sexta-feira, 26 de novembro de 2010



Carta a um Amigo
Amigo, outra vez preciso de você. Recentemente um amigo viajou de nós. Muito amado, a sua ausência é dor coletiva. Para os que desfrutavam de sua amizade, ele era união e respeito. Peço-lhe, Amigo, que o acolha ao Seu lado. Será fácil identificá-lo entre os recentes moradores: ele é moreno, de poucos cabelos grisalhos, sorriso espaçoso, saudável, brincalhão e cheio de carisma. Conduz ternura no olhar e bondade nos gestos. Por certo, como sempre fez a vida toda, Você irá encontrá-lo dando conselhos, ajudando a todos os que necessitam de seus préstimos. Quando localizá-lo sei que gostará dele porque a dedicação à família, o amor ao trabalho, a lealdade em seus relacionamentos sociais são características que Você, Amigo, também cultiva. 

Eu o conheci no inicio da década de oitenta. A presença dele, silenciosa e iluminada, me presenteava uma consciência da contemplação de um belo pôr-de-sol. E nunca o esqueci. Recentemente li o livro Caminhos de Mandela, onde o biografado Nelson Mandela afirma: “Uma pessoa só se torna uma pessoa ao lado de outras pessoas”. E quantas pessoas se tornaram pessoas ao lado dele! Pessoas o procuravam, conduzidas pela ácida angústia, pelo desespero da solidão, na certeza de que ele era a solução de algum problema que elas não poderiam resolver. E ele resolvia. E resolvia humanamente. Eu testemunhei vários desses admiráveis momentos da sua vida afetuosa. Ele tinha consciência de que os seres humanos não somos independentes, mas interdependentes. Que ninguém é uma ilha. Quando uma pessoa pedia-lhe um favor, uma ajuda, uma presença humana ele sublimava essa interdependência com um desmedido sim, porque sabia que naquele momento o complemento que faltava na vida dessa pessoa era ele. Existe felicidade maior quando sofremos uma necessidade que não podemos resolver e outra pessoa a soluciona como se estivesse agindo para si mesmo? Eu contemplei variadas fraternidades dele em que a esperança de uma pessoa necessitada não saía decepcionada, porque ele sempre foi honesto com os princípios de fazer o bem.

Amigo, o mundo espiritual acaba de receber um hóspede ilustre. Todos irão amá-lo como foi amado entre nós, porque ele amou muito. E temos certeza absoluta que nessa nova morada ele não decepcionará.

Maçom exemplar durante décadas, a Loja Maçônica Liberdade e Justiça nº 16, a que ele pertencia, fez-lhe homenagens merecidas. A mais expressiva foi a criação da Comenda Francisco Carlos Mourão. Eu, na qualidade de afilhado maçônico dele, li Os Estatutos do Homem, do poeta Thiago de Mello, na certeza de que toda beleza poética desses Estatutos tem alinhamentos psicológicos com as atitudes em vida desse nosso amigo. É retrato moral dele o 1º Artigo que determina: “Fica decretado que agora vale a verdade, agora vale a vida, e de mãos dadas, marcharemos todos pela vida verdadeira”. Essa foi minha homenagem em nome da literatura, da poesia tão bem representada por esse imortal poeta amazonense.

Amigo Deus, outro pedido Lhe faço. Quando esse nosso amigo for reencarnado em uma nova missão de vida aqui na terra, envie-o novamente para a cidade de Crateús, onde ele viveu digna, honesta e compartilhadamente com seus semelhantes. Mesmo em outro corpo, mas com as mesmas virtudes de quem foi batizado com o nome de Francisco Carlos Mourão.

Na certeza de que esse pedido será atendido, agradeço de coração.

Silas Falcão
        

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