terça-feira, 31 de maio de 2011

                                                        
                                    Leia-me, se for capaz.

O escritor Pedro Salgueiro lança amanhã uma coletânea de autores cearenses apenas sobre contos fantásticos: causos, lendas e histórias para ninguém dormir

Na boca da noite, quando a lua cheia chegava e a escuridão já não era mais contida pela parca luz dos postes da Light, vinham com ela as muitas histórias misteriosas, contadas ao breu das velas, recriadas pelos adultos com o intento sem-vergonha de assustar meninos pequenos.

Ah, mas não era só isso. Contar histórias fantásticas sob a luz da vela de cera era a manutenção de uma tradição virtuosa, da qual boa parte dos cearenses, até onde penso, usufruíram.

E nem é preciso ir assim tão longe no tempo. Porque mesmo na cidade grande, longe das paragens do interior, quando simplesmente faltava luz, toda criança já ouviu do pai, da mãe, do avô ou mesmo do irmão mais velho, uma dessas histórias de arrepiar.

Era ali, pertinho da vela, na mesa ou no chão da sala, enquanto se olhava de rabo de olho para a lâmpada vermelha da TV (à procura de um vestígio de eletricidade), que se buscava nos bornais da memória os causos contados muito dantes. Quais delas você ouviu? Eu ouvi a da pedra acorrentada que ia se soltar de cima da serra e destruir a cidade inteira; a do rio que sussurrava anunciando que ia morrer gente afogada; a da pick-up preta que carregava os moleques e outras tantas, lendas urbanas ou sertanejas.

Para o escritor Pedro Salgueiro, natural de Tamboril, as histórias ouvidas eram "cavalos sendo misteriosamente açoitados em estradas escuras, luzes vistas debaixo das oiticicas na beira de rios, machados cortando carnes durante a madrugada no mercado fechado e meninos que apareciam e desapareciam em jardins e camarinhas...", como descreve o próprio.

De tanto ouvir tais causos, Pedro investiu na produção do romance fantástico e, de escritor, passou a pesquisador do assunto. Em cerca de três anos de pesquisa, Pedro conseguiu, com a parceria de alguns outros escritores, reunir em torno de 130 contos fantásticos desenvolvidos por autores cearenses, desde obras de Juvenal Galeno, escritas na década de 1830, até livros inteiros dedicados ao gênero, produzidos por jovens escritores como Alan Santiago e Robson Ramos.

"O Cravo Roxo do Diabo: o Conto Fantástico no Ceará", que será lançado amanhã no Sesc Senac Iracema, foi fruto desse mergulho no insólito, escrito aqui mesmo, no Ceará, ambientando muitas vezes ali, na esquina daquela rua pela qual você passa todos os dias.


Gênero

Apesar das histórias de deuses, da Antiguidade Clássica, o fantástico se consolidou a partir do Romantismo e, desde então, transformou-se ao longo dos anos. Por isso, não se pode dizer que haja uma característica própria apenas da produção cearense. Segundo Pedro Salgueiro, no entanto, algumas particularidades permanecem, garantindo a harmonia do gênero.

"Até o século XX, predominavam as histórias fantásticas fantasmagóricas, mas isso vem mudando. Hoje, entre os modernos, os escritores mais jovens, há um pouco de tudo: lendas urbanas, ficção científica. O fato é que o conto fantástico é aquele que aborda aquilo que não pode ser explicado racionalmente e esse conceito, de certa forma, une essas produções". Acrescenta ele que muitas dessas histórias atuais são ligadas ao cotidiano e os eventos misteriosos acontecem, inclusive, à luz do dia.

Os três anos de pesquisa demonstraram como o gênero é, de fato, relativamente novo no Nordeste. Apesar de vários autores cearenses terem escrito algo de fantástico em suas obras, produções integralmente pertencentes ao gênero são recentes porque, de acordo com Pedro, o Nordeste é uma região convencionada como realista.

"Essa região era vista assim por conta das histórias de lutas do homem contra as intempéries do clima, as secas... Essa pesquisa também surgiu desse desafio, de mostrar que há no nosso Estado muita produção fruto da imaginação e não só literatura voltada para o social", defende Pedro.

Pesquisa

Vencer o edital que viabilizou a produção do livro foi até fácil, difícil mesmo foi a compilação de tantos textos, encontrados por indicações de autores e principalmente por investigações dignas de Sherlock Homes.

Para tanto, Pedro Salgueiro contou com a parceria do professor do Departamento de Letras da Universidade Federal do Ceará, Sânzio de Azevedo, e do professor de filosofia Alves de Aquino, conhecido como o Poeta de Meia-Tijela, que desafiou Pedro a incluir na coletânea uma outra vertente do gênero fantástico: a poesia. Deste modo, as quase 700 páginas de "O Cravo Roxo do Diabo" guardam 130 contos, 60 poesias e ainda 17 fragmentos de romances.

Entre os autores selecionados, destacam-se nomes como José Alcides Pinto, Carlos Emílio Corrêa Lima e Dimas Carvalho, alguns dos que privilegiaram o gênero em suas obras. Muitos dos outros autores o implantaram em seus escritos muito mais como um desafio, uma fuga da escrita realista, uma experimentação motivada por uma boa história que o povo conta.

Até o próprio nome que intitula o livro tem os seus dois pés no gênero. "O Cravo Roxo do Diabo" é o título de uma obra de Alvaro Martins (1868-1906), uma das primeiras a ser pesquisada para o compêndio e a única que simplesmente desapareceu. Isso mesmo, juro. O tal texto estava publicado em uma edição da revista Iracema, cuja coleção está integralmente preservada na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Ou ao menos estava. Faltava uma. A bendita (ou maldita?).

