domingo, 13 de julho de 2014



Copa 2014
 = Fase de Grupos =

Embora tenhamos avançado para a fase seguinte na confortável condição de líder do Grupo A, não tivemos vida fácil em nenhuma das três partidas da etapa inicial deste certame. Depois do sofrido 3 x 1 contra a Croácia em que nossos atletas, por certo envergonhados com o fiasco da solenidade de abertura pouco rederam, ficamos no empate sem abertura de contagem com o México e vivemos momentos de sufoco na última partida. Os camaroneses, mesmo não fazendo jus ao título de Leões Indomáveis, ainda nos aplicaram um grande susto ao empatar o jogo quando ganhávamos pelo escore mínimo. Mas o nosso camisa 10 estava inspirado naquele final tarde – princípio de noite. Na Arena batizada com o seu nome, Mané Garrincha, “O Anjo das Pernas Tortas”, ou se assim preferem, o homem de Pau Grande — distrito de Magé, RJ, decerto instigou o menino das pernas finas a mostrar boa parte de seu rico repertório de jogadas. Já tendo sacudido o barbante adversário aos 17 minutos, Neymar voltou a marcar ainda no primeiro tempo. E assim, além de dar um pouco de tranquilidade às cores que defende, tornou-se um dos artilheiros da competição. Mas, melhora mesmo só aconteceu no segundo tempo a partir das alterações processadas pelo Técnico Luiz Felipe. Com mais um gol de Fred e outro de Fernandinho (o substituto de Paulinho desde a volta do vestiário), passamos a régua em 4 x 1. No mais...
Se “De onde não se espera é que não vem mesmo”, a Fase de Grupos foi generosa em negar esse negativo dito popular. Em meio às 15 seleções que passaram para as Oitavas de Final pelo menos uma surpreendeu positivamente e três de forma negativa.
No chamado grupo da morte (tendo como adversárias três seleções detentoras de sete dos 19 títulos já disputados) os Costa-Riquenhos não perderam tempo em calar a boca daqueles que apostavam como eles não fariam sequer um ponto. Fizeram logo seis nas duas primeiras partidas e se classificaram com uma rodada de antecedência. Também trajando azul, vermelho e branco, as cores do sucesso que hoje vestem cerca de 80% das arenas brasileiras (os 20% restantes são tricolores de outras tonalidades), é bastante fácil. Não tiveram o menor constrangimento em despachar a tetra-campeã Itália e a campeã Inglaterra — que vez ou outra usa jaqueta em que prevalecem as cores alvinegras.
A Espanha, que logo na primeira partida havia tomado um chocolate holandês de 5 x 1 (se pelo menos fosse suíço, o melhor) também apanhou do Chile. E assim, antes de pegar o avião de volta para casa (pelo que jogou deveriam retornar em lombos de saltitantes cangurus) enfrentou a Austrália para juntas cumprirem tabela. Enfim, o temido “Bicho Papão”, que, na tentativa de se apossar da denominação dos chilenos, chegara descartando o epíteto de A Fúria foi um fragoroso desastre. Os chilenos, no entanto, não abriram mão do batismo e de quebra mandaram Iniesta e companhia mais cedo para casa. Pela primeira vez a última campeã do mundo era eliminada logo na segunda partida da primeira fase. Um grande baque para quem andava cheio de marra. Desde que aqui estiveram na Copa das Confederações de 2013, como se o Brasil fosse Casa de Mãe Joana (tudo bem que o seja, mas os deuses do futebol às vezes punem os soberbos) aprontaram nos hotéis que os acolheram. E assim eliminados na Fase de Grupos antes de jogar a terceira partida com apenas um gol marcado e sete sofridos, eu pergunto ao técnico Oscar Del Bosque: em que bosque do mundo está escondido o futebol da Fúria, que um dia pretendeu ser La Roja? O Diego Costa, por exemplo, sergipano naturalizado espanhol, o que tomou de vaia não está escrito em nenhum manual da FIFA. Enquanto isso Xabi Alonso era só chave de perna nos adversários e Sérgio Ramos — com se tivesse apanhado um vento encanado era o retrato da desorientação. Nenhum espanhol em campo acreditava no que via e vivia.
A tetra-campeão do mundo, a Itália de Mario Balotelli e outros, que perdeu para a Costa Rica e Uruguai e só marcou três pontos contra a Inglaterra, foi outra vergonha. De igual modo o selecionado português, de Cristiano Ronaldo. Mesmo com a presença de Fábio Coentrão saiu mais destemperado que caldo de bilha. Até parece uma maldição portuguesa: tendo em campo o melhor do mundo, os patrícios jamais passarão da primeira fase de uma copa do mundo. Foi assim em 2002 com Figo, que sequer fez um gol para tirar o dedo; agora com o CR7. Este, de dedo em riste na cara de quem lhe atravessar o caminho, tendo marcado um único gol que até eu faria, teve pouco tempo para se olhar nos telões das Arenas em que atuou, e antes gritar “Eu estou a cá” teve que voltar para lá. Enfim, disse adeus a este país com um aproveitamento inferior a 45% depois de sofrer uma sonora goleada de 4 x 0 da Alemanha, um mero empate com os USA e uma magra vitória contra Gana.  
Quem também não mostrou lá essas coisas todas foram os argentinos de 16 copas. No apertado 2 x 1 contra a Bósnia-Herzegovina (que ainda marcou contra), o goleiro Romero tomou um gol entre as pernas nascido de um fraco chute de Ibisevic. Como não sou de desejar sucesso a Los Hermanos, não aconselho o guarda meta argentino pedir bênçãos ao Padim Ciço ou a São Francisco. Que ele continue sem saber que romeiro em terras tupiniquins não prospera sem uma boa romaria a Juazeiro do Norte ou a Canindé. Depois vieram o magro 1 x 0  contra o Iran já nos acréscimos do segundo tempo e o 3 x 2 com a Nigéria.
É de se ressaltar o bom futebol apresentado por equipes sem tradição, ao tempo que, vendo a atuação de alguns campeões mundiais nesta copa quase morro de saudade de meus melhores dias de peladas suburbanas. Mas como a bola já rola há uma quinzena e eu ainda sigo tratando o joelho (motivo de minha não convocação) sou forçado a reconhecer que o turrão Scolari estava certo: realmente não havia tempo para eu me recuperar.


Bernivaldo Carneiro — 26 de junho de2014

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