I. O CORAÇÃO NÃO SENTE
Abandono meus dias
na porta de um bairro distante
para que não voltem durante o sono
na distância erma
dos aterros de lixo
em algum lugar do monturo
ficarão
espasmos alegrias
cuspos da matina
e o urinol em nacos e limo
debaixo do tapete do mundo
e acima do teto da sensatez
ficarão
às cascas
enquanto com a barriga empurro
a mancha tóxica
coisa, como o corpo,
que alma sempre joga fora
II. OS OLHOS NÃO VÊEM
Desperdiço minhas promessas
aos ouvidos de uma turba inumerável
para que não me cobrem a palavra dada
na saliência profunda
das grutas turísticas
nas entrelinhas das pichações
serão lidas (sentidas)
ladainhas inúteis
sandices em tinta
e a fétida lembrança em coliformes e
manchas
sobre o cinzeiro do suicida
e na frente da retina escura da ignorância
ficarão
às remelas
enquanto empurro o bonde
protegendo a fronte
algo, tal palavra dita,
que a boca tola... sempre recicla.
(Frederico Régis e Antônio Ximenes)
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