Copa 2014
= Fase de Grupos =
Embora tenhamos avançado para a fase
seguinte na confortável condição de líder do Grupo A, não tivemos vida fácil em
nenhuma das três partidas da etapa inicial deste certame. Depois do sofrido 3 x
1 contra a Croácia em que nossos atletas, por certo envergonhados com o fiasco da
solenidade de abertura pouco rederam, ficamos no empate sem abertura de
contagem com o México e vivemos momentos de sufoco na última partida. Os
camaroneses, mesmo não fazendo jus ao título de Leões Indomáveis, ainda nos aplicaram um grande susto ao empatar o
jogo quando ganhávamos pelo escore mínimo. Mas o nosso camisa 10 estava inspirado
naquele final tarde – princípio de noite. Na Arena batizada com o seu nome,
Mané Garrincha, “O Anjo das Pernas Tortas”, ou se assim preferem, o homem de
Pau Grande — distrito de Magé, RJ, decerto instigou o menino das pernas finas a
mostrar boa parte de seu rico repertório de jogadas. Já tendo sacudido o
barbante adversário aos 17 minutos, Neymar voltou a marcar ainda no primeiro
tempo. E assim, além de dar um pouco de tranquilidade às cores que defende, tornou-se
um dos artilheiros da competição. Mas, melhora mesmo só aconteceu no segundo
tempo a partir das alterações processadas pelo Técnico Luiz Felipe. Com mais um
gol de Fred e outro de Fernandinho (o substituto de Paulinho desde a volta do
vestiário), passamos a régua em 4 x 1. No mais...
Se “De onde não se
espera é que não vem mesmo”, a Fase de Grupos foi generosa em negar esse negativo
dito popular. Em meio às 15 seleções que passaram para as Oitavas de Final pelo
menos uma surpreendeu positivamente e três de forma negativa.
No chamado grupo da
morte (tendo como adversárias três seleções detentoras de sete dos 19 títulos já
disputados) os Costa-Riquenhos não perderam tempo em calar a boca daqueles que
apostavam como eles não fariam sequer um ponto. Fizeram logo seis nas duas
primeiras partidas e se classificaram com uma rodada de antecedência. Também trajando
azul, vermelho e branco, as cores do sucesso que hoje vestem cerca de 80% das
arenas brasileiras (os 20% restantes são tricolores de outras tonalidades), é bastante
fácil. Não tiveram o menor constrangimento em despachar a tetra-campeã Itália e
a campeã Inglaterra — que vez ou outra usa jaqueta em que prevalecem as cores alvinegras.
A Espanha, que logo
na primeira partida havia tomado um chocolate holandês de 5 x 1 (se pelo menos
fosse suíço, o melhor) também apanhou do Chile. E assim, antes de pegar o avião
de volta para casa (pelo que jogou deveriam retornar em lombos de saltitantes
cangurus) enfrentou a Austrália para juntas cumprirem tabela. Enfim, o temido “Bicho
Papão”, que, na tentativa de se apossar da denominação dos chilenos, chegara descartando
o epíteto de A Fúria foi um fragoroso
desastre. Os chilenos, no entanto, não abriram mão do batismo e de quebra mandaram
Iniesta e companhia mais cedo para casa. Pela primeira vez a última campeã do
mundo era eliminada logo na segunda partida da primeira fase. Um grande baque
para quem andava cheio de marra. Desde que aqui estiveram na Copa das
Confederações de 2013, como se o Brasil fosse Casa de Mãe Joana (tudo bem que o
seja, mas os deuses do futebol às vezes punem os soberbos) aprontaram nos
hotéis que os acolheram. E assim eliminados na Fase de Grupos antes de jogar a
terceira partida com apenas um gol marcado e sete sofridos, eu pergunto ao
técnico Oscar Del Bosque: em que bosque do mundo está escondido o futebol da
Fúria, que um dia pretendeu ser La Roja?
O Diego Costa, por exemplo, sergipano naturalizado espanhol, o que tomou de
vaia não está escrito em nenhum manual da FIFA. Enquanto isso Xabi Alonso era
só chave de perna nos adversários e Sérgio Ramos — com se tivesse apanhado um vento
encanado era o retrato da desorientação. Nenhum espanhol em campo acreditava no
que via e vivia.
A tetra-campeão do
mundo, a Itália de Mario Balotelli e outros, que perdeu para a Costa Rica e
Uruguai e só marcou três pontos contra a Inglaterra, foi outra vergonha. De
igual modo o selecionado português, de Cristiano Ronaldo. Mesmo com a presença
de Fábio Coentrão saiu mais destemperado que caldo de bilha. Até parece uma
maldição portuguesa: tendo em campo o melhor do mundo, os patrícios jamais passarão
da primeira fase de uma copa do mundo. Foi assim em 2002 com Figo, que sequer fez
um gol para tirar o dedo; agora com o CR7. Este, de dedo em riste na cara de quem
lhe atravessar o caminho, tendo marcado um único gol que até eu faria, teve
pouco tempo para se olhar nos telões das Arenas em que atuou, e antes gritar
“Eu estou a cá” teve que voltar para lá. Enfim, disse adeus a este país com um
aproveitamento inferior a 45% depois de sofrer uma sonora goleada de 4 x 0 da
Alemanha, um mero empate com os USA e uma magra vitória contra Gana.
Quem também não
mostrou lá essas coisas todas foram os argentinos de 16 copas. No apertado 2 x
1 contra a Bósnia-Herzegovina (que ainda marcou contra), o goleiro Romero tomou
um gol entre as pernas nascido de um fraco chute de Ibisevic. Como não sou de
desejar sucesso a Los Hermanos, não aconselho o guarda meta argentino pedir
bênçãos ao Padim Ciço ou a São Francisco. Que ele continue sem saber que
romeiro em terras tupiniquins não prospera sem uma boa romaria a Juazeiro do
Norte ou a Canindé. Depois vieram o magro 1 x 0 contra o Iran já nos acréscimos do segundo
tempo e o 3 x 2 com a Nigéria.
É de se ressaltar o
bom futebol apresentado por equipes sem tradição, ao tempo que, vendo a atuação
de alguns campeões mundiais nesta copa quase morro de saudade de meus melhores
dias de peladas suburbanas. Mas como a bola já rola há uma quinzena e eu ainda sigo
tratando o joelho (motivo de minha não convocação) sou forçado a reconhecer que
o turrão Scolari estava certo: realmente não havia tempo para eu me recuperar.
Bernivaldo
Carneiro — 26 de junho de2014
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