Carlos Vazconcelos
O elevador mais uma vez apresentava defeito. Escalou os oito lances da velha escada. Urgiam as novidades. Por infelicidade esquecera o celular. Chegou esbaforido. Ainda despindo o sobretudo molhado e o chapéu e buscando ar nas funduras do peito, discou:
– Patrão? O homem é correto, patrão. Passou direitinho no teste. Teimoso como uma mula. Não abre nem pro trem o sujeito. Exatamente. Fiz. Do jeito que o senhor mandou. É o que estou dizendo, patrão. O portão daquela companhia não se abre nem para Santa Brígida, que é a santa de devoção do homem. Exatamente. De todas as maneiras. O homem não se rende, chefe. E olhe que repetia , exaltado: “É orde do patrão! É orde do patrão.” (Risos.) Destemido, o pobre-diabo. Um cão de guarda. Acho que seria capaz de impedir a passagem da própria mãe e até de morrer no desempenho da função. É bem como lhe falei: Seu Mansueto é das antigas. Sangue-bom. Não se amolda aos “novos tempos”. (Risos.)
– Muito bem, Costa. Então não serve. Vai embargar o plano. Encaminhe-o ao departamento de pessoal. Mas não vamos demiti-lo. Solicite uma promoção i-me-di-a-ta-men-te. Almoxarife, contabilidade, escambal. Amanhã quero um novo porteiro pra noite. Um que se amolde aos “novos tempos”. (Risos desbragados...)
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