Até Jorge Brito, bibliófilo cearense, foi escalado para a busca e, pasmem, sequer ele tinha posse do conto ou sabia onde localizá-lo. Aí, não tem jeito, se Jorge não sabe, ninguém sabe. Resolveu-se, contudo, deixar a obra como título da coletânea, afinal já se havia mexido com o nome do "capiroto", então era melhor não contrariá-lo.

Quem sabe um dia, quando estranhamente faltar luz na sua rua, você escute que o próprio Álvaro apareceu um dia, em carne e osso, entregando a edição da revista a uma bibliotecária. Aquela que, inclusive, mora no seu condomínio. Vai saber.

Romance fantástico
"O Cravo Roxo do Diabo": o conto fantástico no Ceará
Pedro Salgueiro

MAYARA DE ARAÚJO
REPÓRTER DO DIÁRIO DO NORDESTE

sábado, 28 de maio de 2011

                                      
                                        
                                   
Sobre o 3:19 do Gênesis

Sobre os episódios no Éden

também tenho algo a dizer:

Não fomos somente nós

que tivemos de derramar

o suor do rosto, não.
E as rosas, por exemplo,

e cada botão de rosa

contorcendo-se,

Fazendo origami de si mesmo

apenas para viver,

Não conta?, Não mereceria

pelo menos um versículo?


Carlos Nóbrega

Argonautas


Uma noite no século. No meu apartamento, bebida, música, baralho. Comigo, jogam pife-pafe Thiago Pauli e Alves de Aquino - Este, professor de Filosofia e escritor, tem por pseudônimo "O Poeta de Meia-Tigela" (aviso aos gulliveres e liliputianos: a tigela é de "Brobdingnag"). Eis que, numa rádio da Internet, Caetano canta "Os argonautas": "Navegar é preciso, viver não é preciso…". Assim como um estalo, associo a frase (lema da Escola de Sagres) com jogo de azar, ciência e nossas vidas inintencionalmente erráticas, "imprecisas". Nesta crônica, desenvolvo "grosso modo" meu pensamento.

O conhecimento humano, que lida com regularidades, padrões, até meados do século XVII distinguia dois tipos de fenômenos: os singulares ou "a priori" imprevisíveis e aqueles que, por se repetirem, "são legais e merecedores de estudo científico" (John D. Barrow, "Teorias de tudo", Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1994, p. 173). Não que os fortuitos fossem desinteressantes, muito pelo contrário: eram tidos como expressões da vontade livre - arbitrária, temível - de Deus ou dos deuses. E, para compreenderem ao menos a sombra desses supostos atos de volição, valiam-se os homens de outro método, o jogo rabdomântico: I Ching, búzios, cartomancia, vareta, Urim-Tumim, dados… (a propósito, a palavra "azar" provêm do árabe "al-zahr", que significa "dado").

Um bom exemplo, "dado que, por acaso" (permitam-me o "jogo" de palavras) evoca a escola náutica portuguesa, é a história mítica do profeta Jonas. Tal como consta no Velho Testamento, o Profeta se esquiva de uma determinação divina, e foge num navio para Társis. Ocorre que, a meio caminho, irrompe violenta tempestade. Os marinheiros, temendo por suas vidas, decidem descobrir o "culpado" pelo infortúnio para lançá-lo às águas. (Impressionante como é antiga - talvez escrita em nosso genoma, de modo que nem eu mesmo escapo - a figura fascistoide do bom-moço, para a qual a solução de todo problema é mágica: achar um "Judas" e aniquilá-lo, seja física ou moralmente.) - O que os marujos fazem, então? "jogam": "E dizia cada um ao seu companheiro: Vinde, e lancemos sortes, para que saibamos por que causa nos sobreveio este mal. E lançaram sortes, e a sorte caiu sobre Jonas" (Livro de Jonas 1: 7).

A Geometria, Álgebra e Aritmética já se encontravam bastante desenvolvidas quando os matemáticos, dando-se conta da abscôndita racionalidade do acaso, ensejaram o cálculo da probabilidade: a Estatística.

E o fizeram inspirados "nos problemas de aposta, dados, cartas e todo tipo de jogos de azar" (J. D. Barrow, op. cit., p. 172). - Cientistas exatos envolvidos criativamente com jogatina pura! Vejam só o que o desespero com a liseira é capaz de fazer.

Quanto à expressão "navegar é preciso; viver não é preciso", bem: por se tratar do lema de uma "escola" cujo objetivo era desenvolver uma ciência - a Náutica - e aprimorar a técnica da navegação, por esse motivo creio que o termo "preciso" é para ser interpretado como "certo, realizável com perfeição, absolutamente seguro"; de sorte que a morte num naufrágio se deve ao fato de a própria vida ser, em essência, "imprecisa", isto é, quase caótica, vagamente previsível, composta por boas e más "surpresas", seja a bordo ou em terra firme. Com efeito, morrer absurdamente beira a normalidade: um tropeção infeliz, um osso de galinha na garganta, uma virose…

O que não quer dizer que a interpretação mais conhecida, aquela de Fernando Pessoa ("preciso" como sinônimo de "necessário"), seja errada. E não o é porque a arte também é gnose. Para confirmar isso, não vou longe: que o diga a poesia de Carlos Nóbrega - que não poderia ter faltado àquele carteado - e a d´O Poeta, bem como a "body art" espontânea do meu compadre Thiago, vulgo - não por acaso… ou sim? - Gaúcho-Show.

