terça-feira, 13 de março de 2012



Resenha sobre o Livro Devaneios, Delírios & Desamores, de Bernivaldo Carneiro

Por: Rosa Virgínia Carneiro de Castro
ALMECE – Academia de Letras dos Municípios do Estado do Ceará
Cadeira nº 69

“A palavra escrita é como uma pérola”. Goethe

Discurso em torno da singularidade Humana. Vivendo cada cena proposta no discurso, o autor escreve com a graça da alma tecida de mistérios, com o coração que carrega nas mãos o arco e a flecha para nos lembrar que o amor é lúdico, inocente, mas que também fere. Escreve com inteligência do ser ético, estético e epistemológico. A narrativa é multidimensionalmente conectada a cada passagem imediata de seus personagens.
De início a leitura nos faz lembrar a busca do fio condutor, o fio de Ariadne, pelas várias tramas que se apresentam formando/contando a história de vida de cada personagem. É difícil não estabelecer o paradigma do Labirinto, no caso sem Minotauro e sem Ariadne ser transformada em Constelação por Dionísio, porque Teseu a esqueceu na praia (uma das versões). Mas, vemos o Labirinto se construindo o autor segura a linha e os leitores vão andando, seguindo-o, sem procurar a saída, pois estão ali presos por vontade, curiosidade, empatia, seguirão a linha até o final.
O autor revela cada personalidade de cada indivíduo socializado como resultado de sua sociedade. Institui o Bem que é tudo que possui valor, preço e dignidade. E o Bem como moral que é objeto da ética.
O autor discorre um compreender/conceber da alma masculina e feminina numa existência fascinante de amor e paixão, de sutilezas e traições, insight do cotidiano, lealdade e alienação. Encontramos presente em sua narrativa o AMOR FATI, expressão usada por Nietzsche como fórmula para a grandeza do homem... Não só suportar o que é necessário, mas amá-lo. E ao pensar o corpo o autor nos faz lembrar D. H Lawrence, “O corpo como puro lugar de encontros ora alegres ora tristes”.
Vemos nas relações pessoais o valor da fragmentação, a incompletude e a vida criando laços profundos. Às vezes foge a personalidade para revigorar a imaginação.
Vemos sexo (é vida) e Eros (desejo e aspiração) estreitamente ligados convidando para sair e brincar, as atrações eróticas surgindo nos encontros.
O autor nos mostra a relação entre o capital e a vida. O que me reporta a Negri: “Quando trabalhamos nossa alma se cansa como um corpo, pois não há liberdade suficiente para a alma, assim como não há salário suficiente para o corpo.”
Continuando com Negri: “ao lado do poder, há sempre a potência”. Ao lado da dominação há sempre a insubordinação. E trata-se de cavar, de continuar a cavar, a partir do ponto mais baixo: este ponto... É simplesmente lá onde as pessoas sofrem, ali onde as linguagens e os sentidos estão mais separados de qualquer poder e onde, no entanto, ele existe, pois tudo isso é na vida e não a morte’’.
Temos no autor de Devaneios, Delírios & Desamores um escritor de vocabulário riquíssimo, expressivo e elegante. Claro, que contamos com um lado ora pornográfico, mas vendo-o como auxílio da sedução, da travessura, do animal adormecido, revelando um pouco de cada um de nós lá no mais escondido desejo profano dos que não têm coragem sequer de balbuciar ao parceiro(a) de cama os mais íntimos e ardentes pensamentos.
Assim, Bernivaldo Carneiro nos conta que é na paixão que toda a vida humana encontra sua unidade.
24 de novembro de 2011.

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