SUBÚRBIO
Carlos Nóbrega
Aos meus olhos a cidade é muito velha
e eles já têm guardado nas pálpebras o que está por vir:
São viciadas demais estas ruas nos meus passos . . .
Um burrico passará com sua cabeça baixa,
com sua angústia inconsciente de estar no tempo.
Passou. Passou ali na ruazinha perpendicular.
Uma mulher sacudirá uma toalha pela janela
na casa da esquina.
Sacudiu.
(Oh fugaz estandarte do país das cozinheiras!).
E os farelos de pão que estavam nela
como estrelas na bandeira do Brasil
foram compor constelações
na noite imóvel do asfalto.
Um pombo atravessará a rua pelas faixas de pedestre
(tão estranhas e retas
tão o contrário das faixas elípticas de seu voo!).
Pronto. E ele já comeu todas as estrelas do asfalto.
Agora já não tenho razão alguma para estar vivendo . . .
Mas um outro burrinho aparecerá
escangalhado,
exausto de tudo isso.
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