Manuel Soares Bulcão


quarta-feira, 25 de maio de 2011


                                             Mudanças

De vez em quando, e sem o menor motivo, chego a alguma conclusão totalmente inútil; distraído pensando sobre um assunto qualquer, um contratempo no trabalho, a final do campeonato de futebol, certa conversa com um amigo, e de súbito me baixa um pensamento vadio – se desprende não se sabe de onde e vem à tona:
– Mudo bastante de residência, a cada ano o endereço é outro, a vizinhança nova. E divago sobre o assunto – enumero as vantagens: a paisagem da janela sempre diferente, novos amigos (pra mim, que sou tão arredio a novas amizades), etc. e tal; desvantagens também várias: a casa sempre desarrumada, os livros encaixotados a maior parte do ano (e como perco tempo procurando às vezes um autor querido, e que parece encantado, eu estando doido pra lê-lo); além do enorme incômodo de ficar comunicando a todos a nova morada.
Até já criei hábito de tirar um dia no mês para passar nos endereços antigos pegando a correspondência. No fundo, chego à conclusão, causa mais incômodo que vantagens; ou não!?Deixo as conclusões de lado e passo a contar mentalmente os locais em que já morei – susto: vinte e um endereços em trinta e poucos anos de cidade. Percebo que o caso é sério, foge dos padrões normais.
Dias depois converso com minha irmã sobre o assunto, descubro estarrecido que o assunto já faz parte da crônica familiar, e que todos um dia já comentaram o assunto – alguns com simpatia, outros com uma ponta de malícia; pois é, um assunto que nunca me preocupou há muito faz parte dos comentários dos mais íntimos. Desde então, e com certa frequência, ando matutando sobre o caso; também descubro que na família, muito pratrasmente, outros parentes tinham esta mesma mania: o avô materno não sossegava no mesmo canto, um tio que morava em outro Estado se mudava às vezes mais de uma vez por ano – daí penso em determinismos genéticos e outras bobagens, em sangue cigano no passado da família –; e como sempre (e sobretudo) nunca chego a conclusões definitivas. O máximo que tenho são verdades provisórias, como a em que ando pensando ultimamente: de que a causa de tantas mudanças não é nada mais do que pura insatisfação comigo mesmo, e já que não mudo eu – mudo então de casa.
E pronto, ponto.

Pedro Salgueiro para O Povo

sexta-feira, 20 de maio de 2011


                                                 
“Organizar uma Antologia não é tarefa das mais fáceis, sobretudo quando não se pretende jogar textos aleatoriamente, sem critérios de catalogação, ou aferir valores num processo seletivo. A ideia inicial era traçar apenas um panorama do conto, mas a pesquisa avultou-se e decidiu-se, além dos 172 contos selecionados, inserir dois apêndices, com 17 capítulos de romances e 60 poemas, compondo, assim, um panorama amplo do texto fantástico cearense produzido entre os séculos XIX e o XXI.”
Aíla Sampaio                                 
Poeta e ensaísta, Professora da Unifor.


“A coletânea O Cravo Roxo do Diabo – o conto fantástico no Ceará proporcionará momentos de prazerosa leitura, pela diversidade de autores, variedade de estilos e multiplicidade de estéticas reunidas sob o viés do fantástico. Trabalho de fôlego, também se consolidará como fonte de pesquisa indispensável nas letras cearenses e brasileiras.”

Carlos Vazconcelos
Escritor

quarta-feira, 18 de maio de 2011


                  Coisas Engraçadas de Não se Rir IX: Amadamante

Raymundo Netto especial para O POVO

Nem sei como ainda existem homens que conseguem manter relacionamento amoroso, ao mesmo tempo, com duas mulheres. Eu, que tenho apenas 2 pen-drives, já desorganizei de todo a minha vida!
Domingo, na fila de um self-service, vi a moça da balança informar a um cliente: “Pois avise à sua esposa que quando vier se servir, para que eu possa fechar a sua conta, me fale o nome do senhor: Moacir”. O homem, o tal Moacir — “filho da dor”, cearense legítimo —, vidrou o olhar, esticou o pescoço no colarinho e, gesticulando o prato coberto de folhas, ofendeu-se: “Olhe, minha filha, não é por não transarmos mais que ela já se esqueceu do meu nome, não, ouviu?
Ora, até parece, pois que um senhor recebia visita e, de sua poltrona, fazia seguidos pedidos à esposa, sempre acompanhados por um afetuoso “meu bem”. “Meu bem, traz isso”; “Meu bem, cadê aquilo?”; meu bem, meeeu bem. O visitante, impressionado com o trato carinhoso devotado àquela mulher inda pós tantos anos de bodas, acusou-o em observação simpática, quando o marido riu-se displicente: “Que carinho que nada... Tu achas que ainda me lembro o nome dessa doida? O jeito é chamar de meu bem, mesmo.”
O amantismo, todos sabem, é apenas uma das mazelas do matrimônio, este, engenho decerto de mulheres (vem de “mater”, mãe), assim como o divórcio — em 70% dos casos, a pedido das mulheres —, pois que elas fazem de tudo bem feito. Começam-no e terminam-no, independentemente de consulta ao companheiro, ciente atavicamente do que significa ter ao lado uma mulher insatisfeita. Puro Inferno!
Há quem diga: fiel só Deus e a torcida Corintiana. A verdadeira fidelidade, para mim, só existe quando não se tem, sem esforço, desejo do outro. Alguns não traem o cônjuge, não por ausência de desejo, mas de coragem. Assim, defendo: se houver a menor resistência que seja a infidelidade está feita e você, também, é um de nós. E acredite: em certos casos, a maior traição que se pode fazer ao outro é continuar casado.
A razão de toda a crise conjugal se deve, além do excessivo egoísmo humano bem disfarçado sobre a capa do “respeito à individualidade”, à longa duração do acordo. Essa história de “até que a morte os separe”, deveria compreender enquanto “morte”, aquela em vida, ou seja, a morte da vontade de estar junto, e não necessariamente a morte corporal, aquela que traz, muitas vezes nesses casos, o merecido descanso.
E o que acaba um casamento? A sinceridade, por exemplo, eu sei que acaba. Creia pelamordedeus: não é a mentira que acaba o casamento, e sim, a verdade. Não a conte nunca! E, aos homens, há de se ter mais cuidado no manejo do banheiro, palco preferido para as maiores justificativas da crise.
Claro que há casamentos que podem dar certo, sobreviver a todo tipo de adversidade, seja por amor, por conveniência, ou por preguiça apenas, mas esses não têm a menor graça. Bom mesmo é casamento que ultrapassa as calçadas, enrolados em bóbis ou em tocas de alumínio nas cabecinhas de olhos na “Caras”; que ribombam às paredes geminadas das vilas; que se misturam entre panelas e grampos, ornamentados por quizílias estrepitosas, com choros, chuvas de arroz, e lágrimas nos olhos da mocinha, feito tisne, ao pé do portão; e com finais trágicos, como a tal prova de amor à bala, democratizando a tragédia passional. Por pensar assim, no bar, perguntaram-me: “Raymundo, se você se separasse, casaria de novo?” Nem pisquei — quem me conhece sabe como é difícil isso acontecer — para dizer que “Ora, é lógico que não... Nunquinha mesmo... Quer dizer, a não ser que eu me apaixonasse, é claro...”

