Nas pedras do Estoril
Bem ali, onde hoje é o calçadão, ela e o namorado passavam, antes de um show no Pirata.
A grana entre o ingresso e o bagulho.
E enquanto palmilhavam mar adentro o espigão perceberam as sobras compridas dos três bem atrás. Um com a mão nos bolsos. O segundo agitando nervoso os braços. O outro despejava calmamente goela abaixo o litro de aguardente.
As sombras foram diminuindo. O primeiro agora segurando a faca. O do meio maquinalmente tirava a roupa. E o terceiro reluzia o gargalho à luz da lua.
O despido agarrou o braço dela. Puxou com força sua calcinha e marcou sua coxa. No salto a lâmina fez um talho no braço dele. Em sua cabeça os vidros e o restinho da cachaça.
Ao acordar ela chorava ao seu lado. A lua lá pras bandas do Pirambu.
Eles quase nunca mais se falaram.
Depois certa dúvida se fora mesmo verdade.
Ele jamais retornou ao bairro. E esconde na manga longa da camisa a marca fina do arranhão, que subiu um pouco na direção do ombro. Mas só consegue gozar se se recorda enfim do triste episódio, variando até o infinito o seu desfecho.
Ela raramente se lembra do que aconteceu. Mas quando passa de carro pela Abolição não se furta de dar uma espiada, meio de esguelha. Olha, então, longamente para o marido e procura logo um assunto.
Pedro Salgueiro para O Povo
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