ASSIM FOI O PENTA
= SEGUNDO TEMPO =
Também
tiveram vida efêmera: a Polônia, a Rússia, a Azzurri... A Seleção dos ragazzos
cultuados pelo público feminino e assemelhados foi mais uma vítima da Coreia. Deixou
a disputa logo nas oitavas de final. No embalo, o Paraguai de Cheiraveia
(quiero decir, Chilavet) também nessa fase da competição disse hasta la
vista aos que permaneciam. O nada adepto do Fair play não teve chance de cuspir mais uma vez na feia cara de
Roberto Carlos (o rei do petardo, não o da música) e voltou mais cedo para casa.
Cuidar da própria carreira política era meta. Porém, pesado como estava de
tanto papar frango, decerto teria mais sucesso disputando a gerência do
Movimento Vigilantes do Peso, do que a presidência de seu país.
Nesse
ritmo, um futuro promissor se descortinava para nós. Desde o Mundial anterior,
a quinta estrela era reclamada por nossas camisas. E, com esmero e honra,
arrumamos as malas dos súditos da Rainha. A propósito, que hino engraçado esse English
team!: [...] Deus salve nossa graciosa rainha[...]. Se a Elisabeth
em apreço é graciosa, vou candidatar minha octogenária avó a miss-mundo.
Lágrimas
ainda banhavam as faces do baby face David Beckham, quando a Coreia (nos
pênaltis) decretou o inferno astral de outro selecionado. Desta feita a vítima
foi a Fúria, que, com razão, encheu-se ainda mais de ira. E com razão. Qual
espanhol sangue de barata acataria de bom-grado a anulação de dois gols
legítimos, sendo um na “Morte súbita”?
E
neste ritmo nossas chances seguiam crescendo. Novamente enfrentamos os
aguerridos turcos e mais uma vez o selecionado defendido pelo goleiro Rüstü
(aquele das duas baratas abaixo dos olhos, ou seriam os dois tremas do próprio
nome?) tomou peia...
Para
quem acha pouco aqui vai outro golpe de sorte nosso. Depois de um apagadíssimo
primeiro tempo, logo no início da segunda etapa, o Fenômeno, com “um bico a la Romário” — assim ele definiu sua
salvadora obra — carimbou nosso ingresso para a final. Enfim, mais um tento do
Ronaldão rumo à artilharia das Copas e à renovação do título de Melhor do
Mundo. A propósito, se no intervalo da partida o teimoso Felipão foi convencido
a mantê-lo em campo (que já nem era a sombra daquele que lhe rendeu a pecha de
Fenômeno), o conselheiro não deve ter sido o barbeiro responsável pelo exótico
penteado do craque. Senão, Nossa Senhora do Caravaggio.
Presente
em todos os Mundiais (quatro títulos e dois vice-campeonatos) o Brasil
finalmente enfrentaria, numa final de Copa, a temida Alemanha. E os germanos
vinham credenciados a se igualarem a nós em conquista do caneco. Trazia também
na bagagem, além da empáfia, a fama de vencedora. Sugestionado pela definição
europeia: “Futebol é um esporte que todos jogam, mas no final os alemães vencem
de 1 x 0”, levantei o histórico dos confrontos de nosso selecionado contra eles.
A estatística me tranquilizou um pouco apontando friamente a deliciosa mania
que eles têm de perder para nós. E isso, somado ao que ouvi do falastrão
narrador oficial da Deusa platinada, inspirou-me a esta bairrista
paródia: futebol do lado de cá do Atlântico é algo parecido com o que os
alemães pensam que jogam, mas só o Brasil sabe jogar e vencer. Não deu outra.
Mantivemos a escrita. Calamos o também boquirroto Oliver Kahn. Convertemos seu
jeito pastor alemão de ser, em figura de cão sem pedegree e sem rumo. Nossos heróis deram a volta olímpica e o
oportunista capitão Cafu fez história. No pedestal do palco da premiação,
debaixo de linda chuva de papéis laminados picados e fogos de artifício, caídos
da cobertura do estádio e aplausos dos companheiros, ele inspirou fundo, içou o
troféu aos céus e a plenos pulmões declarou seu amor à consorte Regina. Sob a
amarelinha a afirmação de 100% Vila Irene
— comunidade em que nascera e se criara. Enfim, o único atleta do Planeta a
participar de três finais seguidas do certame, acabava de marcar pontos com os
telespectadores em geral. A mulherada então achou o máximo a aquela declaração
de amor em rede mundial. Sem contar que igualmente orgulhosos e felizes ficam
os companheiros de sua difícil juventude.
O
Felipão por sua vez, considerado por Dom Dieguito em momento de explícita dor
de cotovelo, um aparecildo de alta linhagem, correu para galera. Um feito que o
credenciou a desfilar, por onde bem entender, com uma melancia pendurada no
pescoço sem ser discriminado. Uma conquista, um título que lhe dá o direito de
expor sua figura como melhor lhe aprouver sem arder na chapa quente dos
brasileiros. Afinal, qual brazuca que se preza não traz nas veias o
verde-amarelismo que tanto mexe com a gente e nos orgulha em tempos de copa do
mundo?
Bernivaldo
Carneiro
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