segunda-feira, 17 de março de 2014


Prezados amigos,

há uma nova resenha de livro de Economia & Sociedade no portal Neoresenhas:

Patrice Lumumba, Africa´s Lost Leader, do pesquisador inglês Leo Zeilig.


Como essa resenha tem a ver com um assunto que interessa a um de nós, o nosso amigo Casqueiro, tomo a liberdade de enviá-la abaixo:

Um homem quis construir um Estado

ZEILIG, Leo. Patrice Lumumba: Africa´s Lost Leader. London: Haus Publishing. 2008. 182p.

Impressionam nele as ausências. Não possuía os atributos de outros líderes do Terceiro Mundo na mesma época: faltava-lhe a proeminência intelectual de Kwame N´Krumah, as décadas de monasticismo clandestino de Ho Chi Minh ou a construção organizativa de Gamal Abdel Nasser. Malgrado isso, tornou-se o mais célebre líder da África, ao lado de Mandela.

O jornalista inglês Leo Zeilig traça um painel geral da vida de Isaie Tasumbu Tavosa, que depois adotaria o nome de Patrice Lumumba (1925-1961) e que sob esse nome liderou para a independência um país conhecido hoje como República Democrática do Congo.

A Bélgica colonizou a maior parte da bacia do grande rio Congo (também conhecido como Zaire). Fez nela também um dos maiores genocídios da história, oprimindo a população para obter borracha e marfim quase de graça. Isso ocorreu na virada dos séculos XIX a XX. Lumumba não viu isso. Também por muito tempo não foi informado disso: a Bélica tinha uma zelosa política de não permitir a educação na sua colônia, de forma que, quando da independência em 1960, o Congo possuía menos de trinta pessoas formadas, das quais apenas um advogado.

Diante de tão poucas oportunidades o jovem Lumumba compensou a falta de escolas lendo por conta própria, aperfeiçoou o francês com um curso por correspondência. E se tornou pequeno funcionário dos correios, o que, para a colônia, não era pouca coisa. O autor argumenta serem risíveis as acusações de comunismo: em 1958 não haveria um só livro de Marx em todo o país.

Impressiona sua falta de preparo teórico. E prático. Lumumba não escreveu pequenas bibliotecas de ensaios políticos, nem gastou anos em reuniões de comitês subversivos. Ao contrário, faltando cinco anos para a independência ainda escrevia artigos sobre a obra civilizadora dos belgas. Presidiu sua primeira associação mais ou menos na mesma época. E nem era exatamente uma organização política. Só se tornou político de tempo integral três anos antes de se tornar primeiro-ministro.

As bombas atômicas jogadas no Japão foram feitas com urânio do Congo vendido barato pelos belgas. Aos Estados Unidos interessava pouco que essa fonte parasse na mão da União Soviética, apesar da quase nenhuma afinidade de Lumumba com aquele regime.

Talvez por isso foram as províncias que continham minerais as que declararam movimentos separatistas com semanas da independência. As Nações Unidas pouco fizeram, os países africanos menos ainda. Apoiados pela Bélgica, os rivais de Lumumba o mataram e instauraram um regime de corrupção que atirou um país rico em minério e energia elétrica na pobreza.

A obra traça o retrato de um homem tentando surfar um vagalhão fora de seu controle - a transição da dominação europeia direta para uma independência comportada. O colonialismo tudo fez para inviabilizar um Estado unificado e apto a usar as riquezas nacionais em benefício de seu povo. Era o sonho de Patrice Lumumba. Continua a ser um sonho africano, e são muitos os que trabalham para que se torne real.


Abraços,

Paulo Avelino 


Nenhum comentário:

Postar um comentário