Batista
de Lima
Diário
do Nordeste
Há
uma grande quantidade de academias literárias e associações culturais no Ceará.
São grupos que comprovam que o intelectual cearense é gregário, gosta de um
mutirão, quando o assunto é qualquer vertente das artes. Parece que o nosso
artista não confia muito na capacidade individual. É através dessa união de
pessoas que os projetos de divulgação de obras se tornam viáveis. Mesmo assim
encontram-se alguns intelectuais renitentes em não se aproximarem de outros
nessas entidades. São poucos, mas é bom lembrar que o escritor Alcides Pinto
era um deles, sempre se negando a ser acadêmico.
Certa
feita convidaram Alcides Pinto para pleitear uma cadeira na Academia Cearense
de Letras. O poeta respondeu que instituíssem um concurso que ele talvez
pudesse concorrer. Francisco Carvalho foi praticamente colocado na Academia.
Não pediu voto a ninguém. Inscreveram-no. Foi à posse e não mais frequentou
aquele sodalício. O poeta Roberto Pontes e o contista Pedro Salgueiro nunca se
interessaram por academias. Há, no entanto, escritores de pequeno porte, que se
dilaceram em campanhas para ocupar cadeiras de academias. Há deles que
participam de oito a dez dessas entidades.
A
Academia Cearense de Letras, a mais disputada, mais glamourosa e a mais antiga,
pois foi fundada em 1894, ocupa, atualmente, o Palácio da Luz. Ali, além de ser
sediada, ela ainda abre suas portas para as reuniões de outras 11 academias.
Além dessas, há outras entidades que também se reúnem nas suas dependências.
Entre elas estão a Associação das Jornalistas e Escritoras do Brasil, seção do
Ceará; a Associação Brasileira de Bibliófilos e a Sociedade Cearense de
Geografia e História. Quanto às academias que se reúnem no Palácio da Luz, além
da ACL, podemos citar a de Retórica, a da Língua Portuguesa, a Metropolitana de
Letras, a de Letras dos Municípios do Ceará, a Fortalezense de Letras e a
Municipalista de Letras, entre as mais atuantes.
A
Academia de Letras dos Municípios do Estado do Ceará (Almece) possui em seus
quadros representantes dos municípios cearenses. Nem todos os municípios estão
ali representados. Se isso acontecer um dia, nós teremos 184 sócios já que é
esse o número de municípios de nosso Estado. Interessante é que os municípios,
por sua vez, estão criando suas academias como é o caso da Academia Limoeirense
de Letras, da lavrense, da cedrense, da varzealegrense, da ipuense, da
comucinense e de outras. Assim, teremos em breve 184 academias, uma para cada
município cearense. É evidente que muitos municípios ainda não criaram seus
sodalícios mas o exemplo vale a pena ser seguido.
Curioso
é que os colégios também estão criando suas academias. Tudo começou com o
Colégio Maria Ester, criando sua Academia de Letras com componentes sendo
alunos da entidade. Logo em seguida, outras escolas lhe seguiram o exemplo. Já
há um bom número dessas entidades nas escolas cearenses. Acontece que, segundo
dados do Conselho Estadual de Educação, há no Ceará 10 mil escolas de ensino
fundamental e médio. Se todas essas escolas criarem suas academias, daqui a
pouco teremos 10 mil academias a mais.
Diante
desse grande número de academias há os que aprovam mas há os que reprovam. Há
até escritores que falam mal de tanto academicismo, diante da rara qualidade de
muitos dos componentes dessas instituições. Há escritores jovens que falam mal
até da Academia Cearense de Letras e, quando chegam à maturidade, lutam para
ingressar nos seus quadros. Essa luta para ingressar na ACL muitas vezes
apresenta lances inusitados. É que às vezes, no próprio velório de um
acadêmico, há quem já se insinue como pretendente à vaga aberta. Depois, sem o
respeito pelos prazos regulamentares, há os que já telefonam em pedido de
votos. Essa prática condenável também acontece às vezes até na ABL.
Outra
prática prejudicial às academias fica por conta daquelas pessoas que lutam para
ingressar na entidade, são eleitas, tomam posse e não mais a frequentam. Essas
entidades reúnem-se mensalmente e apenas em torno de 30% dos membros frequentam
as reuniões. Os dirigentes lutam para que haja frequência maior, mas não
conseguem. Aliás, por falar em presidência, são poucos os acadêmicos que
desejam dirigir suas academias. É um trabalho espinhoso por falta de apoio
público e pela obrigação de manter viva e atuante a entidade. Por isso que há
presidentes que são como que permanentes.
Dois
presidentes que há bastante tempo vêm sendo reeleitos para suas respectivas
academias são Lima Freitas, da Academia de Letras dos Municípios do Estado do
Ceará, e Maurício Benevides, da Academia Cearense de Retórica. Há outros
cidadãos que ocupam a presidência de mais de uma entidade. José Augusto Bezerra
é o atual presidente da Academia Cearense de Letras, mas também é presidente da
Associação Brasileira de Bibliófilos, isso sem contar que até há pouco tempo
presidia o Instituto do Ceará, agora sob a presidência de Ednilo Soarez. O
jornalista Vicente Alencar é o atual presidente da Academia Cearense da Língua
Portuguesa e presidente da União Brasileira de Trovadores, além de dirigir a
Terça-feira em Prosa e Verso.
Se
aqui fôssemos citar todas as academias do nosso Ceará e seus presidentes, seria
um não acabar mais. Entretanto é bom lembrar que todas elas têm sua função
social. Eles congregam pessoas de saberes, estreitam relações de amizades,
promovem palestras, confraternizações, e dinamizam hábitos de leitura e
aprendizagem. O que poderia ser feito por pesquisador, de uma dessas áreas
contempladas, era um levantamento de todas essas entidades, com seus estatutos,
seu histórico, seus dirigentes e a relação dos sócios ao longo dos anos. O
pesquisador teria material suficiente para monografia, dissertação ou tese.
Afinal, o importante seria também apontar as razões que contribuem para tantas
entidades culturais entre nós. Não adianta conhecermos o mundo cultural lá de
fora se não nos conhecemos, mesmo com nossas limitações.
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