quinta-feira, 25 de novembro de 2010

                                                                  
              


O desfile

Por Silas Falcão
Do livro Por quem Somos?

Domingo. Missa na igreja lotada de rezas. Os olhares inundados de Deus crucifixam-se no padre celebrando a ato litúrgico.

De repente, uma colorida multidão de vozes cantantes interrompe a homilia da venda de Deus aos fiéis. O padre, mais petrificado e pálido que o tampo do mármore do altar-mor, para a missa. O coro de reprovação é mais forte que a imagem de Cristo na cruz. Alguns fiéis apressadamente benzem-se incrédulos. Outros arrancam rezas automatizadas, santificando a moral e o bom costume. Vários atribuem ao que vem a ação do capeta mata-Deus.

A igreja é coberta pelo véu do pecado, da blasfêmia, do ultraje à Virgem Maria.

É o apocalipse! Sentenciam os devotos por instinto.

Mas não é o que dizem esses puritanos de superfície enquanto na igreja. Nada de pecados. Ultraje à moralidade religiosa. Blasfêmia aos mandamentos divinos. Bem menos o apocalipse.

Os que condenam as evoluções da escola de samba soberbamente ornada de plumas, paetês e mulatas seminuas são os mesmos que a aplaudiram nos desfiles deste ultimo carnaval.

E agora ela desfila nas passarelas da igreja ao som ensurdecedor da bateria, agradecendo a Deus a conquista de mais um titulo de campeã.

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