Raymundo Netto que acredita que “perder a cabeça” não é privilégio de quem se vai à guilhotina.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

                                             
                                             Socialismos

O professor Paulo Sandroni, no opúsculo que escreveu para a “Coleção Primeiros Passos” (Teoria da mais-valia. São Paulo: Editora Brasiliense, 1985), conta que, certa vez, em visita a um amigo marxista, conversavam sobre as arbitrariedades da ditadura militar, prisão de operários e quejandos, quando um menininho, filho do anfitrião, interrompeu-os e, cheio de indignação, disse: “A culpa é dos hamburgueses!”.
A criança, neófita do jargão comunista, confundiu “burguês” com o natural da cidade de Hambúrguer, digo, Hamburgo (Alemanha). Há, no entanto, adultos com ampla formação acadêmica ou mesmo eruditos que, ao discorrerem sobre socialismo, cometem equívocos também elementares. E, por ostentarem o status de “formadores de opinião”, seus juízos são logo assimilados pelo senso comum.
Um desses equívocos, que considero o mais grave, é sustentar que o marxismo propugna um socialismo “de formiga”, com o mínimo possível de autonomia para os indivíduos. Ora, em O Manifesto do Partido Comunista (livreto de iniciação), a definição dada pelos autores à sociedade sem classes conforma-se perfeitamente ao ideal iluminista – e liberal! – do indivíduo como fim: “uma associação em que o livre desenvolvimento de cada um é a garantia do livre desenvolvimento de todos”. Já no ensaio A ideologia alemã, Marx descreve o homem do futuro que sonhara como um “homem integral”, não fragmentado pela divisão do trabalho, que “caça pela manhã, pesca à tarde, cria animais ao anoitecer, critica após o jantar…” — Logo, um indivíduo complexo, multifacetado e livre, sem nada que lembre o fascista ideal-típico, este sim um análogo de inseto social.
Outro erro é estabelecer identificação cabal entre socialismo com apenas uma de suas correntes: a “comunista”, que teve como precursores Babelf e Blanqui e cuja formulação final foi dada pelos assim chamados “clássicos”: Marx, Engels e Lenin.
Ocorre que o marxismo não detém (na verdade, nunca deteve) o monopólio do pensamento socialista. O que há de fundamental na ideia de socialismo – algo compartilhado por todas as suas variedades – pode ser resumido na seguinte sentença: a economia a serviço da sociedade (não o contrário, como sói ocorrer no capitalismo), sendo a função primeira da sociedade estabelecer a igualdade entre os homens.
Já as questões que dividem os socialistas são duas: a) saber qual o modelo econômico que serve – como o melhor ou na condição de único compatível – aos propósitos deste sistema social; b) o tipo de igualdade a ser implantado: igualdade de oportunidades? Igualitarismo cabal? Igualdade universal ou somente para os indivíduos de uma determinada nação, etnia ou raça supostamente superior? (esta última interrogação é a que demarca o socialismo de esquerda do socialismo de extrema-direita, ou nacional-socialismo.)
Ex-marxista (“ex”, não “anti”) e ainda socialista, simpatizo com a corrente, hoje em ascensão, do liberal-socialismo, cujo precursor foi o economista e filósofo utilitarista John Stuart Mill. (seus principais teóricos são L. T. Hobhouse, Francesco Merlino, Guido Calogero e Norberto Bobbio.) Tal corrente não tem o ranço messiânico judaico-cristão (logo, religioso) da variante marxista ortodoxa; não sataniza o mercado, ao contrário: entende que, por ser o mercado um produto histórico anterior ao capitalismo (e não uma criação deste), é perfeitamente assimilável; defende que, no socialismo, o lucro deve permanecer como critério “de eficiência empresarial”, embora não mais como único ou superior critério e, muito menos, como base da moralidade; busca estabelecer uma combinação “ótima” entre mercado e Estado de Direito Democrático para a promoção de justiça distributiva e salvaguarda do imperativo segundo o qual “nenhum homem deve ser tratado como meio, mas como fim em si mesmo.
Manuel Soares Bulcão Neto
Crônica publicada no jornal Diário do Nordeste em 15/05/2011, com o título “Mercado e Estado”.

