quinta-feira, 25 de novembro de 2010

                                      Desperdício Público

Por Bernivaldo Carneiro
Geólogo-Sanitarista/ Escritor
                                                                                                                  
PESADOS os prós e os contras as súplicas do remorso recomendam-me jogar para escanteio o saudosismo, sempre inclinado ao silêncio. E sem ter a presunção e o poder da sentença, eu pergunto: ante as suas dívidas sociais (que não são poucas) nossa “Fortaleza Bela” comportaria uma Praça de Futebol a lhe sugar os cofres, se já contamos com o monumental Castelão?

Salvo melhor juízo a resposta é não! Ou, qual outra cidade brasileira similar ou superior à Fortaleza em termos de poder aquisitivo de seus povos e arrecadações de seus cofres, tem e mantém dois Templos Futebolísticos da envergadura de um Castelão e de um PV? As capitais, Paulista, Carioca e das Alterosas só possuem um Estádio Público. Porto Alegre e Recife não têm nenhum. A propósito desta, de olho na rivalidade que há entre nós, as comichões da curiosidade exigem-me indagar: o que muniu, com tanta substância e presteza, a alma de nossa Prefeita (a quem ajudei eleger duas vezes) para acatar tal obra? Para não sentir náuseas de mim mesmo eu diria que vejo nisso um implícito desejo de nos sublevar aos pernambucanos. Uma vez que os jogos de maior expressão aqui disputados (alguns das Sérias A, B, C e D do Brasileirão, Copa do Brasil e Campeonato Cearense) nem de longe ocupam por inteiro esses dois Estádios. E a inoperância, o ócio, o tempo morto destes significam manutenção a expensas do pobre Erário; enquanto que para pelejas de público reduzido temos, aqui na Região Metropolitana, os Estádios de nossos principais Times.

“Mas o PV será imprescindível à Copa de 2014” – dirão alguns. Não é bem assim, digo eu plasmado na ciência de que a maioria dos campos que serviram aos treinos em mundiais anteriores era de porte inferior a estes.

Por fim, sem contar que isentaria o município de despesas com salários e gratificações de cargos a serviço de sua operação e manutenção, somente os R$ 52 milhões da obra do PV dariam para construir 3.500 casas populares. Ou seja, acomodação para 14.000 almas, que somadas a quase outro tanto que poderia advir da negociação do terreno onde se assenta este Estádio; garantiriam moradia digna para cerca de dez, Granjeiro, Baixio, Pacujá etc. Além do mais se economizaria com entradas hospitalares, medicamentos e perdas de receita por absenteísmo (consequências naturais de condições insalubres do meio) bem como: menores seriam, a prostituição infantil e o número de crianças mendigando e assaltando nas ruas de nossa Capital.

Divulgado na Coluna Opinião do Diário do Nordeste de 15.08.2010.

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