe uma estimada filha...
Li alhures que guardar indefinidamente, tristezas, ressentimentos, medos e outros transtornos, amarra a vida de quem assim se comporta. Envia imagens ao cérebro e este decreta: não se deve mais confiar no amanhã nem esperar o novo. E nesse diapasão, o indivíduo, doentiamente, alegra-se em guardar sentimentos velhos...
De forma que sua palpável evolução me dá conta de que o vazio mental do qual se queixa, na verdade é sua mente sinalizando para o porvir. Lenta e naturalmente processando o esvaziamento das prateleiras e armários do subconsciente para se ocupar de novos desejos. E, à medida que essa se faz receptiva a novas oportunidades, já é um bom sinal.
Posto isso, mestre João Gonçalves de Lemos, resta-me dizer que não tenho dúvida de que você está no caminho certo. Segue um franco processo, senão de superação dessa difícil fase de sua vida, pelo menos de aceitação dos desígnios do céu. E essa deve ser a vontade de seus entes queridos, desde o bom lugar em que se encontram. Portanto, bola pra frente e toda a sorte do mundo.

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