         
                        
           O concerto inebriante do Poeta de Meia-Tigela

(Nilto Maciel)



Vi, pela primeira vez, o Poeta de Meia-Tigela numa noite de ano da dezena inicial do terceiro milênio. Visão que me estarreceu. Imaginei-me em estado de alucinação. Sim, aquela figura esguia, quase transparente, alva de pele e roupas, a caminhar na minha direção, me fez tremer. Culpei a bebida. Andava então a me embriagar todo dia. A ter pesadelos, acordar trêmulo e com ganas de subir ao mais alto do prédio e de lá me jogar para o precipício do nunca mais.

Eu o esperava, é certo. Pois Pedro Salgueiro combinara uma visita a mim, tal qual vem fazendo há quase dez anos. Toda semana me telefona: Nilto, quero te apresentar um poeta novo. Nunca diz: Levarei à tua presença uma poetisa jovem. Vem sempre acompanhado de meia dúzia de poetas e prosadores.

Quando pronunciou o nome do visitante, brinquei: Homem de Deus, já me bastam os poetas de meia-tigela que você traz ao meu tugúrio de concreto. Por que não vem com Jorge de Lima, Murilo Mendes, Nauro Machado? Ele riu, porque sempre ri: Você não irá se arrepender. Este é dos bons.

O Poeta de Meia-Tigela tem outro nome: Alves de Aquino. Porém, prefere o primeiro. Estudou filosofia, que conhece como poucos filósofos, de Sócrates e Platão a ele mesmo, e leciona a matéria numa universidade. Sua figura, no entanto, não lembra a de um pensador grego, mas a de algum personagem de Dostoievski, de quem é leitor full time.

Nos primeiros momentos do encontro, falei pouco, desconfiado, a mirá-lo de soslaio. Quem seria aquele sujeito de aspecto ultrapassado, barba comprida e rala, cabelos assanhados, olhar de desvairado, jeito de parricida, fala mansa?

Outros encontros ocorreram. Mais conversas recheadas de lucubrações e regadas a éter e demais anestésicos. Aos poucos, tornei-me seu admirador, não por sua sabedoria aristotélica, sua maneira platônica, sua quietude socrática. O que nele seduz é a humildade. Não vive a esfregar poemas na cara dos ouvintes. Sabe ouvir e falar, sempre atento aos menores ruídos ou aos maiores silêncios.

Poeta da genealogia daqueles de quem pedi presença a Pedro, não necessita de apresentações, apesar de novo. Entretanto, me solicitou prefácio para seu magnífico conjunto de poemas Concerto nº 1nico em mim maior para palavra e orquestra, editado em 2010. Se eu soubesse da grandeza deles, teria recusado o convite. Pois não tenho aptitude sequer para falar da Grande Poesia, quanto mais para analisá-la. Sou apenas leitor indolente e sem perspectivas de dar um passo a caminho da hermenêutica. Ele, porém, não conhece o meu estado mental e, inteligente e magnânimo que é, quis me privilegiar. Rabisquei umas tolices e ele as achou saborosas. Estou em seu livro, pois.

O Poeta tem me visitado com frequência. Falamos de quase tudo: livro, literatura, música, cinema, vida, mulher... Nunca se mostra sábio. Chega a fazer perguntas. Não, não quer medir meus conhecimentos. Não é daqueles homens sabidos que destilam sabedorias em mesa de bar. Não profere frases feitas ou extraídas de livros. Fala a língua dos poetas. Ou nem tanto. Não dá lições, não se exibe com ares de professor. Parece aluno de escola primária ou aprendiz da vida. Ouve com atenção, opina, discute, sem empáfia, como se todos fossem poetas da sua estatura. E não somos. Ou não sou.

O que dizer, então, das mulheres do Poeta? Amante doentio de Emma Bovary, Anna Karenina, Bárbara de Alencar e outras heroínas literárias ou reais, ele vai da Rússia czarista e da França puritana à Fortaleza do final do século XX e do princípio do XXI, movido pela mesma paixão: a liberdade de amar e viver. Com aparência de santo ou místico – não aquele figurino de Francisco de Assis adotado por outro poeta apaixonado, o asceta Alcides Pinto –, modula seu cântico nos colos febris das raparigas (no sentido antigo da palavra) em flor.

À maneira de Caetano Ximenes Aragão, em Romanceiro de Bárbara, o Poeta de Meia-Tigela compôs poemas para a primeira grande revolucionária nascida no Ceará, reunidos no volume Memorial Bárbara de Alencar & Outros Poemas (2008). E lhe deu voz: “Costuma ser grata / A volta pra casa. / Mas não neste caso / Em que me maltratam”.

