Coisas Engraçadas de Não se Rir XI: Mas nem Assim?
Seguramente a insegurança tomou-nos de assalto em tema banal. Vivemos num Rio de Janeiro, entretanto, nosso Cristo Redentor não traz mais uma cruz, esta foi depredada, restando em seu lugar um “T”, provavelmente, de “Também eu fui roubado!”.
O povo pede polícia, mais polícia, mas polícia não resolve o problema — às vezes, até o cria —, nem construir prisões para custear a vida ociosa que proporcionamos aos bandidos, antes vítimas e depois vitimadores. O que precisamos é de professores, mais professores, mais qualificações e melhores salários, além de investimentos certeiros e acertados em Educação, e não estou me referindo a atropelamentos, lançamento de balas de borracha ou spray de pimenta — que nos olhos dos outros é refresco! Esse investimento, sim, é criminoso.
O Governo, por meio de grande campanha, conseguiu levar as crianças de volta à escola, parabéns, mas não garante que elas conseguirão ser alfabetizadas mesmo quando concluem o Ensino Fundamental. Isso assegura que os alunos das escolas particulares, “estudantes profissionais”, continuem, aparentemente de forma democrática — como fosse possível supor como democracia um regime de injustiças sociais tão nocivo e irresponsável —, tomando as vagas dos melhores cursos das universidades públicas, enquanto que o sofrido estudante das escolas, também públicas, mesmo os mais empenhados, passem pelo dissabor de colecionar o fracasso pré-determinado de uma vida escolar e voltar às filas desesperançadas de crescentes senzalas sociais distribuídas a olhos fechados pelo egoísmo de uma cultura de “farinha pouca, meu pirão primeiro”, sabido que tal farinha, guardada a sete vezes sete chaves, é tomada e desperdiçada da forma mais vergonhosa, muitas vezes pelo próprio estudante privilegiado em noites em que sai para beber todas, estourar carros, roubar (por diversão), bater em prostitutas ou queimar os mendigos de rua.
Pergunto-me por que as universidades públicas não obrigam seus médicos, dentistas e advogados, assim como os demais profissionais formados em seus bancos com o dinheiro do povo — inclusive pela maioria que não os tem acesso —, a pagarem, obrigatoriamente e com justiça, após festejada e cara formatura, o investimento do Estado com o suor de seus serviços em equipamentos públicos.
Enquanto isso, os trabalhadores, oriundos das escolas desprivilegiadas, paradoxalmente, são obrigados — têm a esperança de melhoras de vida —, a fazer cursos noturnos em universidades particulares se endividando para pagá-las, porque, infelizmente, ainda têm que comer.
Certo mesmo é que as leis continuam sendo elaboradas e servindo apenas para o controle do pobre, em nome de uma igualdade desigual e de uma capa hipócrita e fantasiosa de respeito ao direito alheio que apenas ele, ou melhor, nós, devemos lembrar que existe.
Também os nossos representantes dos não-poderes, dentre eles juízes, vereadores, prefeitos, governadores, deputados, antes de ingressarem em suas funções públicas deveriam fazer um estágio probatório de um mês circulando em ônibus nessa cidade. Basta um mês. Ou eles desistiriam, ou humanizar-se-iam. O ônibus é a grande tribuna do cidadão. Vê-se e ouve-se de um tudo. Veja que é preciso ser um forte para encarar todos os dias tal monstrengo.
Meses-há, aconteceu algo inusitado na cidade. Havia um velório num bairro de periferia (hoje, em Fortaleza, tirante o shopping Iguatemi, o resto é periferia), quando dois homens invadiram a sala e foram logo tomando carteiras, celulares, terços (deviam ser católicos) dos velantes e, pasmem: os sapatos do morto! Ora, vejam que nem morrendo o coitado escapou da rotina do assalto. Mas, por outro lado, no resta o consolo: não mataram o defunto, pois que ele já se encontrava mortinho da silva e, por isso mesmo, como bem recomenda a preventiva inteligência policial, não reagiu! Cabe-nos saber, agora que o infeliz já tem cadastro no Céu, a quem compete o caso: à providência policial ou à Divina...
Raymundo Netto especial para O POVO
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