Nilto Maciel:
40 anos de literatura, quase 70 de vida.
Crõnica de
Pedro Salgueiro, Jornal O Povo – 22-03-14.
Nilto Maciel
é o escritor cearense mais dedicado à literatura que eu conheço: convive com
ela – intimamente – 24 horas por dia (e digo isso porque mesmo à noite,
enquanto dorme, ele continua produzindo fiapos de enredos que passará para o
papel na manhã seguinte, ou quando desperta assustado pelo sonho – ou pesadelo
– em plena madrugada).
Dedicou sua
vida inteira aos livros, passou de leitor voraz a escrevinhador de sua própria
obra ainda muito jovem, mas sempre deixando tempo para a editoração e divulgação
de outros escritores, seja através de antologias, revistas literárias e, mais
recentemente, sites e blogs na internet. Foi co-editor da revista O Saco ainda
na década de 1970, mais recentemente capitaneou (heroicamente e por quase duas
décadas) a revista Literatura e, atualmente, se dedica ao seu movimentado blog
http: literaturasemfronteiras. blogspot.com.br. Sua cabeça
criativa, inquieta, trabalha, pois, incessantemente, até mesmo enquanto se
alimenta, conversa ao telefone, assiste à televisão (vários de seus contos
tiveram origem em acontecimentos banais vistos em noticiários, ouvidos em
diálogos de filmes assistidos pela metade altas horas da noite, até em anúncios
e propagandas).
Produziu
romances, poemas, crônicas, críticas literárias, diários, memórias etc., mas
foi ao gênero conto que ele dedicou mais tempo, força e talento. Ninguém
escreveu mais histórias curtas do que ele aqui no Ceará. Já ultrapassa as 300
narrativas, todas com qualidades comprovadas, como atestam os inúmeros prêmios
e a vasta fortuna crítica.
Em breve
lançará (pela editora cearense Armazém da Cultura) A fina areia das dunas, que
é seu décimo livro de contos, feito somente alcançado, em nossa terra, por
Eduardo Campos e Caio Porfírio Carneiro. Nesta nova coletânea a unidade não se
encontra na temática (que é bem variada), nem no enfoque narrativo (inquieto
que é, troca de posição a todo instante: às vezes demonstra a onisciência de um
manipulador de marionetes, noutras desce quase à posição insegura de leitor
comum), mas numa constante ironia, que anda de mãos dadas com uma insólita
visão do mundo (pois, mesmo em seus contos mais realistas, ele sempre nos acena
com sugestões fantásticas, muitas vezes surreais).
***
E neste ano
de 2014 – às vésperas de completar seus 70 anos de vida – faz exatos 40 anos
da estreia, com o livro de contos Itinerário, de Nilto Maciel na literatura.
Mas o longo tempo de ofício, as dificuldades de publicação pelas quais passam
escritores novos e veteranos, a escassez de leitores, enfim, a falta de
estímulos em geral para um escritor continuar produzindo não o fizeram
desanimar: continua firme e forte publicando um livro atrás do outro, e são
raros os dias em que não tenha uma boa ideia para um conto, crônica, poema ou
mesmo romance novos.
Desejo –
desejamos, nós seus leitores, companheiros de letras e amigos – muitos anos de
vida e, principalmente, muitos e muitos outros livros; que você continue a nos
brindar com seu talento literário e com seu exemplo de perseverança, dedicação
e ousadia.
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