Alves de Aquino é, também, divulgador de arte. Por algum tempo, editou um jornalzinho, repleto de poemas, contos, entrevistas com escritores e muito mais. Numa das edições, estampou entrevista comigo, realizada por ele e Mario Sawatani, na casa deste. Para nos sentirmos relaxados, serviram vinhos chilenos e música popular brasileira. Ligado o gravador, perdi a compostura e, instigado pelos dois entrevistadores, contei tudo. Tanto quanto um torturado. À hora do almoço, a conversa resvalou para os porões mais escuros da nossa intimidade. Muito sério, o Poeta me chamava de Príncipe Míchkin, como se me visse russo e idiota. Quis me zangar, mas, me conformei com minha condição, ao vê-lo confundir Mario (seu amigo de infância) com Dimitri Karamazov. Felizmente, o inteiro teor daquele colóquio não chegou ao jornal.

sábado, 14 de maio de 2011

                                            Lançamento

                            Devaneios, Delírios e Desamores
                                                
(PREMIUS Editora)
Data: 2 de junho de 2011 (quarta-feira)
Horário: a partir das 19h30
Local: Centro Cultural OBOÉ (rua Mária Tomásia, 531, Aldeota) 
Para aquisição de livros e contato com o Autor: bernivaldo@gmail.com
                                                 Sobre a Obra:

O romance narra de forma dinâmica a trajetória de personagens como Fred e seu confuso amor com Adriana Marta, do qual nasce Frederico Júnior, o FJ, o primogênito. A visita obrigatória de Fred ao colégio do menino rebelde é a porta entreaberta para um reencontro com o passado; ao se deparar com o algoz de seu filho, a coordenadora de ensino, o pai sente que algo não é como lhe parece. Por que aquela jovem noviça parecia tão acabrunhada? o que temia? Por que insistia em livrar-se logo daquele enfadonho encontro?
O passado guarda a história de Maçaroca e uma das cinco filhas do seu Felicíssimo, a Dora, amante de Dr. Fechinni. As outras, Cida, Ceiça, Jacira e Tilda também têm espaço na narrativa, sendo esta, uma intrigante leitora dos clássicos literários. As moças trazem no sangue a ânsia de viver intensamente, sem preocupação com escrúpulos, censura ou remorsos. Por isso, atraíam os mais diversos tipos humanos, como a louca “Ainda Tem”. É nesse clima que Tilda e Santos elaboram e seguem minuciosamente o audacioso plano para pôr fim à vida de Porfírio. Desfecho inusitado.
Rejane Nascimento (Professora e escritora)
Sobre o Autor: Bernivaldo Carneiro é natural de Jaguaretama, Ceará. Formado em Geologia pela Universidade Federal do Ceará, com especialização em Engenharia de Saúde Pública e Ambiental/Sanitarista, USP-SP. É funcionário público federal há 31 anos. Tem outras obras, dentre as de ficção: Fofocas, futricas e folclore (romance, 1998), Satirizando o cotidiano (crônica, 1999) e Nas garras de um irreverente (crônica, 2000). É membro da Academia de Letras dos Municípios do Estado do Ceará/ALMECE e membro da Associação Cearense de Escritores/ACE.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

