sexta-feira, 23 de agosto de 2013

DOMINGO DE MADRUGADA




Por Gilson Pontes


            Enfim, agosto chegou sem muito estardalhaço e me devolve não tão lépido nem por demais fagueiro à crônica de jornal. Mas como estamos no Brasil e que para alguns acha um mês de raras superstições, tudo por questão desse a antes de gosto, que dizem ser mês do desgosto. Mas acho que não.    

         Escrevo mesmo deitado sob uma luz esmaecida do quarto, e já é domingo e chove desde a madrugada, quando me despertei. Preguiçosamente sinto esse estar no mundo despido de compromissos urgentes. Nem sempre, mas aos domingos sou acometido de um sentimentalismo de seresteiro, mas só me dá vontade de estar só. Não sei por que, mas quando chove me bate uma melancolia terrível, inexplicável.

            Lentamente a madrugada se faz, acontece feito filha pródiga da escuridão, que me dá a impressão de estar a um passo do suicídio. E gosto de escrever o que me vem na telha e de costume só me resta escrever e tentar diminuir a insuperável distância entre eu e outro e que me compreenda, os que me leem. Domingo, já quase manhãzinha chuva torrencial molha toda a Fortaleza, Terra de Alencar e de Nossa Senhora da Assunção, em que até Deus entra em clima de feriado. E então o cronista ao despertar com a chuva aos poucos de palavras em palavras vai verticalmente amontoando algumas literárias besteiras. Pra mim às vezes vejo os domingos inodoros, incolores, insípidos.         

         Caro leitor, como o tempo está se indo tão rapidamente e já estamos em agosto, mal o ano começou já se passaram finalmente oito meses. Entanto, houvesse por nós passando num piscar de olhos. Logo, logo chega os BR-O-BROS e se vai o ano. E todo haverá vivido um pouquinho mais. Mas o tempo não para e não perdoa e leva tudo consigo. E quando eu tiver saído/para fora do teu círculo/.Tempo/tempo/tempo/tempo/Não sei nem terá sido/Tempo/tempo/tempo – Caetano Veloso – Oração do Tempo. Digo, oh, tempo! Demasiadamente fugaz que nem percebemos a existencial jornada certeira levando-nos a qualquer dia ou hora, eis-nos de frente ao grande mistério que tentamos inutilmente fugir – a morte. Pois o inadiável nos espera, solerte e voraz. Penso o mundo ser um imenso palco e nós os personagens que por vezes, insubstituível.

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