terça-feira, 30 de novembro de 2010

                "O Circo Azul" (1950), de Marc Chagall (1887-1985)

Something
Poeta de Meia Tigela

Mais que forma, invólucro,
mais que crosta, carne,
pele, toque, tato,
lacre, simulacro,
algo: que escapole,
que escorrega, escorre,
que transpassa, foge
à definição;
que se mostra aos olhos,
embora invisível.
Mais que coxas firmes,
que a curva dos seios,
a cheia das ancas,
o dentro da gruta,
um jeito: de andar,
de piscar os olhos,
de morder os lábios,
de sorrir com as mãos,
meneio sem par,
gênero de si.
Gesto ou sugestão
de; palavra ou menos:
voz cava, inaudita,
vagido, brahmido,
soluço contido,
grunhido, suspiro,
gemido melífluo;
linfa, sopro fluido,
inaçambarcável;
tudo ou nada disso.
Não figura e massa,
mas essência e alma.
Não só roupa rala,
antes polpa e halo.
Não rosto nem máscara,
sim, o íntimo xacra.
Não o entorno, o vago,
porém o imo, o âmago.
Casca, casco e tal,
sobrenada, o tao.
Ela emana um élan
manifesto além
do corpo em que está;
Ela exala vida,
seiva delicada
consubstanciada
ve- e revelada;
ubíqua, sutil,
evade-se, invade-me.
Ela surrealiza-me.

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