                   
               MUITO – Revista Semanal do Grupo “A Tarde”
               Breno Fernandes entrevista Pedro Salgueiro
Pedro Salgueiro (Tamboril, Ceará, 1964) é da geração que ficou conhecida como Geração 90, por conta da compilação homônima organizada por Nelson de Oliveira. Salgueiro tem editados os livros de contos O Peso do Morto (1997), O Espantalho (1996), Brincar Com Armas (2000), Dos Valores do Inimigo (2005) e Inimigos (2007), de contos; além de Fortaleza Voadora, de crônicas. Vencedor do Concurso Guimarães Rosa, da Rádio France Internationale, e do Prêmio de Contos da Biblioteca Nacional/Instituto Nacional do Livro para obras em curso, dentre outros. Tem contos nas coletâneas Contos Cruéis, Geração 90: manuscritos de computador, Os Menores Contos Brasileiros do Século, Quartas Histórias e Todas as Guerras.
Diz ele que, se essa tal Geração 90 tem algo em comum, é justamente a falta de um estilo ou temática em comum. De sua parte, prefere ambientar seus contos nas pequenas cidades.
BF: É possível ensinar a escrever?
PS: Ensinar a escrever, sim, claro, com técnica, boa gramática e um estudo apurado; agora, escrever com talento é bem mais difícil. Acredito muito que exista uma capacidade inata para apreender o mundo ao redor e transportá-lo para o papel em forma de arte; assim como acredito também que sem um esforço de elaboração, de suor, de tentativas várias, não se consiga desenvolver um texto de valor maior. Um jogador de futebol esforçado pode até ser mais eficiente que um craque relapso, mas um craque esforçado vale por mil apenas esforçados.
BF: O que mais te atrai no conto?
PS: O desafio de tentar dizer tudo o que se tem em mente com pouquíssimas palavras, de contar uma história ou sensação sem ter que matar (como bem dizia Clarice Lispector) com palavras as entrelinhas. Acho que o contista, por causa desse desafio, tende a ter uma técnica mais apurada, um senso de escolha mais contundente. Como escreveu o argentino Cortázar, o escritor de contos  tem que ganhar a luta de boxe por nocaute (já o romancista pode muito bem se contentar em vencer por pontos), com um golpe certeiro.
BF: Nunca tentou o romance, a poesia?
PS: Como quase todo jovem comecei escrevendo poesia, uma poesia muito ruim, imitando a péssima poesia dos poetas marginais dos anos 1970. Com o tempo, e quase sem querer, fui, naturalmente, indo para a prosa curta. Não acredito que um autor escolha o gênero em que vai escrever melhor, acho que o gênero é quem escolhe o escritor. Tem pessoas que até pra dar um recado dão arrodeios, fazem associações em várias direções, traçam paralelos, acabam (se não tiverem muito talento) confundindo o interlocutor; estes serão os romancistas. Outros enfeitam tudo que falam, tem uma presença de espírito em dizer coisas banais; escreverão poesias com êxitos. Já o sujeito seco, lacônico, fatalmente se sentirão atraídos pelo conto. Na maioria das vezes em que escuto essa pergunta de quando irei escrever um romance, percebo um certo ranço de preconceito para com o contista (não é o seu caso, acredito), como se o romance fosse um passo além… Então, para desafiar o interlocutor, costumo afirmar que escreverei um romance quando não tiver mais capacidade de escrever um bom conto (claro que devolvo o mesmo preconceito, mas serve como vingança).
 BF: Minimalismo é escolha estética ou dogma?
PS: É tendência inata, não escolhi escrever contos curtos com uma consciência teórica, sempre fui lacônico, calado, casmurro… Tudo o que é derramamento sempre me enfadou muito. Talvez por eu ser de uma região muito seca (o sertão dos Inhamuns, no Ceará) tenha adquirido uma secura interior inconsciente; na minha região as pessoas são lacônicas, falam as frases pela metade, nunca completam o raciocínio começado, têm medo de que a quentura seque a saliva de suas bocas. Claro que a escolha dos meus autores prediletos seria por esses parâmetros, da contenção, da secura; da tentativa de dizer o máximo com o mínimo de palavras. Sempre fui fanático por Machado de Assis, Juan Rulfo, Dalton Trevisan, Luis Vilela, Tchekov, Moreira Campos e outros mini(ani)malistas.
BF: Qual o ponto em comum dos autores chamados Geração 90?
PS: Apesar de ter participado da coletânea Geração 90: Manuscritos de Computador, organizada por Nélson de Oliveira, eu nunca consegui ver uma identidade comum entre os muitos autores, eu mesmo sempre me senti um peixe fora d’água dessa turma toda, pois ainda faço uns contos ambientados em cidades pequenas, quando a maioria é bem urbana… Talvez o que pareça mais comum nessa minha geração seja a falta de traços comuns entre seus membros (risos). Sinto-me mais próximo talvez (descontando o desnível, claro) de um José J. Veiga, de um Graciliano Ramos; também percebo alguns pontos de contatos dos meus pequenos contos com os que fazem hoje, por exemplo, Ronaldo Correia de Brito (também cearense) e o sergipano Antônio Carlos Viana.
BF: O que foi marcante na literatura nos anos 00?
PS: Acho muito cedo pra que se analise até mesmo a minha geração, que hoje é composta por tios grisalhos e barrigudinhos, quanto mais a essa safra maravilhosa de bons autores que pululam por aí em todos os estados; daqui a uns 20 anos talvez se vislumbre o pouco trigo perdido em meio a esse imenso matagal de joios. Mas nós precisaremos sempre de classificações, de amarras, de compartimentos estanques, de etiquetas… Muitas vezes um autor é bem mais próximo de outro que escreveu um século antes, outros estão completamente à frente de seu tempo (estes, muito poucos). Aqui mesmo no Ceará e outros estado do Nordeste vejo uma juventude muito afoita, muito aguerrida; mas dificilmente agora saberemos quem é fera mesmo, quem é só fogo de palha… o que se tem aprendido com o passar das gerações é que sobrevive bem pouca gente, e que nem sempre é quem está na boleia de sua geração (risos).
BF: Como é seu processo de escrita?
PS: É uma mistura de intuição com técnica aprendida ao longo de anos de leitura; de erros muitos e acertos poucos; de muito papel riscado (ainda hoje escrevo à mão as três primeiras versões dos contos), de cada ano floresce duas ou três historinhas em meu jardim de cactos, quando muito. Gosto de ficar matutando a narrativa um bom tempo antes de pô-la no papel, mas às vezes elas vêm de uma vez com uma força danada, como um transe espírita (o que sempre acho um mistério). Guardo por um bom tempo, releio, vejo se mantém ainda o fogo do início; penso em outras maneiras de contar a mesma história, faço variações, submeto aos amigos escritores, à minha companheira, também mostro para pessoas que não têm muita familiaridade com a literatura, pra sentir alguns aspectos de compreensão, de efeito das imagens. Porque o conto tem várias camadas, e alguns níveis de escrita nem todos vão perceber, mas acho que temos que fazer um bom balanceamento dessas camadas, para que não caiamos nem no conto raso, anedótico, típico, nem na mera masturbação estética, preciosa, vazia.
 BF: Quem são os escritores que mais te influenciaram?
PS: Não dou conta de quantos, desde os livrinhos de caubói que lia na bodega de meu avô, que era viciado, fanático mesmo, passando pelos cordéis de feira (tão comuns em minha região), que passavam da voz dos cantadores para o papel ruim das tipografias, até os livros ditos literários mesmo. Sempre li de tudo, de literatura barata aos clássicos. Claro que com o tempo você vai se apegando a alguns autores, que foram vários em diversas épocas; teve o tempo do realismo mágico, li quase tudo de Jorge Luis Borges, Garcia Márquez, Vargas Lhosa, Júlio Cortázar, veio a época dos clássico nacionais, dos estrangeiros, me ficaram alguns autores de cabeceira, como Juan Rulfo, Graciliano, Moreira Campos, John Fante, Salinger, Dalton Trevisan, José J. Veiga e diversos outros que volto de vez em quando. Agora mesmo estou relendo todo o Tchekov que tenho guardado, e que prazer renovado, que força, que sensibilidade. Onde terá aprendido tanto da alma humana em tão pouco tempo de vida aquele discreto médico de província, de família miserável e atitudes discretas? Um mistério! Agora tento aprender mesmo é com o livrão do mundo, como bem disse Raduan Nassar em uma de suas raras entrevistas (Cadernos de Literatura, do Instituto Moreira Sales).
BF: Que obra dita grandiosa você leu e achou ruim?
PS: Diversas grandes obras da humanidade li sem nenhum prazer, mais por incapacidade minha, por pressa, por estar mais interessado em outras coisas; de alguns autores esperava muito e me decepcionei, muitos anos depois, por contingência de um relançamento ou outro qualquer, fui reler e adorei. Uma grande obra não é nunca ruim, outros é que são os nossos anseios, expectativas. A primeira vez que li os contos de Juan Carlos Onetti achei um “saco”, monótonos; eu ainda estava impregnado de García Márquez e seu turbilhão de imagens, não poderia gostar mesmo naquele momento, tempos depois me tornei fanático pela obra do uruguaio, que hoje tenho toda num lugar bem seguro da estante, sempre ao alcance da mão.
 

