quarta-feira, 2 de julho de 2014



ASSIM FOI O PENTA

= SEGUNDO TEMPO =

        Também tiveram vida efêmera: a Polônia, a Rússia, a Azzurri... A Seleção dos ragazzos cultuados pelo público feminino e assemelhados foi mais uma vítima da Coreia. Deixou a disputa logo nas oitavas de final. No embalo, o Paraguai de Cheiraveia (quiero decir, Chilavet) também nessa fase da competição disse hasta la vista aos que permaneciam. O nada adepto do Fair play não teve chance de cuspir mais uma vez na feia cara de Roberto Carlos (o rei do petardo, não o da música) e voltou mais cedo para casa. Cuidar da própria carreira política era meta. Porém, pesado como estava de tanto papar frango, decerto teria mais sucesso disputando a gerência do Movimento Vigilantes do Peso, do que a presidência de seu país.
Nesse ritmo, um futuro promissor se descortinava para nós. Desde o Mundial anterior, a quinta estrela era reclamada por nossas camisas. E, com esmero e honra, arrumamos as malas dos súditos da Rainha. A propósito, que hino engraçado esse English team!: [...] Deus salve nossa graciosa rainha[...]. Se a Elisabeth em apreço é graciosa, vou candidatar minha octogenária avó a miss-mundo.
Lágrimas ainda banhavam as faces do baby face David Beckham, quando a Coreia (nos pênaltis) decretou o inferno astral de outro selecionado. Desta feita a vítima foi a Fúria, que, com razão, encheu-se ainda mais de ira. E com razão. Qual espanhol sangue de barata acataria de bom-grado a anulação de dois gols legítimos, sendo um na “Morte súbita”?
E neste ritmo nossas chances seguiam crescendo. Novamente enfrentamos os aguerridos turcos e mais uma vez o selecionado defendido pelo goleiro Rüstü (aquele das duas baratas abaixo dos olhos, ou seriam os dois tremas do próprio nome?) tomou peia...
Para quem acha pouco aqui vai outro golpe de sorte nosso. Depois de um apagadíssimo primeiro tempo, logo no início da segunda etapa, o Fenômeno, com “um bico a la Romário” — assim ele definiu sua salvadora obra — carimbou nosso ingresso para a final. Enfim, mais um tento do Ronaldão rumo à artilharia das Copas e à renovação do título de Melhor do Mundo. A propósito, se no intervalo da partida o teimoso Felipão foi convencido a mantê-lo em campo (que já nem era a sombra daquele que lhe rendeu a pecha de Fenômeno), o conselheiro não deve ter sido o barbeiro responsável pelo exótico penteado do craque. Senão, Nossa Senhora do Caravaggio.
Presente em todos os Mundiais (quatro títulos e dois vice-campeonatos) o Brasil finalmente enfrentaria, numa final de Copa, a temida Alemanha. E os germanos vinham credenciados a se igualarem a nós em conquista do caneco. Trazia também na bagagem, além da empáfia, a fama de vencedora. Sugestionado pela definição europeia: “Futebol é um esporte que todos jogam, mas no final os alemães vencem de 1 x 0”, levantei o histórico dos confrontos de nosso selecionado contra eles. A estatística me tranquilizou um pouco apontando friamente a deliciosa mania que eles têm de perder para nós. E isso, somado ao que ouvi do falastrão narrador oficial da Deusa platinada, inspirou-me a esta bairrista paródia: futebol do lado de cá do Atlântico é algo parecido com o que os alemães pensam que jogam, mas só o Brasil sabe jogar e vencer. Não deu outra. Mantivemos a escrita. Calamos o também boquirroto Oliver Kahn. Convertemos seu jeito pastor alemão de ser, em figura de cão sem pedegree e sem rumo. Nossos heróis deram a volta olímpica e o oportunista capitão Cafu fez história. No pedestal do palco da premiação, debaixo de linda chuva de papéis laminados picados e fogos de artifício, caídos da cobertura do estádio e aplausos dos companheiros, ele inspirou fundo, içou o troféu aos céus e a plenos pulmões declarou seu amor à consorte Regina. Sob a amarelinha a afirmação de 100% Vila Irene — comunidade em que nascera e se criara. Enfim, o único atleta do Planeta a participar de três finais seguidas do certame, acabava de marcar pontos com os telespectadores em geral. A mulherada então achou o máximo a aquela declaração de amor em rede mundial. Sem contar que igualmente orgulhosos e felizes ficam os companheiros de sua difícil juventude.  
O Felipão por sua vez, considerado por Dom Dieguito em momento de explícita dor de cotovelo, um aparecildo de alta linhagem, correu para galera. Um feito que o credenciou a desfilar, por onde bem entender, com uma melancia pendurada no pescoço sem ser discriminado. Uma conquista, um título que lhe dá o direito de expor sua figura como melhor lhe aprouver sem arder na chapa quente dos brasileiros. Afinal, qual brazuca que se preza não traz nas veias o verde-amarelismo que tanto mexe com a gente e nos orgulha em tempos de copa do mundo?


Bernivaldo Carneiro


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