segunda-feira, 21 de julho de 2014

Dialogando poemas



Dia desse, tornamos a nos encontrar na casa do amigo Bernivaldo Carneiro (no Eusébio), já quase um “monte Parnaso” dos Poetas de Quinta (risos). Alves de Aquino, dito “Poeta de Meia-Tigela”, voltou ao nosso convívio depois de quase dois anos virando mundo em busca de dulcineias. Na ocasião, entregou-nos um folheto com poemas dele e do poeta Jorge Furtado. Um dos poemas me chamou a atenção e tive logo vontade de escrever algo que dialogasse com ele. E o fiz na mesma tarde, assim que cheguei em casa (e complementei hoje). Assim nasceu “Édipo Declarado”, que ora compartilho com os amigos.
Tudo em tom de brincadeira, claro. Não se levam a sério veleidades poéticas (minhas) rsrs

Para Tigelalves, Poeta Aquilino.

Abraço do
Carlos Vaz


ÉDIPO ASSUMIDO
(O Poeta de Meia-Tigela)

As mulheres no mundo são em número
tal que só de pensar nisso enlouqueço
Deus bem sabe o pedaço que padeço
por desejá-las todas energúmeno           

Da primeira que amei minha mãe o útero
foi a coisa a que mais votei apreço                         
Eis por que sempre que posso me apresso
a voltar para lá meu lar meu númeno

            [entrementes
             eu me escondo
             eu me encontro
             entre ventres]

Eis por que busco estar em casa sempre
dormitando na fêmea no seu ventre          
à forma ou ao tamanho indiferente          
                                                                   
Ela tenha saúde ou beribéri                          
madura ou moça em flor sem sombra impúbere
importa é habitar seu vão seu úbere             



ÉDIPO DECLARADO
(Carlos Vazconcelos)

Saudade: eis porque busco estar em casa,
meu abrigo quente, refúgio, ventre.
E sofro tanto se fico ao relento,
na pior, tão só, tristonho, “na mão”.

Sentença rasa: “Quem casa quer casa!”
Não me falte o convite: “Ai, querido, entre,
vou dar-te alimento, alento e sustento.”
O abrigo tem quarto, cozinha e um vão.

[amiúde
é meu ninho
meu caminho
ataúde]

Ontem, minha mãe, primeiro endereço,
lar onde habitei, meu regaço e berço.
E hoje, insaciado, ainda apeteço

todas as mulheres, a fruta, o cheiro;
quero degustar é o pomar inteiro.
E termino assim: poeta, solteiro.


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