                                      
                                           
10/05/2011. Maria Tomásia é a Rua do Centro Cultural Oboé. A conta gotas, sob uma noite fria de chuva recente, os convidados chegavam ocupando as 250 cadeiras do auditório. Às 20h10m a cerimonialista Arlene Portelada inicia o evento literário. Várias pessoas se avizinhavam em pé. Raymundo Netto, representando a Secult, foi o primeiro orador. Ângela Gutierrez fez a apresentação do livro.
Pedro Henrique Saraiva Leão, no posfácio do livro, assim se manifesta: “Realmente são contos farpados, pois ferem e deixam vergões na mente de quem os lê. De tão bem cerebrados são sinceros, e o leitor fica acreditando na sinceridade do autor”.
Fernando Siqueira Pinheiro, autor do livro de contos Ao lado do morto, conclui no prefácio: “Os contos de Jesus Irajacy Costa mesclam tradição e modernidade. Suas historias são contadas com ritmo, tensão e concisão adequada. As reviravoltas e as surpresas estão presentes, mas o que chama atenção é a ausência de um fim definitivo, como se houvesse a intenção de manter um silêncio qualquer, e isto impõe ao leitor a necessidade de refletir e a possibilidade de dividir com o autor o rumo das personagens. Talvez esta característica seja conseqüência da condição de médico. Não cabe a nós procurar finalizar tudo sempre com um esboço de esperança? De todo o modo, se o verdadeiro objetivo de um escritor é fazer vir à tona algo que estava oculto, Jesus cumpriu sua função com maestria. Contos Farpados chega, portanto, pela porta da frente da literatura cearense, e a forma como vem apresentando garante que muito mais ainda está por vir. É só uma questão de tempo.”
Escritores, intelectuais, médicos, professores, alunos, integrantes das associações literárias, pais, esposa, filhos, pacientes do médico amigo acentuaram os ouvidos para o autor de Contos Farpados, contemplado pelo edital da Secult, através do Prêmio Moreira Campos. Jesus Irajacy pouco falou do livro. Preferiu agradecimentos migrados do seu contentamento. E foi longa, detalhada a lista da qual destacou: Pedro Salgueiro, Carlos Vazconcelos, Glauco Sobreira, Tércia Montenegro, Pedro Paulo Montenegro, Fernando Siqueira Pinheiro, Pedro Henrique Saraiva Leão, Ângela Gutierrez, seus pais, esposa e filhos, funcionários da Clinica Radiun. Para Jesus Irajacy sem o apoio destas pessoas, cada uma com sua contribuição para o crescimento, finalização e edição do livro, a belíssima noite de autógrafo não existiria. 

Silas Falcão

quarta-feira, 11 de maio de 2011


                                            


segunda-feira, 9 de maio de 2011

Seguem abaixo os nomes dos presentes ao nosso encontro.
Carlos Nóbrega/Silas Falcão/Frederico e progenitor Sr. Marques e o amigo Émerson/ Haroldo Felinto/ Leila Maria/ Oneida Milhome e sei irmão Rômulo e amiga Fátima/ Veleska Capistrano/ Pedro Guálter/ Pedro Salgueiro e esposa Ana e filha Ana Júlia/ os anfitriões Anastácia e Bernivaldo e sua equipe de apoio: a secretária do lar Leidiane Ribeiro, o caseiro Raimundo Araújo e esposa Maria do Socorro e filho Vinícius e o churrasqueiro Chiquinho Gonzaga.
Abraço,
 Bernivaldo.


 
                                        Família Carneiro
Após desistências de datas anteriores, os Poetas de Quinta, com exceção de alguns Poetas faltantes, se reuniram no belíssimo sítio dos Carneiros. Bernivaldo, o romancista anfitrião, e sua esposa Anastácia capricharam no conforto que o ambiente nos proporcionou. Espaços ajardinados, um campo de futebol de muitos gols gritados, mangueiras com suas extensas e acolhedoras sombras, casa duplex alpendrada, sala de sinuca e uma bela piscina formam o ambiente de lazer com uma boa churrasqueira que assava carnes saborosas e variadas. Cerveja, campari, uísque, coquetel Pantera cor de rosa apetitosamente elaborado pelo Célio Felinto, enriqueceram o cardápio incansavelmente consumido pelos participantes. Degustamos um saboroso self service de olhares felizes e sorrisos fáceis. O final de semana no sítio dos Carneiros se eternizará como um dos admiráveis momentos saboreados pelos Poetas de Quinta e convidados. Parabéns para a família Carneiro.
Silas Falcão.




                                     

Haroldo Felinto e o seu texto O homem que cheirava tabaco.

A Bela Valeska

Dedicamos esta foto aos Poetas de Quinta ausentes.
                             Sinuqueiros talentosos. rsrsr