quarta-feira, 15 de junho de 2011

I. O CORAÇÃO NÃO SENTE

Abandono meus dias
na porta de um bairro distante
para que não voltem durante o sono

na distância erma
dos aterros de lixo
em algum lugar do monturo
ficarão

espasmos alegrias
cuspos da matina
e o urinol em nacos e limo

debaixo do tapete do mundo
e acima do teto da sensatez
ficarão
às cascas
enquanto com a barriga empurro
a mancha tóxica

coisa, como o corpo,
que alma sempre joga fora


      II. OS OLHOS NÃO VÊEM

Desperdiço minhas promessas
aos ouvidos de uma turba inumerável
para que não me cobrem a palavra dada

na saliência profunda
das grutas turísticas
nas entrelinhas das pichações
serão lidas (sentidas)



ladainhas inúteis
sandices em tinta
e a fétida lembrança em coliformes e
manchas

sobre o cinzeiro do suicida
e na frente da retina escura da ignorância
ficarão
às remelas
enquanto empurro o bonde
protegendo a fronte

algo, tal palavra dita,
que a boca tola... sempre recicla.


(Frederico Régis e Antônio Ximenes)

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